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O fogo é um dos meios através do qual se testa a resistência de um produto.

No âmbito espiritual, o teste de fogo representa o maior desafio a ser enfrentado para a conquista de padrões superiores. Cuida-se de autêntica forma de aferição a respeito dos graus de responsabilidade e de moralidade, enfim, de espiritualidade.

O apóstolo Paulo adverte que “o fogo provará qual a obra de cada um” (I Corintios, 3:13), no sentido de edificação pessoal, ao que Pedro acrescenta: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (4:12).

Para melhor situarmos onde este fogo atua, recordemos preciosa lição do Dr. Bezerra de Menezes ([i]) a propósito de ser o corpo físico o esmeril essencial à lapidação do brilhante bruto ao qual ele compara o Espírito atrasado. Embora o Espirito possa progredir no mundo invisível, há progresso que só pode ser realizado em trato com a matéria, que atua como esmeril porque, ao mesmo tempo em que o arrasta naturalmente à satisfação de desejos impuros, obriga-o à resistência, exsurgindo a luta em proveito da evolução. Eis aí o atrito da simbologia.

Em prosseguimento, desenvolve ele uma brilhante reflexão acerca das provas pelas quais passa o Espírito encarnado em seus variados lances, no correr de sua vida, enfrentando o que ele denomina de DUPLO ARRASTAMENTO em sentidos opostos, com as seguintes nuances ([ii]): os sentimentos do passado constituem natureza velha, que o arrasta para a trilha seguida na existência plena de atos condenáveis. O propósito de emendar-se constitui a natureza nova, arrastando-o para a regeneração. Tem ele, invariavelmente, a visão do bem e do mal.

O mal que destilamos nos remete ao estágio da animalidade e deixa um gosto amargo do triste retrato espiritual em que nos encontramos. Chega-se, contudo, inexoravelmente, a um grau em que a mudança implica em sacrifício maior para emancipação da sombra que nos acompanha. É quando desponta a necessidade imperiosa da renovação transformadora do homem velho em homem novo.

Considerando as circunstâncias, isto é, tanto que o Espírito tenha entendimento a respeito, assume a possibilidade e com ela a responsabilidade de escolher a prova de fogo que lhe será mais proveitosa.

É quando reconhece a necessidade do sofrimento purificador. Anseia pelo sacrifício que redime. Compreende a dificuldade e aceita de bom grado a oportunidade da “porta estreita”.

Contudo, reconquistando a oportunidade da existência terrestre, volta a procurar as “portas largas” por onde transitam as multidões.

Por isso, muitas Espíritos retornam reprovados na prova de fogo, como acontece com os equipamentos industriais refugados nos testes de resistência.

É imprescindível entendermos a oportunidade justa da reencarnação e das duras penas que nos desafiam para não a deixar passar, sabido que o primeiro controle de qualidade é feito por nós mesmos, através da consciência.

Com frequência, Espíritos de bem, a quem foram dadas preciosas oportunidades de resgate de pendências acumuladas, numa decisão infeliz no curso da existência, abandonam a empreitada, retornando ao Mundo Espiritual com novos débitos, retardando o programa evolutivo. Geralmente são os que se apegam demasiadamente a coisas materiais e, quando as perdem, caem no abismo de si mesmo. Outros, diante da dor, renunciam à vida física, agravando a situação. Sequer observam os exemplos vivos no sentido de que quanto mais méritos o Espírito adquire, maiores são as provas finais.

Novo plano haverá de ser organizado, porque assim age a Providência Divina. Mas o recomeço é mais penoso, qual o aluno reprovado que dividirá a classe com os mais novos, enquanto os de sua idade avançaram.

É necessário preparo, é preciso amealhar virtudes para passar pelas provas mais difíceis. Emmanuel ([iii]) aponta o caminho a ser seguido, ou seja, cada qual deve organizar suas próprias realizações, de conformidade com os recursos evolutivos amealhados, lapidando o caráter, o amor, a fé, a paciência e a esperança, preparando-se para o momento de verificação das próprias possibilidades, quando então serão postas a prova suas qualidades espirituais.

A respeito do momento na vida presente em que se deve dar essa transformação, recordemos a palavra do Divino Mestre: “A luz ainda está convosco por um pouco de tempo; andai enquanto tendes luz, para que as trevas vos não apanhem. E quem anda nas trevas não sabe para onde vai”. (João, 12:35). Significa dizer que devemos aproveitar a sagrada oportunidade da reencarnação, na qual ingressamos provisoriamente esquecidos do passado comprometedor e, enquanto a luz brilhar em nosso caminho nesse novo dia, façamos dele o melhor que pudermos para que ela permaneça conosco.

O tempo dessa prova vai do berço ao túmulo. Não há espaço para negligência ou desculpismo. O Ser espiritual sabe bem disso, embora ordinariamente rejeite a intuição. Trata-se de uma simples questão de despertamento, para o qual os Instrutores Espirituais inspiram e induzem, constantemente.

Enfim, nada acontece de extraordinário em nossas existências, nem deve ser motivo de estranheza, conforme deixou claro o Príncipe dos Apóstolos, porquanto o fogo ardente por ele referido obedece a uma programação evolutiva irrenunciável.

Por tudo isso, façamos o possível para edificar nossa Casa Espiritual, porque a qualquer momento sua estrutura será posta à prova, seja na infância, na adolescência, na maturidade ou na velhice, e dela saiamos vencedores.

 

Marcus Vinicius

 

[i] A LOUCURA SOB NOVO PRISMA – FEB – 1997, págs. 83 e 84- Menezes, Bezerra de.

[ii] Idem, pág. 86.

[iii] PÃO NOSSO –ditado pelo Espírito Emmanuel – psicografia de Francisco Cândido Xavier – FEB 21ª edição. Cap. 18.

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