Amanhecera o dia em festa de luz e cor.
Os discípulos seguiam, a fim de estarem com o Mestre.
No burgo, em movimento, eles foram surpreendidos com um acontecimento inusitado.
Um homem, cercado pela multidão, curava enfermos em nome do Mestre.
Tomados de justo zelo, avançaram na direção do impostor atrevido e rechaçaram-no, dispersando o aglomerado curioso.
Sentiam-se vitoriosos.
Anotavam que a revolução se iniciara e os primeiros combates foram, por eles, levados com êxito. […] O Mestre necessitava saber.
Quando defrontaram o Rabi estavam esfogueados, bulhentos, ansiosos.
O Amigo, como sempre, recebeu-os com calma, envolvendo-os com um olhar tranquilizador.
Por um momento sentiram-se desnudados e acanharam-se. Passou-lhes pela mente a ideia do silêncio.
Um deles, porém, emocionado narrou:
“Quando vínhamos para cá, encontramos um homem que curava em teu nome, Senhor…”
Houve uma pausa natural, de efeito.
Jesus prosseguiu impassível, fitando-o.
“… E como não era dos nossos – concluiu, entusiasmado, eufórico – , nós o proibimos e dispersamos a turba.”
O Mestre denotou tristeza na face amena e calma.
“Tenho-vos ensinado o amor – enunciou, suavemente, porém, em tom de reprimenda – , demonstrando que somos todos irmãos, filhos de um único Pai, a fim de que nos ajudemos. No entanto, teimais por separar-nos. Fizestes muito mal em proibi-lo. Se curava em meu nome, é dos nossos, porque aquele que não está contra é a favor, quem não separa, ajunta.”
“Se ele apelasse para o Espírito do mal, não faria o bem, porque a noite não propicia a claridade, nem a doença faculta saúde. É indispensável somar esforços, reunir valores, amparar as tendências positivas.”
Ante a decepção que abateu os companheiros precipitados, Jesus prosseguiu:
“[…] Toda a Terra é o proscênio para a Mensagem e todas as criaturas são ovelhas do mesmo rebanho.”
Amélia Rodrigues in “Roteiro de Libertação” – Divaldo P.Franco01