Ao longo do tempo, temos presenciado uma Humanidade cada vez mais incrédula, questionando os assuntos que não compreende, sem sequer se debruçar sobre as fontes de conhecimento disponíveis. Não raro, restringe sua existência terrena aos apelos imediatistas, ignorando o que a aguarda no futuro e sequer pesando sua origem.
Já esclarecia Allan Kardec, em A Gênese[[1]], referindo-se aos primeiros seres que habitaram a Terra, que o homem primitivo restringia sua percepção do Universo e do planeta em que vivia, apenas com os seus sentidos, ignorando as leis da Física e as forças da Natureza.
Hoje, a valorização material e o desprovimento de qualquer vivência prática na religiosidade contribuem para um estado semelhante de ignorância dos valores morais. Fazem com que as pessoas sejam capazes de registrar uma catástrofe em vídeo, mas não movam energia para resgatar as vidas ali envolvidas. Chegam a exibir sua imagem ao lado de ídolos de grande abrangência midiática, sem analisar que conteúdo traz essa liderança para a Humanidade.
Basicamente, parece faltar aos que adotam posturas imediatistas e superficiais o mais simples conhecimento sobre sua origem e trajetória. Faltam-lhes compreender que fazem parte da mesma energia que criou o Universo, deu origem à nossa galáxia e à Terra. Desconhecem os princípios da evolução humana tão bem esclarecidos pela Doutrina Espírita e, ao mesmo tempo, recusam-se a estudá-los. Questionam o recurso de oblívio utilizado em processo reencarnatório, que nos libera a tela mental dos conhecimentos existentes no plano espiritual, como se achassem justo fornecer um gabarito prévio ao estudante em exames. Ignoram a oportunidade de aproveitar todas as condições de aprendizado na Terra – enquanto mundo de expiação e provas – para ajustar os erros de vidas passadas, enfrentar provas e validar sua jornada. Os caminhos já estão traçados e os ensinamentos de Jesus, cristalinos para que se possa segui-los.
Dando sequência aos ensinamentos de Moisés e ao Novo Testamento que Jesus nos proporcionou, o Espiritismo veio revelar a existência do mundo invisível, oferecendo conhecimento sobre a diversidade desses mundos habitados[[2]]. Apontou para a finitude da matéria e a concretude da evolução espiritual e reiterou que Ciência e Religião são os alicerces da inteligência humana.
A oportunidade dada ao homem que reencarna é especial, pois além de ter a chance de cumprir as metas do seu plano encarnatório, não retrograda se não obtém 100% de êxito. Os créditos obtidos serão acrescidos para uma nova oportunidade. Portanto, a escola terrena está preparada para fornecer-lhe uma recuperação adequada, respeitando seu tempo, suas limitações e deficiências.
Essa evolução se dá conforme a compreensão de cada Ser e, principalmente, a capacidade de assimilar e praticar os conhecimentos cristãos. O apóstolo Paulo, em uma única existência, substituiu a amarga trajetória de combate ao Cristo, em abnegado defensor de Suas ideias, tornando-se, ele próprio, um exemplo de humildade e resignação. Francisco de Assis, após uma juventude de riqueza e de princípios mundanos, tornou-se frade católico, dedicado aos menos favorecidos, abdicando de toda a riqueza de origem.
Muitos líderes religiosos contemporâneos exemplificam essa dedicação cristã, dedicando-se aos menos favorecidos: Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e Chico Xavier são alguns exemplos. Longe estamos de tais conquistas se compararmos essas existências com nossas vidas, mas nem por isso devemos nos sentir inabilitados a atingi-las.
Os primeiros rabiscos do desenho precedem às grandes obras de arte. As primeiras notas musicais estimulam aquele que se extasia com belas melodias. A oração que brota de um coração sincero pode ser coadjuvante essencial na recuperação clínica do paciente. Assim é que devemos nos preparar para fazer aquilo que nos cabe, lembrando que o desapego material foi a principal lição que Jesus nos ensinou para que pudéssemos trilhar o progresso moral, amando-nos uns aos outros.
O Evangelho Segundo o Espiritismo[[3]], em seu capítulo I, fala dessa evolução moral, posto que, sobre a Terra, “a cada um sua missão, a cada um seu trabalho”. Longe de orgulhar-se pelo que sabe, “diante dos estreitos limites do mundo em que habita”[[4]], o homem deve aproveitar suas aptidões, praticando o bem ao próximo e colocando-se a serviço de Deus. Mais que isso: empregá-las adequadamente, evitando o orgulho e o egoísmo que comprometem a Lei do Progresso[[5]].
Aproveitemos todas as lições dadas nesta escola da vida, difundindo os conhecimentos proporcionados pela Boa Nova no tempo que nos é concedido. A perspectiva de termos a Terra, em breve, como mundo de regeneração, mostra-nos que o aprendizado se acelera e exige mais de nós. Que possamos cumprir o relógio divino com a consciência de que, sem conhecimento, não há evolução.
Vanda Mendonça
[[1]] A Gênese, 53ª edição, cap. V , 1
[[2]] O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap, III, item 3 – 79ª impressão, pag. 37
[[3]] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora IDE (Instituto de Difusão Espírita), cap I, Instruções dos Espíritos (78ª reimpressão, Pag 30)
[[4]] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora IDE (Instituto de Difusão Espírita), cap VII, Missão do Homem Inteligente na Terra (78ª reimpressão, Pag 85)
[[5]] O Livro dos Espíritos, 61ª reimpressão, cap.VIII, questão 785, pag.246