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Estando Jesus atado ao madeiro, no monte denominado Gólgota, também conhecido como Lugar da Caveira, foi diversas vezes insultado e provocado, seja pelos soldados romanos que faziam cumprir as ordens superiores de execução de uma sentença de morte, seja por sacerdotes e escribas, que se regozijavam diante da cena que consumava seus projetos de eliminação do temido adversário político e religioso. Uns e outros diziam: se és filho de Deus, desce da cruz; se és Rei de Israel, desça agora da cruz e creremos; confiou em Deus, dizendo-se Seu filho, que Ele o salve, agora (Mateus 27:42 e Marcos 15:32).

Enquanto eles riam e faziam gestos de deboche, Jesus, insensível às provocações, pousava sobre eles Seu olhar compassivo e resignado, fitando-os sem ressentimento. O Espírito Ramatis, em sua obra “O Sublime Peregrino” é quem melhor reproduz a imensa ternura do Cristo ante esses provocadores insensatos: “novamente o seu olhar claro e expressivo, repleto de poderoso magnetismo angélico, então resplandeceu num fulgor majestoso, envolvendo aqueles seres tenebrosos num banho purificador e balsâmico, que os fez estremecer tocados pelo remorso e os fez silenciar”. Por fim, pronunciou a conhecida frase: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. (Lucas, 23:24). Nada mais disse.

Segundo a visão estreita dos incrédulos, ali estava um homem anunciado como sendo o Salvador, que não se salvara. Conhecido como o Filho de Deus, profeticamente diferenciado, havia sido esquecido pelo Pai. Em suma, equiparado na hora derradeira a um mistificador, apesar de seus incontestáveis feitos envolvendo curas de males físicos e espirituais.

Para aqueles que Nele creram e Lhe deram seu voto de confiança, na esperança de que sendo o Rei dos Judeus e o Salvador Prometido os libertaria de Roma, vê-Lo vencido de forma ultrajante, açoitado e crucificado ao lado de dois meliantes era mesmo uma enorme decepção. Para as autoridades romanas, que chegaram a temer Seu sucesso político, Ele não passava de um judeu rebelde que merecia os castigos que a final Lhe foram impingidos.

Mas atrás da descrença e da decepção, reinava uma pitada de esperança de que a qualquer momento um espetáculo milagroso poderia ocorrer. Aguardaram, até o último instante que Jesus desceria da Cruz, se voltasse contra os soldados, sacerdotes e escribas e tomasse o poder dos romanos, para demonstrar sua força extraterrena, extraordinária, compatível com a de um líder, principalmente porque se tratava de um Ungido de Deus, tudo em cumprimento a uma profecia cujo sentido não conseguiram entender.

Antes, como hoje, muitos são os discípulos que aguardam por um milagre, por um acontecimento extraordinário em suas vidas, como se deu com Paulo de Tarso que teve a visão do Mestre quando a caminho de Damasco, para só então passarem a crer.

Mas, para quem logrou despertar seu conhecimento sobre a proposta de Jesus frente à Humanidade, o entendimento é bem diferente.

Sabe-se que, se num instante o Seu corpo material pendia torturado, vilipendiado, supliciado, sangrando, deixando uma sensação de perda extrema na orla dos sentidos, simultaneamente tudo se fazia luz no entorno espiritual ante a vitória plena de um Espírito Sublime em missão divina no planeta Terra, a quem o Senhor da Vida confiara desde sempre a governança. Com efeito, Jesus veio a este mundo exemplificar o poder da vida sobre a morte; morreu em corpo físico para que todos vissem como se morre; ressuscitou em Espírito, para que todos vissem como se ressuscita.

O epílogo de sua existência terrena não foi a agonia no Calvário. Foram suas aparições a Madalena, aos peregrinos e apóstolos. Seu legado está na mensagem divina que marcou a divisão dos tempos entre a era de sombras e a entrega de Luz à Humanidade, ao implantar o alicerce sobre o qual se edifica a grande transformação planetária, ora em curso. Por isso que o cristianismo é a religião da vida, em oposição às religiões de morte.

Desenganadamente, os homens permanecem prisioneiros dos interesses imediatistas ante as necessidades do corpo físico, ou dos parâmetros político-sociais, descuidados de que o pão que sacia para sempre a fome é o do espírito.

Por isso que, ainda hoje, até os crédulos são surdos para os ensinamentos e cegos para os benefícios advindos do amor inesgotável de Jesus.

Não nos é lícito esperar a ocorrência de fato exterior, nem tenhamos a audácia de sermos merecedores de um fenômeno especial como aquele que despertou a consciência do Apóstolo Paulo, que nos altere o entendimento, para só então derrubarmos o muro que nos impede de ver e ouvir o quanto de verdade há nos ensinamentos do Cristo.

O despertamento é obra individual que depende de trabalho intenso, pessoal e intransferível. Ninguém implantará a fé em outrem, da mesma forma que não se pode transformar o bruto em criatura amorável, sem que seu campo sentimental esteja devidamente preparado.

De resto, não nos enganemos com as facilidades do mundo, porque elas não nos darão glória futura, nem nos curvemos aos que nos contrariam os propósitos espirituais, porque estes, somente estes, serão compensadores. Saibamos renunciar aos interesses pessoais, para nossa completa ressureição, firmes no exemplo do Cristo de Deus.

 

Marcus Vinicius

 

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