O mundo aguarda ansiosamente por uma vacina que previna o Ser Humano contra o Coronavírus, causador da pandemia que tomou forma e corpo ao longo deste ano, levando a óbito milhões de criaturas ou deixando sequelas graves em outras tantas. A corrida científica nos bastidores dos laboratórios agita microscópios, tubos de ensaio, computadores, equipamentos sofisticados, num frenesi incomum para esta geração. Episódios semelhantes ocorreram. Guardadas as proporções quanto ao conhecimento humano, merece ser lembrado, diante de sua amplitude e relevância, aquele do século XIV, entre os anos 1346 e 1352 quando se combateu a peste negra, também conhecida pelo nome de peste bubônica, que assolou a Europa, eliminando 1/3 de sua população.
Como atesta o cientista americano Francis Collins: “o esforço coordenado para desenvolver e testar diagnósticos, tratamentos e vacinas para covid-19 tem sido feito com uma velocidade realmente sem precedentes…”.([i]) Segundo ele, a concentração é de tal magnitude que implicou na desaceleração de todas as demais pesquisas ditas não urgentes para outras doenças como câncer, moléstias cardíacas e Alzheimer.
A Ciência faz sua parte, visando assegurar ao homem-matéria maior longevidade e melhor qualidade de vida. Mas é certo que tudo isso converge primacialmente para a saúde de corpos físicos propensos às doenças, ou fragilizados em virtude delas, relegando a segundo plano a cura do Espírito.
Os Instrutores Espirituais a postos entram em ação para transmitir aos encarnados os recursos científicos adrede desenvolvidos no Espaço, de onde eles emanam pela força inesgotável do amor de Jesus, nosso mestre e Salvador. Algumas vezes esse procedimento socorrista demora mais do que se espera, mas também esse tempo percorrido faz parte do Plano Maior na aferição das condições espirituais das civilizações envolvidas. Outras vezes, essa demanda tem a ver com a dificuldade de sintonia dos lidadores na microbiologia com os seus correspondentes espirituais da mesma área. Questões normais que envolvem os Seres em regime evolutivo.
Seja como for, a aflição individual e coletiva, quando em meio a esses tormentos é inenarrável e sem padrão definido. Cada qual somatiza a seu modo, vencendo ou sendo vencido. Algo mereceria ser repensado.
Precisaria conceber-se um agente preventivo eficaz para todos esses males do presente e os que viessem de futuro e que de sobra fosse igualmente eficiente para neutralizar os seus efeitos. Com certeza seria uma vacina multi-imunogênica, válida e disponível para todos, em qualquer faixa etária, de qualquer etnia e condição social.
Equação impossível de ser resolvida; planejamento utópico, dirão em eco os mais apressados.
Contudo, essa vacina salvadora existe há mais de dois mil anos, mas a Humanidade não se deu conta de sua eficácia até os dias de hoje. Foi concebida por um humilde nazareno, que se revelou sublime em sua rápida peregrinação neste meio físico. Deixou insculpido para sempre em nossa memória – reconhecidamente preguiçosa – que a salvação está em nós mesmos, porque somos criaturas espirituais imortais, dotadas de todos os elementos da Criação e capazes, por isso mesmo, de vencer a todos os desafios. Ofereceu-nos a água límpida da fonte inesgotável da virtude e do saber, purificada na origem pela luz divina, representada no diálogo mantido com a samaritana que se encontrava junto ao poço na cidade chamada Sicar, região de Samaria (João, IV, 5-29): “Se você soubesse o que Deus pode dar e quem é que está lhe pedindo água, você pediria, e Ele lhe daria a água da vida…”; “…quem beber desta água (do poço) terá sede de novo. Mas a pessoa que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede. Porque a água que eu lhe der se tornará nela uma fonte de água que dará vida eterna.” Afirmou, vezes sem conta, que era o caminho, a verdade e a vida (João, 14:6) a porta (para a redenção) (João, X:7) e que, qual uma videira, alimentava incansavelmente de seiva espiritual a todos os que a Ele estivessem atrelados pelo ideal salvacionista da alma (João, XV: 1 a 5).
Passado respeitável tempo em que isso foi afirmado, os cientistas de hoje se curvam à evidência de que somos criaturas dotadas de atributos e potencialidades, e que no genoma humano são encontrados vestígios de Deus, faltando-nos simplesmente “despertar para a possibilidade de que o genoma seja parte do plano criativo de Deus”, no dizer do mesmo entrevistado. Considerando que o potencial já existe, e que constitui obra divina, arremata Collins: “não fico esperando que Deus faça uma intervenção sobrenatural toda vez que um vírus de morcego se infiltra na população humana e uma tragédia humana é iminente”, querendo com isso chamar a responsabilidade para o próprio homem. Com efeito, Jesus espera por nossa decisão, posto que contra nós jamais agirá com violência. Ouçamos o Seu apelo formulado no encerramento do Evangelho: “Vem. E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse de João, 22:17).
Enquanto esperamos pela droga para o corpo, que não se sabe quando efetivamente estará ao nosso alcance, procuremos desde logo pela vacina que cuida da Alma, porque ela está disponível e efetivamente resolverá todos os males. Encontrá-la-emos no Evangelho de Jesus, mas para seu entendimento é necessário interesse e dedicação. Ela não é aplicada por meio de seringa ou ampola, nem é ministrada coercitivamente, mas é alcançada através de esforço diuturno na reforma íntima, no aprimoramento dos sentimentos, na saúde mental, no equilíbrio. Enquanto a primeira depende de largo tempo de pesquisa, de testes e de aprovação pelas autoridades sanitárias, a segunda só depende de nós. Quanto mais demorarmos em nossas iniquidades, irresponsabilidades diante da vida, mais longe estaremos da prevenção e da cura espiritual que, sem dúvida, nos liberta de todos os males. Se a vacina salvadora já existe, resta-nos simplesmente a autovacinação.
Desenganadamente, insiste-se na busca de uma imunização que vem de fora e que só serve para o corpo perecível, enquanto o Evangelho oferece meios para que o indivíduo faça uso da química disponível, combinando fatores e circunstâncias num balão de ensaio, que é a sua própria existência, até obter a autoimunização que, posto produzida no íntimo, serve para sempre à alma imortal.
Sabido que o corpo físico é fruto da projeção mental, e que a mente humana transita pelos dois planos da vida, estejamos prontos para admitir a necessidade da assepsia na origem, isto é, na intimidade do Ser.
A propósito, recorda-se a afirmativa do teólogo Albert Schweitzer, nascido na Alsácia em 1875: “A maior descoberta de qualquer geração é a de que os seres humanos podem alterar suas vidas alterando suas atitudes mentais”. ([ii])
Se nada fizermos, as causas de doenças continuarão se multiplicando, proliferando, afligindo a Humanidade, e exigindo vacinas específicas, sabe-se lá por quantos milhares de anos avante.
Marcus Vinicius
[i] Francis Sellers Collins – Bacharel em química pela Universidade Virginia; PhD em físico-química pela Universidade Yale, Médico formado pela Universidade Carolina do Norte, Chapel Hil; fellow em genética humana pela Universidade Yale. Ateu convertido em cristão fervoroso. Entrevista divulgada pela revista Valor – edição 02 de outubro de 2020 – Ciência de mãos dadas com Deus.
[ii] A bússola e o leme – Haroldo Dutra Dias – Editora Letramais – pág. 41.