Há pensamentos de toda ordem, cada qual encerrando em si um tipo de manifestação que podemos considerar, sob a ótica da qualidade, como positivo ou superior, neutro ou indistinto e negativo ou inferior.
Esses pensamentos nascem das circunstâncias da alma, de suas tendências, gostos e desejos mais ou menos acentuados, comunicando-se às câmaras materiais do cérebro onde recebem as “cargas elétricas” representativas da sua natureza.
Posteriormente, e segundo o Espírito André Luiz (1), o pensamento se ajusta às emanações celulares, formando a aura ou o duplo etéreo dos espiritualistas (períspirito para os espíritas), refletindo, como em uma tela, as imagens que lhe são representativas.
Em A Gênese encontramos esclarecimentos de como os nossos pensamentos ganham movimento, através de um exemplo bastante pedagógico: “…criando imagens fluídicas o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num espelho. Tenha um homem, por exemplo, a ideia de matar a outro: embora o corpo material se lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento (…); executa fluidicamente o gesto, o ato que intentou praticar. O pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira é pintada, como num quadro, tal qual se desenrola no espírito. Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo” (2).
André Luiz complementa a preleção de A Gênese acima transcrita, quando retrata dois casos de adultério em que os pensamentos dos personagens adúlteros encontram-se vinculados às suas amantes, criando imagens vivas no âmbito do lar de ambos.
No primeiro, Ação e Reação (3), o personagem planeja matar a esposa para ficar com a amante, estampando tela viva de seus desejos secretos.
No segundo, Nos domínios da Mediunidade (4), os amantes estão tão envoltos em seus pensamentos recíprocos que a figura da amante é, de forma intuitiva, percebida pela esposa, quadro que a faz ingressar em um estado mental de desespero.
Na literatura espírita são fartos os exemplos de como a sintonia e a transmissão do pensamento entre as criaturas têm o condão de criar, tanto quadros generosos, suaves e construtivos, quanto telas cujas tintas e os movimentos são cheios de densidade e sombras, agrupando, tematicamente, os “pintores do pensamento” em faixas-frequência que são representativas do que se passa no íntimo de cada um dos colaboradores.
Mas para que os pensamentos, qualificados ou não, adquiram vivacidade, para que se mostrem robustos e sinalizem as tendências das criaturas em suas respectivas auras (a camada mais exterior do períspirito), é fundamental que haja uma continuidade em sua emissão.
Pensamentos quebrados, não persistentes e sem sequência não geram uma plataforma de manifestação, nem alocam os seus emissores nas faixas-frequência a que nos referimos acima. E isso é de uma importância fundamental para que nos disciplinemos a alongar e dar vida aos pensamentos qualificados, interrompendo os pensamentos menos felizes, exatamente porque, diante das inúmeras deficiências que ainda nos assolam, não controlamos os nossos pensamentos em seu nascedouro. Quando percebemos estamos pensando, para o bem ou nem tanto, influindo e sendo influenciados por outras criaturas que guardam sintonia com o nosso modo de pensar.
Na resposta à questão 421 de O Livro dos Espíritos a entidade comunicante esclarece que o fato de duas pessoas terem o mesmo pensamento simultaneamente, decorre da simpatia, no sentido de sintonia, mantida por ambos, o que nos faz concluir que estamos em constante e involuntária permuta com encarnados e desencarnados que se afinizam com o nosso modo de pensar, independente de conhecermos os entes que partilham de nossos pensamentos.
De outro modo, na questão 285, 58, de O Livro dos Médiuns, Kardec indagou dos Espíritos se duas pessoas, evocando-se mutuamente, podem transmitir os seus pensamentos e se corresponderem, tendo obtido a seguinte resposta: “Sim, e essa telegrafia humana será um dia um meio universal de correspondência”.
Nessa modalidade, assim batizada porque o extinto telégrafo emitia e recebia mensagens codificadas à distância, encontramos ação deliberada dos partícipes que podem evocar-se (chamar, trazer à lembrança), sem que necessariamente se conheçam, estabelecendo comunicação pelo pensamento em linha direta, decorrente da manifestação de vontade de ambos os comunicantes, de modo que “A” emite um pensamento, “B” o recebe e responde para “A” , formando um circuito de interação mental absolutamente consciente entre eles.
Mas há, ainda, um detalhe fundamental para que a telegrafia humana ocorra. Ambos os encarnados devem ter a disponibilidade orgânica de projetarem a camada mais interna de suas auras para além do corpo físico, possibilitando a comunicação que se dá pela via dos fluidos espirituais.
Se um dos partícipes não for portador da disponibilidade orgânica de projeção áurica (perispiritual), a telegrafia não se consuma porque falta-lhe a capacidade de se inserir na via de comunicação. Ele até poderá receber pensamentos fragmentados e impressões de encarnados (e desencarnados) que ocupem a sua faixa-frequência, durante o sono ou quando estiver em período de maior concentração na vigília (período acordado), mas não conseguirá interagir de forma ininterrupta, consciente e ordenada com o outro interlocutor, por carecer da plataforma de comunicação.
Por isso, a capacidade de receber e interagir com o pensamento emitido é fator que distingue a telegrafia humana da telepatia (5), do grego telê (ao longe) e pathós (influência).
Na telegrafia humana os partícipes encarnados são, necessariamente, sensitivos ou médiuns, enquanto na telepatia apenas o receptor é dotado da sensibilidade mediúnica, não se exigindo do emissor a condição orgânica de projetar suas camadas áuricas internas para além do carro físico.
Ernesto Bozzano (6), ao tratar das comunicações telepáticas, preleciona que a relação telepática só pode produzir-se quando umas das três condições seguintes se verifiquem: a) o emissor conheça o receptor; b) terceiro que tenha relações de conhecimento com o receptor e esteja com o emissor; c) o emissor tenha um objeto longamente usado pelo receptor (psicometria), o que significa dizer que o conhecimento, direto ou indireto, que se tem do receptor ou sensitivo é fundamental para a formação do consórcio telepático entre encarnados.
Na telegrafia humana esse conhecimento não é necessário, bastando que se verifique entre os comunicantes a sensibilidade mediúnica e o interesse recíproco de sustentar a relação de intercâmbio dos pensamentos.
Em um ou em outro caso, a sintonia entre os partícipes é condição fundamental para a formação dos circuitos telepáticos e telegráficos. Emissões de pensamentos nocivos e densos não são recepcionadas por quem tem a casa mental purificada. Carlos Torres Pastorino justifica a questão da sintonia na relação telepática com outras palavras, e a definição pode ser aplicada ao consórcio telegráfico, assim como a todo e qualquer processo de influenciação pelo pensamento. Diz ele que se pensamentos ruins são direcionados à “pessoas de aura limpa protetora, batem na aura, ricocheteiam e regressam àquele que os enviou (7), exatamente porque se encontram vinculados ao seu emissor.
A conclusão é óbvia e nos sugere a prática da disciplina mental, através da qual nos afastamos das faixas dos pensamentos nocivos que tanto assolam as criaturas encarnadas (e desencarnadas).
E na resposta à questão 459 de O Livro dos Espíritos, encontramos indicação segura sobre a razão pela qual devemos primar pela disciplina mental, através da higienização constante dos nossos pensamentos, afastando hábitos e formas repetitivas em que, muitas vezes, ainda nos comprazemos:
459 – Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e os nossos atos?
R: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.
Obviamente a locução “são eles que vos dirigem” é uma hipérbole, um exagero intencional com o fito de realçar o conceito de influência dos desencarnados em nossos pensamentos e atitudes.
Se fossemos dirigidos pelos Espíritos não teríamos o livre-arbítrio e, sem ele, seríamos uma espécie de títeres ou fantoches nas “mãos” das entidades espirituais; sem méritos e responsabilidades por nossas escolhas.
O objetivo dos Espíritos na resposta à questão 459 foi o de reforçar o fato de que todos nós, sem exceção, nos submetemos às sugestões dos Espíritos.
Mas, nem o mais sublime dos anjos, tampouco o mais astuto dos algozes, tem o poder e a força de nos sugerir ideias ou ações que não se compatibilizam com a nossa natureza, o que nos faz concluir que essas influências só correm no campo de ação em que movimentamos os nossos pensamentos.
Em última análise, somos nós quem decidimos a que influências daremos curso e tônus, e quais delas sairão do mundo diáfano dos pensamentos para se fazerem palpáveis no mundo das ações.
Por isso, façamos o esforço supremo da disciplina mental, abrindo espaço incondicional às influências dos anjos, porque, afinal, se bem sopesarmos a nossa trajetória, mesmo que dela não tenhamos memória viva, concluiremos, com o devido respeito que todos merecemos, que nos últimos séculos demos muito mais do nosso tempo às sugestões dos algozes, e é preciso confessar que, com isso, não obtivemos lá grande coisa.
Cleyton Franco
(1) – Evolução em Dois Mundos – Francisco Xavier e Waldo Vieira/André Luiz, Cap. XVII – Mediunidade e Corpo Espiritual.
(2) – A Gênese – Allan Kardec, Cap. XIV, 15.
(3) – Ação e Reação – Francisco Xavier/André Luiz, Cap. 14 – Resgate Interrompido.
(4) – Nos Domínios da Mediunidade – Francisco Xavier/André Luiz, Cap. 19 – Dominação Telepática.
(5) – O termo foi cunhado por Frederich Myers em 1882, a partir de investigações sobre a possibilidade de transmissão do pensamento, realizadas em conjunto com outros pesquisadores, segundo relata Hernani Guimarães Andrade na Revista de Espiritismo, n° 31 (abril, maio e junho de 1996).
(6) – Fenômenos de Bilocação, 4ª Categoria, pag. 86, Editora Espírita Correio Fraterno, 2ª edição, 1983.
(7) – Técnica da Mediunidade – Plano Mental –Telepatia, pag. 197, Sabedoria Editora, 3ª edição, 1975.