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O verbo é plasma da Inteligência, fio da inspiração, óleo do trabalho e base da escritura”.

Xavier, Francisco C. e Espírito Emmanuel. Seara dos Médiuns. Cap 27, Palavra.[1]

 

Coube ao povo hebreu o mérito da inauguração do monoteísmo na Terra, consolidado com o advento dos Dez Mandamentos. A Lei Mosaica, pilar do Judaísmo, é considerada a edificação basilar da Religião, da Justiça e do Direito1. Prima pela ordem, trabalho e sacrifício pessoal em favor do todo. Por sua fé fervorosa e pela devoção ao Deus severo e justo, os hebreus são considerados verdadeiros servos da religião.

Dois milênios atrás, o judaísmo ainda não havia cogitado da assistência aos necessitados, aos ignorantes e aos doentes do corpo e da alma, devido aos duros alicerces sobre os quais havia sido constituído. Esses eram afastados da convivência social em prol da segurança e do interesse coletivo. Os estudiosos recitavam os Salmos de cor, mas não desciam ao plano da ação pessoal, ao lado dos desafortunados. Mais preocupados com a forma e menos com o conteúdo de sua conduta, ignoraram as lições das Antigas Escrituras, que repetidamente falavam em “misericórdia” e inspiravam sentimentos mais elevados. Esperavam um salvador na pessoa de um príncipe do mundo, um guerreiro destemido e não reconheceram em Jesus o Messias prometido pelos profetas.

A Boa Nova trazida pelo Cristo foi paulatinamente sendo reconhecida pelos menos favorecidos como resposta de Deus aos seus apelos, em face da dura Lei Mosaica. Aquele Jesus desconhecido, ignorado da sociedade mais culta de Jerusalém, triunfava no coração dos infelizes, pela contribuição de amor desinteressado que trouxera aos mais deserdados da sorte. (…) Ele renovou, com exemplos divinos, todo o sistema de pregação da virtude. Chamando a si os aflitos e os enfermos, inaugurara no mundo a fórmula da verdadeira benemerência social.[1]

Por temerem que a nova doutrina nublasse os ensinamentos dos Escritos Sagrados, atados à letra fria da Lei, sacerdotes e políticos influentes rejeitaram a Boa Nova sem ao menos refletir sobre os conceitos inéditos que germinavam nos corações humildes. Dessa forma, não se deram conta de que Jesus não tinha vindo para destruir a Lei, mas para cumpri-la.[2]

O Mestre sabia que o Evangelho seria o Código Moral que consagraria as condições para a evolução da Humanidade, um complemento natural e necessário ao Decálogo, revelando que Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, bom.

Cegos às necessidades prementes do povo, os hebreus viam na Boa Nova repositório de veneno ideológico2, e seus defensores seriam perseguidos até a morte. Mas a missão estava cumprida, a semente havia germinado. O Evangelho se espalharia por todo o planeta, arrebanhando adeptos por onde passasse, multiplicando a mensagem de amor.

Querido leitor, você já pensou que, se somos capazes de ignorar o sofrimento alheio e permitimos que a miséria se transforme em paisagem, comportamo-nos como os hebreus que condenaram Jesus? Eles, porém, tinham a ignorância em sua defesa. Que temos nós a argumentar? Nossa natureza imperfeita nos prega peças: se, por um lado, a centelha divina que habita cada um reconhece e deseja trilhar o caminho do bem, por outro, nos falta fortaleza moral para pôr em prática o que a vontade nos solicita[3]. As facilidades tecnológicas e o relativo conforto material que a maioria da população tem acesso nos dão uma impressão equivocada sobre a evolução moral da Humanidade. Após dois milênios, somos quase capazes de fazer cumprir os Dez Mandamentos: não matar, não roubar […], mas estamos distantes da caridade que Jesus nos solicita em nome do Pai[4]. Mesmo em nossos lares temos dificuldade para mostrar compaixão ou pedir perdão.

Escutamos a Boa Nova, mas não lhe penetramos os ensinamentos porque frequentemente escolhemos colocar a força mental em outros domínios. O apego à posse e à imagem ainda exercem poderoso efeito sobre o nosso Espírito e nos absorve a existência. Esse apego é justamente o que nos impede de amar verdadeiramente o nosso semelhante4.

Absortos nos percalços e distrações diárias, esquecemo-nos de que, enquanto nossas ações forem orientadas para o amor ao próximo, receberemos do Alto as oportunidades para que colhamos a segurança material necessária ao nosso sustento na Terra. Servir a Deus é tão somente amar ao nosso semelhante. O labor em prol do bem nos ajuda a sintonizar com os bons Espíritos, que nos intuem para que a Providência trabalhe em nosso favor. Nada receberemos que não mereçamos.

Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito de Verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (João 15: 26)

O Espiritismo foi anunciado pelo Mestre como o Consolador que se revelaria quando os Homens tivessem maturidade para compreender o mundo espiritual. Se o Decálogo nos trouxe normas relativas à justiça de Deus, e o Evangelho é o mais perfeito roteiro de conduta moral, a obra de Kardec é orientada para que aprendamos a nos conhecer e possamos nos aprimorar.

É urgente que queiramos ser, que priorizemos o desenvolvimento das virtudes e busquemos sempre fazer o nosso melhor. Quanto mais atenção dermos aos nossos pensamentos e ao nosso comportamento, melhores para o mundo seremos. Um é consequência natural do outro. Lembremo-nos: não somos carne; estamos carne! Somente seremos felizes quando dermos foco ao que verdadeiramente somos: Espíritos. Tenhamos fé!

O Evangelho é alicerce divino, alimento espiritual. As palavras do Cristo são de vida eterna porque atendem às necessidades e anseios da Humanidade em todos os tempos, passado, presente ou futuro; constituem não só a salvaguarda da vida celeste, mas também o penhor da paz, da tranquilidade e da estabilidade das coisas na vida terrestre.[5]

Debrucemo-nos sobre os ensinamentos que o Pai nos ofereceu pela via das revelações e concentremos os esforços em sublimar o próprio Espírito. Atendamos ao chamado!

Lila

03

[1] Xavier, Francisco C. e Espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Cap 3 e 7.

[2] Mateus (5:17)

[3] Adaptação do contido em Estudo aprimorado da Doutrina Espírita (EADE), Ensinos e Parábolas de Jesus – parte 2. 1ª ed. 5ª impressão. Livro III, Módulo II, Roteiro 6, página 113 – FEB.

[4] Interpretação do contido no mesmo Estudo (EADE), Espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus. Livro IV, Módulo I, Roteiro 1, 1ª ed. 5ª impressão, página 17 – FEB.

[5] Adaptação do contido no mesmo Estudo (EADE), Ensinos e Parábolas de Jesus – parte 2. 1ª ed. 5ª impressão. Livro III, Módulo II, Roteiro 3, página 87 – FEB.

 

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