Em Roma antiga, por volta do ano 324 da Era Cristã, Constantino havia conquistado toda a região ocidental do Império, tornando-se o Imperador do Ocidente, enquanto Licínio, seu cunhado, governava o Oriente. Logo se percebeu que essa dupla não poderia dividir o Império, conquanto o projeto de vida de ambos, traçado na erraticidade fosse no sentido de auxílio mútuo, ante a ganância e disputa pelo poder. Bastou um episódio familiar, em que Licínio agrediu a esposa Constância, irmã de Constantino, para que fosse deflagrada a guerra, conquanto o pretexto fosse a defesa do território contra a invasão dos sármatas. Logrando-se vencedor, graças a sua estratégia, admitiu abrigar o cunhado e a irmã. Mas, temendo represália do desafeto vencido, encomendou seu extermínio. Depois disso, outros desmandos veio a cometer, dentre os quais o homicídio do próprio filho e da esposa, comprometendo os nobres propósitos dessa encarnação para a qual se programara.
Egresso de Capela, da constelação do Cocheiro ([i]), Constantino tinha por missão auxiliar na propagação do Cristianismo. Com o poder que lhe fora confiado, deveria fortalecer o bem e a verdade, para fazer expandir a luz do Evangelho sobre a Terra. Chegou mesmo a interferir na Igreja mas o fez de forma equivocada, mediante Éditos que consolidaram dogmas manifestamente dissonantes da Doutrina do Cristo, após rejeitar tese mais racional defendida por um presbítero de nome Ário o qual, reencarnado por volta dos anos 1.400, chamando-se John Wyclif, tornou-se teólogo e despontou como reformador dos princípios adotados pela Igreja oficial, dando continuidade à sua insurgência. Jan Huss, foi fortemente influenciado por suas obras, passando a divulgar essas bases da reforma que, a final, foram albergadas por Martinho Lutero.
Desencarnado, Licínio consorciou-se com entidades perversas e passou a executar todo o tipo de ação destinada a cumprir seu projeto de vingança contra Constantino.
Certo é que ambos não souberam utilizar a força do poder. Cederam aos apelos da personalidade, ao egocentrismo e ao endeusamento de si mesmos e se comprometeram com entidades espirituais de baixo padrão vibratório. Toda a programação reencarnatória de Espíritos lúcidos, aparentemente preparados, findou numa teia tecida por mentes doentias e vibrações negativas de milhares de almas cujos corpos foram dizimados em confrontos diretos nas batalhas sangrentas, a céu aberto, implicando em processo obsessivo múltiplo de enredo coletivo, projetando resgates futuros em ambos os aspectos, afora o vínculo psíquico nutrido pelo ódio a imantar os dois personagens centrais dessa trama histórica reproduzida em forma de romance na obra “Jornada dos Anjos”.
Este é um exemplo extraído do passado, que se amolda ao presente e serve como elemento de reflexão em torno da lentidão com que a Humanidade dá cumprimento à Lei de Progresso. Não obstante o planejamento da Espiritualidade Maior, sempre sob a supervisão do Divino Mestre, governador planetário que faz cumprir os desígnios do Criador; apesar da arregimentação de entidades mais evoluídas destinadas a alavancar o progresso moral, padecemos a procrastinação da transição planetária, por absoluta ausência de preparo do Ser Humano, seja na posição de mandatário de uma nação, seja ocupante de função subalterna. Campeia a ignorância sobre os compromissos da existência presente e sobre a vida futura; o materialismo impera; o desamor domina.
Descabido delegar a culpa aos Espíritos endurecidos, negacionistas do Evangelho, da soberania moral do Cristo e da causa Espírita, porque se essas falanges chegam a exercer influência mental no mundo físico, é porque entre eles e nós existe uma interação, compartilhamento de aspirações e desejos. Segundo uma conferência dada por Isabel de Aragão no plano astral ([ii]), precisamos, antes de tudo, reconhecer que guardamos “elos com as ações da maldade organizada, conquanto isso não signifique impotência para escolher os caminhos da direção do bem e da luz”; que “o mal é um efeito dessa interação interdimensional”; e que “não existirá regeneração sem renovação do submundo astral no qual estão plantadas as raízes da maldade, que alonga seus frutos indigestos como uma hera sobre a face do orbe”.
Independentemente de qualquer circunstância, o bem haverá de triunfar. As criaturas serão evangelizadas, cristianizadas, todos conhecerão a verdade e se libertarão de suas mazelas individuais, em benefício do coletivo. Uma questão de tempo. Mas, enquanto não despertarmos desse sono profundo que nos entorpece, o progresso dar-se-á a passos curtos, na medida em que a solução para os problemas espirituais e seus reflexos continuará a ser adiada para época incerta. Passa-se uma existência corrigindo erros do passado, ajustando contas e persistindo em enganos, em desvios, comprometendo a felicidade que almejamos, consabido que temos poder sobre nossos destinos, ao mesmo tempo em que somos responsáveis pela construção do mundo, influenciando pessoas, exemplificando, modificando.
Por isso, o clarim permanece ativo, a cada amanhecer, repetindo a ordem de Paulo aos Efésios (5:14): DESPERTA, Ó TU QUE DORMES! LEVANTA-TE DENTRE OS MORTOS E O CRISTO TE ILUMINARÁ, como a incitar-nos a abandonar os maus hábitos, e passar a selecionar o que seja compatível com os ensinamentos do Senhor; a andar prudentemente, não mais como os néscios, mas como sábios, amando como Jesus nos amou, evitando mentiras, torpezas, imundícies, avareza. Precisamos iluminar nossas mentes, qualificar os sentimentos, abrir os olhos para a vida Espiritual, conquanto prisioneiros temporários do envoltório denso, aproveitando desta experiência vasta oportunidade de crescimento espiritual. Sair da inércia, da dormência, para alcançar patamar adequado a fim de entender aos esclarecimentos do Cristo. Preferentemente, fazer isso com prioridade.
De resto, observemos recente advertência do irmão espiritual Lucius: “O tempo é curto. É imprescindível estarmos prontos e disponíveis para fazer o trabalho que se apresenta diante de nós. Não percamos momentos preciosos correndo atrás de ilusões efêmeras, que não nos levarão a nada. Acordemos do longo e pesado sono que nos entorpece os sentidos e, principalmente, a percepção espiritual, dificultando nossa compreensão do que é verdadeiro e perene”. ([iii])
Acordados que estejamos, ponhamo-nos imediatamente de pé, alertas e prontos.
Marcus Vinicius
[i] Aos que não conhecem a origem referida, recomendamos a leitura de EXILADOS POR AMOR – autoria do Espírito Lucius – Vivaluz Editora e EXILADOS DE CAPELA, de Edgard Armond – Editora Aliança.
[ii] OS DRAGÕES – pelo Espírito de Maria Modesto Cravo – psicografia de Wanderley Soares de Oliveira – Editora Dufaux – pag. 119.
[iii] JORNADA DOS ANJOS – pelo Espírito Lucius, psicografia de Sandra Carneiro – Vivaluz Editora – Prefácio do autor espiritual.