Líder é a pessoa que exerce influência sobre um grupo de indivíduos, com o objetivo de alcançar metas e objetivos específicos. Há diferentes espécies de líderes: o autoritário, que toma decisões sem consultar o grupo; o democrático, que decide por consenso; o liberal, que delega poder aos outros, dentre outras variações. Independentemente do estilo de liderança, essa posição é costumeiramente servida por subordinados.
Em meio a uma discussão entre os apóstolos sobre quem seria o “maior”, encontramos nos evangelhos de Mateus e de Marcos um ensinamento fundamental de Jesus, que desafiou essa visão tradicional de grandeza e liderança, e que ainda é percebida em muitos contextos atuais.
Disse o Mestre: “Todo aquele que quiser entre vós tornar-se grande, que seja vosso serviçal. E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, que seja vosso servo”. Em outras palavras, Jesus afirmou que a verdadeira grandeza não está em exercer poder sobre os outros, mas em servir humildemente. Esse modelo de liderança proposto pelo Cristo é aparentemente contraditório. Como poderia um servidor se tornar líder?
Para entender a mensagem que o querido Rabi desejava transmitir, façamos uma analogia entre uma rede de pesca e a Humanidade: imaginemos uma rede bem construída, onde cada fio é habilmente entrelaçado com os demais, formando um conjunto coeso e resistente. Agora, transponhamos essa imagem para a sociedade humana, onde cada pessoa representa um nó dessa rede. A ideia é que, quando um nó da rede é elevado, arrasta consigo os outros que o cercam, erguendo a todos ao redor. Para que isso aconteça, é necessário haver “nós” resilientes, dotados de espírito de serviço e interesse pelo próximo, de modo que tenham a iniciativa de estender as mãos a quem está ao seu redor, puxando a todos “para cima” através do serviço fraterno e, por consequência, fortalecendo a sua comunidade.
Agora, imagine o que aconteceria com essa rede de pesca se alguns de seus nós estivessem desgastados ou rompidos. Quando eles se elevassem, não contribuiriam para erguer os demais. Da mesma forma, quando alguém em posição de liderança não assume a postura de servo, auxiliando os outros a crescer, ocorre o aumento das desigualdades nessa comunidade e, por conseguinte, o seu enfraquecimento.
Agora, tomemos o exemplo dado por Jesus: chamado de Mestre, foi o maior servo de todos. Não possuía bens materiais, cuidava dos necessitados, ensinava com amor, não julgava, era tolerante com as imperfeições de seus discípulos e os acolhia. Ele não buscava reconhecimento ou privilégios, mas colocava-se na posição de servidor para cuidar e auxiliar os doentes do corpo e da alma. Seu status de líder não provinha de alguma nomeação, dominação ou assédio. Foi Seu exemplo de conduta que Lhe conferiu a autoridade moral para ser reconhecido por todos, até os dias de hoje, como líder.
A liderança advém da inspiração que o servidor gera naqueles que o cercam, conquistando voluntários para auxiliá-lo em sua obra. Seguindo essa lógica, o verdadeiro líder não tem subordinados, mas fiéis seguidores, que acreditam nos seus sinceros propósitos. Portanto, percebemos que é o serviço útil e benéfico a todos, que elege o trabalhador à condição de líder, e não o contrário.
O Mestre subverteu a concepção tradicional de liderança, que muitas vezes se baseia na busca por poder, status e riqueza pessoal, propondo um modelo de liderança que transforma o mundo e promove melhorias para todos os que estão ao redor. Esse estilo de liderança é sólido, pois tem origem na confiança conquistada através de atitudes, e pode ser utilizada em todos os setores das nossas vidas.
De alguma forma, todos nós somos ou seremos líderes em nossas vidas: os pais lideram aos filhos; os irmãos mais velhos são exemplos para os mais novos; no trabalho, somos servidores que crescem à medida em que tomamos a iniciativa de promover mudanças benéficas; também podemos ser líderes no esporte ou entre amigos. No entanto, a pergunta mais importante é: que tipo de líder somos? Questione-se: minha liderança promove efetivamente o bem? O quanto me importo com a qualidade de vida de quem me cerca? Coloco a minha inteligência, conhecimento e capacidade de trabalho (também) a serviço do crescimento do meu próximo? Forneço a quem me segue condições de realizar um bom trabalho? As pessoas gostam de me seguir ou me seguem por obrigação?
Os ensinamentos de Jesus sobre liderança e serviço nos desafiam a abandonar a busca desenfreada por poder e sucesso pessoal, a competição com os outros e a ambição egoísta. Ele nos convidou a cultivar uma liderança que se fundamenta no amor ao próximo e no serviço altruísta, reconhecendo que cada indivíduo desempenha um papel importante para fortalecer cada nó na rede que um dia elevará toda a Humanidade. Então, entenderemos que a verdadeira recompensa não está em ser servido ou no reconhecimento externo, mas na felicidade de auxiliar, de ser útil e promover o bem.
Se, em alguma medida, sentimo-nos mais capazes do que os nossos semelhantes, é porque recebemos bênçãos de Deus que nos capacitam a auxiliá-Lo na execução da Sua obra. Façamos a nossa parte!
Lila