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Muitos indagam como são construídas as edificações, tecidas as roupas e engendradas as sementes que dão vida à vegetação no mundo espiritual. Pois bem, sabemos que o elemento básico de toda a criação é o fluido cósmico, princípio elementar que preside todas as modificações da matéria (gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade), assim como seus movimentos vibratórios (som, calor e luz).

Sabemos, outrossim, que as modificações desse fluido podem assumir graus de imponderabilidade ou ponderabilidade, observando o comando mental das criaturas que, por força do pensamento individual ou coletivo, imprimem nesse elemento plástico o produto de sua intimidade.

Esse verdadeiro processo de “estamparia” dá-se, sempre, por comparação, de modo que os criadores dão vida às suas construções tendo como base a própria natureza (moral e intelectual). É ela (natureza) que será o parâmetro para a comparação e manipulação das partes mais sutis ou mais grosseiras do fluido cósmico. A regra vale, igualmente, para a formação e depuração do corpo espiritual.

Por isso, vemos várias citações nas obras de Emmanuel e André Luiz, dentre outras, descrevendo abismos grosseiros e habitações de luminosidade exuberante, Espíritos cintilantes e entidades enegrecidas, cada grupo representando a comparação da própria essência em interação com o fluido cósmico criador, exercendo o sagrado direito de escolha que nos é conferido a todos pela Lei de Deus.

E apesar de fluídica, em nossa ótica material acanhada, toda a criação no mundo espiritual tem para os Espíritos uma existência tão apreciável, quanto tem a matéria que nos impressiona os sentidos de encarnados.

Mas importa esclarecer que, em matéria de construção do cenário espiritual, grande parte dos Espíritos são incapazes de criar, dentre outros motivos por desconhecimento de que podem fazê-lo. Então, por atração, filiam-se aos grupos com os quais manifestam maiores afinidades, colaborando automaticamente com os seus fluidos, não só na criação como também na manutenção dos sítios a que se ligam em razão da sua essência.

Seriam como os serventes da edificação que, ao transportarem o tijolo ou a cal não têm a mínima ideia do projeto idealizado pelo arquiteto.

Assim é que, na qualidade de arquitetos, engenheiros, mestres de obras ou serventes, os Espíritos estão sempre em interação com a criação espiritual, manipulando voluntariamente os fluidos, ou sendo manipulados por inteligências que lhes são superiores, observado o fato de que todos guardam uma certa afinidade de objetivos.

Todos contribuem sempre, direta ou indiretamente, deliberada ou inconscientemente, para a produção de uma parte do todo, segundo a sintonia em que se encontram e que pode ser resumida no seguinte esquema: captação do fluido cósmico → comando da mente → fixação ao elemento fluídico captado dos desejos/preocupações/interesses dos Espíritos → formação da matéria mental → projeção da matéria mental no mesmo fluido cósmico que, além de substrato é também veículo de propagação das partículas mentais, assim como o ar é veículo de transmissão do som → criação.

E se a regra vale para espíritas e espiritualistas, que veem na erraticidade um espaço de refazimento para novos desafios a serem enfrentados nas futuras oportunidades reencarnatórias, vale também para os adeptos das igrejas reformadas, os simpatizantes do catolicismo e de outras religiões e seitas que, igualmente, participam das criações coletivas dos seus afins, alocando-se em seus respectivos sítios de fé.

É nesse sentido que colhemos a preleção de Manoel Philomeno de Miranda, através de Divaldo Pereira Franco, na obra, Loucura e Obsessão (cap. 3): “Como a morte não muda ninguém, sabemos que aqueles que conviviam com determinados cultos a que se afervoraram ou cujas práticas temiam mais do que respeitavam, ante a desencarnação não alteraram a forma íntima de ser, permanecendo vinculados aos atavismos que lhes dizem respeito. Católicos, protestantes e outros religiosos, após a morte, não se tornam espiritistas ou conhecedores da realidade ultratumular; ao revés, dão curso aos seus credos, reunindo-se em grupos e igrejas afins.”

E quanto mais convicção o adepto demonstrar nos fundamentos filosóficos de sua crença, mais participação ele terá no processo de criação dos cenários correspondentes ao seu credo, enquanto aqueles outros menos convictos, por conseguinte, hão de participar com parcela menor na mesma criação, dada a diferença da frequência mental observada entre os grupos. Poderíamos denominar os primeiros como adeptos de profundidade e os segundos como adeptos de superfície, sem que isso importe em crítica, desmerecimento ou desqualificação da fé alheia. Se o Espírito pauta as suas atividades pelos valores da ética cristã, não há porque desqualificar o contexto em que se encontra, mesmo que em distorção da realidade espiritual.

Mas o fato é que os recebemos com muita frequência, dando-lhes voz nas sessões mediúnicas. Os adeptos de superfície são de mais fácil trato, apesar de comumente manifestarem estranheza e resistência ante as informações preliminares. Alguns têm a natural reação de negação, outros apenas escutam, um número mais reduzido afirma que já andava desconfiado. É um grande desafio se antepor às criações edificadas com base nas convicções mais honestas. Como a frustração é perceptível, como o silêncio de alguns segundos grita o desconforto daqueles que veem ruir a própria criação. Mas mesmo em situações como essas a beleza do amor se robustece e os Espíritos, a princípio aturdidos, se enchem de alegria ao perceber a aproximação de alguém da sua fé. A figura de um religioso conhecido lhes reanima e a apreensão se converte em sorriso. Logo pedem licença para os devidos esclarecimentos e saem felizes, deixando em todos os presentes, além do suave odor do contentamento, a convicção de que Deus se socorre dos soldados disponíveis, sem lhes indagar sobre a cor das suas fardas.

Os adeptos de profundidade oferecem muito mais resistência, como não poderia deixar de ser. Fazem jorrar argumentos repetitivos e frases feitas colhidas nas assembleias das crenças respectivas. Pouco refletem, pouco interagem e sistematicamente recusam-se às observações mais simples que poderiam lhes propiciar o movimento de compreensão. Alguns se apresentam dormindo, literalmente, no aguardo do juízo e do julgamento de Deus. São trazidos para o necessário choque anímico, preparatório do despertamento e das etapas posteriores ao próprio processo de evolução, porque não é da Lei o repouso inoperante, máxime considerando-se todas as nossas deficiências e necessidades.

Outros dessa mesma ordem, se apresentam em estado de verdadeira penúria mental. Na criação da qual são partícipes, imaginam-se retornando ao mesmo corpo físico morto e enterrado há décadas, por algumas vezes há séculos. Querem ressurgir no mesmo tempo e condições do passado, também para o julgamento de Deus, e funcionam mentalmente em regime de pensamento único, manifestando-se em movimentos repetitivos, que são transmitidos ao corpo do médium, o próprio enfraquecimento mental.

Há, finalmente, porque o espaço não nos permite alongar o assunto, os que se apresentam trajando coroa e cetro, vestidos em veludo adornado em ouro, carregados em liteiras e secundados por um séquito de serviçais, soldados e juristas. Ameaçam com a instauração do santo ofício, considerando a atividade espiritual como blasfêmia e feitiçaria, e com isso revelam que as suas mentes remanescem cristalizadas na manutenção de cenários vivenciados há três ou quatro séculos.

Quanto há de belas criações no mundo espiritual, e quanto ainda encontramos de dor, ignorância e sofrimento que as próprias criaturas inadvertidamente criam a si mesmas.

Por essas razões, considerando que os dias passam a galope para todos e que mais dia, menos dia, estaremos de retorno à dimensão espiritual, busquemos em nossa essência, no conjunto dos pensamentos e dos sentimentos que nos são usuais, a que correntes estamos nos filiando, que moradas estamos erigindo ao nosso abrigo e, sobretudo, quais vizinhos estamos convocando ao convívio da nossa intimidade, por sintonia, empatia ou afinidade na cocriação do porvir.

 

Cleyton

 

 

 

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