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“Uma voz ecoa no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas; encher-se-á todo o vale e abater-se-ão todos os montes e outeiros; tornar-se-á reto o que é tortuoso, e o que é escabroso se fará caminho plano; e todo homem verá a salvação de Deus”. (Lc 3,5 ss)

 

É difícil ao homem profano limitar-se a ser uma voz..

E ainda uma voz a clamar no deserto – sem eco.

O homem profano quer ser mais, quer logo ver frutos palpáveis do seu trabalho, quer ser aplaudido, admirado, glorificado.

Uma voz anônima, a clamar na solidão do êrmo, sem fazer propaganda do seu dono – ah! isto não agrada ao mundo…

O homem egoísta é interesseiro, serve-se da sua voz, da sua missão, como de fogo de artifício para iluminar o próprio ego.

Toda a pirotecnia das vaidades e vanglórias bruxuleia em torno do analfabeto da espiritualidade.

O homem desinteressado e espiritual desaparece por detrás da sua obra – como um eco no espaço que não revela os lábios que o produziram.

João, esse segundo Moisés, esse grande arauto do Messias, aparece como engenheiro de Deus: para encher os vales do desânimo, para abater as montanhas do orgulho, para endireitar os caminhos tortos da hipocrisia, para aplainar as veredas ásperas do materialismo profano.

Cumprida sua missão, em vésperas da vitória do reino messiânico, desaparece o abnegado herói, extingue-se essa voz sob o gládio homicida de Herodes, nas tenebrosas profundezas do cárcere de Maqueronte.

Assim vivem, assim morrem os heróis…

Vivem para Deus e para o próximo – e por isso não morrem para o céu e para a posteridade…

 

Huberto Rhoden in “Em Espírito e Verdade”

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