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“Conta-se que há muitos milênios havia uma aldeia de lavradores, uma região de homens muito fortes e heróis, onde certa vez foi proposto um concurso para se apurar dentre todos qual deles era o mais forte. O concurso consistia em derrubar árvores. Chegava o primeiro homem forte e derrubava uma árvore; chegava o segundo e, com as duas mãos, derrubava duas árvores; o terceiro derrubava três árvores com apenas um golpe.

Terminada a exibição, surgiu uma dúvida: quem seria o julgador no concurso. Decidiram então que seria o líder da aldeia, um ancião sábio, simples e de cabelos brancos. E a pergunta foi apresentada: “qual de nós é o mais forte?” O ancião, calmamente, respondeu: “não tem como saber. Na verdade, a competição começa agora”. Assim, o sábio se aproximou de uma árvore e quebrou um pequeno galho, entregou a eles e disse: “aquele que conseguir recolocar o galho na árvore e fazer esse galho florir é o mais forte, porque destruir é fácil, o difícil é construir”. Para se destruir não é exigido qualquer talento, na construção, entretanto, o talento é fundamental”.(1)

Leitor amigo, este conto na sua expressão literal, nos parece uma história absurda, afinal, todos sabemos que não é possível recolocar na árvore o galho partido e fazê-lo florir.

Para que o relato possa trazer luz ao nosso entendimento é preciso interpretá-lo no seu sentido subjetivo. Dar às palavras o significado moral que elas contêm, mas que se acha oculto. É a isso que o título “A letra mata (não revela o verdadeiro sentido) e o espírito vivifica (desvela o que está encoberto) se refere.

Considerando-se, pois, que o símbolo árvore representa o Ser humano, a força física pode derrubá-lo, destruí-lo, até. Mas, a força do conhecimento, da sabedoria, da moral, pode elevá-lo, nas construções do bem.

Recolocar um galho partido de volta à sua origem e fazê-lo florir, não será possível se a proposta for examinada sob a ótica objetiva (letra). Todavia, no sentido espiritual o enfoque passa a ser outro, e tudo fica mais claro. Jesus, na Parábola do Filho Pródigo demonstra isso quando diz que aquele filho que se desgarrou (galho cortado da árvore) do Pai (Deus) a Ele voltou, arrependido, e passou a trabalhar na Sua seara de amor (mundo), florescendo e frutificando.

Refletindo, ainda, sobre a história relatada, observamos que para o velho sábio não interessava a força material, mas a espiritual, estruturada nas bases sólidas do conhecimento. Por isso a frase: destruir é fácil, o difícil é construir. Aliás, a essência mesma desse conto está implícita nessa frase. Ela representa o poder que tem o bem sobre o mal, embora este último possa parecer sempre o vencedor, nas grandes disputas humanas.

Ainda estamos longe de perceber o quanto isso é verdade, uma vez que à nossa volta nos deparamos com a destruição, sob todos os seus aspectos, em larga escala, propagando-se por toda parte, sem freio, e invadindo todos os setores de vida na Terra.

A nossa visão ainda é estreita e limitada para abranger a riqueza de detalhes que compõem a evolução das criaturas. Pudéssemos abarcar a paisagem como um todo, na sua infinita extensão nos dois planos de vida, teríamos um outro olhar sobre o mal e o bem existentes na Terra.

Creio que a Parábola do Joio e do Trigo, ensinada por Jesus, pode facilitar nossa compreensão e despertar nossos potenciais para atuarmos, ainda que enfrentando dificuldades, na luta árdua pela implantação do bem.

O Evangelho nos diz que um homem semeou boa semente (trigo) em seu campo, mas, à noite, um seu inimigo semeou má semente (joio) no meio do trigo.

Quando o trigo germinou, apareceu também o joio. Foi então, que os servidores daquele homem se prontificaram em arrancá-lo (destruição), livrando o campo da má semente.

O dono das terras, porém, não permitiu, alegando que ao retirar o joio, poderiam desenraizar também, o trigo. Era necessário que crescessem juntos (bem e mal) até o tempo da ceifa, e quando esse tempo chegasse, então sim, poderiam recolher primeiro o joio juntando-o em molhos, para queimá-lo. Quanto ao trigo, deveriam reuni-lo em seu celeiro.

Jesus, ao dizer que era preciso deixar o joio e o trigo crescerem juntos, exprime, simbolicamente, a tolerância divina em relação às experiências humanas.

Deus nos faculta o livre-arbítrio para decidirmos o rumo que vamos tomar.

Se, simplesmente esmagasse o mal infiltrado em nosso coração, eliminaria nossa iniciativa e nos tornaria incapazes de distinguir o certo e o errado e de assumir as consequências de nossas ações.

Quando surge o joio representado pelo mau uso do livre-arbítrio, Deus usa as bênçãos do tempo para trabalhar nosso coração com preciosos estímulos em favor de uma mudança de rumo, favorecendo o crescimento do trigo; por exemplo, indivíduo mergulhado no vício que desperta para a responsabilidade em contato com a religião.

Embora a inesgotável paciência de Deus, chega a ceifa (prazo para florir e frutificar), quando o joio deve ser separado do trigo. E esse tempo, caro leitor, é chegado.

Não obstante o mal ainda vigore, está prestes a ser abolido do solo terreno e transferido para locais de depuração, ao passo que o bem dará ao campo do Semeador das Leis Divinas, frutos representados pela boa conduta, pensamentos corretos, sentimentos adequados.

Sempre haverá joio entre o trigo para que a Lei de cooperação se estabeleça entre os homens, na tentativa de trazer de volta à árvore, o galho partido. Aquele que realizar tal façanha será o vencedor, segundo o critério daquele velho sábio, juiz da competição.

 

Yvone

 

Bibliografia:

(1) Extraído da obra de Haroldo Dutra Dias “O Sermão do Monte – cap. 11

 

 

 

 

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