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Logo após o fenômeno da transfiguração de Jesus, ocorrido no monte Tabor, desceram Ele e os apóstolos Pedro, Tiago e João para onde se encontrava o povo. Notando a presença de Jesus, a multidão acercou-se Dele.

Nesse comenos aproximou-se um homem que, ajoelhando-se a Seus pés, disse-Lhe: “Mestre, eu te trouxe meu filho que está possesso de um Espírito mudo, o qual, todas as vezes que dele se apodera, o atira ao chão e o menino espuma, range os dentes e fica seco; pedi a teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam”, ao que o Mestre observou: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?” Dito isso, determinou que Lhe trouxessem a criança. Em Sua presença, o Espírito dominador agitou violentamente o infante, atirando-o ao chão.

A cena evangélica, contida em Marcos, 9:24, Mateus, 17, 14-20 e Lucas 9, 37-43, prossegue com este rápido diálogo:

Pai – Se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.

Jesus – Se podes! Tudo é possível ao que crê.

Pai (em lágrimas) – Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé.

A ocorrência revela um autêntico paradoxo da fé. Contradição para quem, afirmando-se confiante, reconhece hesitar.

Tudo é possível ao que crê, disse Jesus. Crer na possibilidade de manipulação das energias magnéticas e espirituais com fins terapêuticos; crer na receptividade desses elementos e em sua eficácia; crer que a força íntima (vontade firme) merecerá a recompensa. Este o modo de crer de quem é dotado de religiosidade, independentemente da religião que professe.

É a fé que pode até mover montanhas, no sentido figurado, consistente na confiança absoluta, sem a mais ligeira dúvida, sem vacilações. Trata-se de virtude difícil de se definir e quase incompreensível para nós, caminheiros da retaguarda, que

acreditamos seja ela um atributo reservado aos Espíritos superiores. Mas saibamos, não se trata de uma virtude mística.

Qual o tamanho de nossa Fé?

Acreditamos em Deus, em Sua Justiça, amor e misericórdia. Mas ante um desgosto qualquer, vacilamos, desanimamos, sentimo-nos desamparados, na orfandade. Pedimos soluções rápidas para questões que dependem mais de nossa ação, determinação e vontade.

Na maioria das vezes nem sabemos proferir uma prece, limitando-nos a reproduzir sem qualquer sentimento orações preparadas. Oramos em meio a um turbilhão de energias densas, produzidas pelas dores morais ou físicas que pretendemos afastar de imediato, por não lhes aceitar a natureza profilática. Esperamos que Deus esteja de plantão 24 horas por dias para resolver nossos problemas que foram criados por nós mesmos. Espíritos incorrigíveis, que muitas vezes correm atrás de soluções que estão a seu alcance. Comodistas à espera de milagres que não existem.

Esta é, lamentavelmente, a condição comum da Humanidade, bem observada por Emmanuel em Pão Nosso – 123, ao sintetizar: “Em tal movimento de insegurança espiritual, sem paradoxo, as criaturas humanas creem e descreem, confiando hoje e desfalecendo amanhã”.

O pai do jovem possesso esperou longos anos até que a solução viesse de fora. Pediu ajuda aos discípulos, que não estavam preparados para esse tipo de atendimento, justamente porque sua fé não era sublimada como a de Jesus. Quando O encontrou frente a frente, acreditou Nele, mas não se sentiu merecedor da graça. Humildemente, reconheceu essa sua fraqueza.

Criaturas há que buscam Deus através de homens falíveis e, tanto que constatem a falha destes, perdem sua crença. Isso ocorre justamente porque a fé estava concentrada em elemento material corruptível, igualmente frágil, quando o foco deve ser a misericórdia e o amor divinos que, inteligentemente assimilados e transportados para nosso íntimo, abrem canais para acesso às regiões luminosas.

Exemplo de fé é aquele deixado pela mulher hemorroíssa que, após sofrer por doze anos, acreditou fielmente poder obter a cura se tocasse as vestes de Jesus. Foi o que fez em meio à multidão

que O comprimia, logrando cura imediata. Sensível a esse toque, quis saber quem seria seu autor, ao que os discípulos ponderaram que no meio daquela multidão não se poderia identifica-lo. Insatisfeito com a resposta, Jesus continuou procurando em torno, até que a mulher se apresentou confessando o que havia feito. Jesus então lhe disse: “Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz e fica curada da tua enfermidade” (Marcos, V, 25-34).

Trata-se de irradiação normal das energias do Cristo, que a doente atraiu através de seu desejo ardente. Esse desejo implica numa FORÇA ATRATIVA que faz a diferença. Enquanto uns permanecem inertes, paralisando a atuação das energias, outros as atraem por sua fé. Assim se justifica em parte porque, em havendo duas pessoas doentes diante de um mesmo provedor de energias curadoras, uma delas é atendida e outra não, pelo menos no mesmo momento. Também não se pode desconsiderar a circunstância do merecimento e do tempo do atendimento às súplicas, porquanto a dor de hoje sempre tem sua causa e se reveste de natureza profilática, purificadora, lapidadora do Espírito, devendo estagiar mais tempo numa pessoa do que noutra.

Paralelamente, há quem acredite nos trabalhos desenvolvidos numa Casa Espírita e aguardam resultados imediatos, Mas se eles não ocorrem com a presteza esperada, abandonam o tratamento, ignorando que lhe poderia estar faltando o merecimento adequado ou esteja o próprio assistido opondo um bloqueio qualquer aos fluidos que lhes são destinados. Mais uma vez, a fé vacilante em ação!

O capítulo em estudo encerra com mais uma preciosa lição: quando chegaram em casa, ao cabo da experiência acima relatada, os discípulos indagaram em particular a Jesus por que não puderam eles expulsar o Espírito obsessor, ao que Ele respondeu que esse tipo de entidade não pode sair senão por meio de oração e jejum. O jejum não significa passar privação alimentar. Implica na abstenção de pensamentos culposos, inúteis, frívolos; na sobriedade quanto às necessidades materiais, na conservação da sinceridade e na modéstia, na regularidade dos costumes, na austeridade do proceder.

Fortaleçamos a nossa fé no bem, na solução possível das questões afligentes, disciplinando nosso querer,

participando ativamente na convergência de energias psíquicas e persistindo nos tratamentos disponíveis para o equilíbrio da alma, como forma de combater a claudicância. Afora isso, não se deve descurar do acompanhamento indicado pela Ciência Médica, recordando que a cura de tudo é possível ao que crê.

Marcus Vinicius

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