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Lá pelo ano de 1945, quando contava 42 anos de idade, um bem sucedido psicanalista holandês chamado Erlo van Waveren, teve um Grande Sonho, tão profundo e revelador, que o levou a uma série de regressões de memórias, sucedendo-se vários outros sonhos, visões, intuições, vozes íntimas, psicografou textos, cujo conjunto revelou-lhe algumas de suas últimas existências. Juntou esse material e compôs uma obra denominada Pilgrimage to the past (Peregrinação ao passado). Identificou-se numa entidade-síntese (essência espiritual) a que deu o nome de Kerel – sua individualidade, enquanto cada encarnação representava as personalidades referidas, incluindo a atual. Hermínio C. Miranda, incansável pesquisador em torno dos atributos da mente e das sucessivas encarnações de vários Espíritos, encontrou nessa obra mais uma notável fonte de pesquisa e foi em busca de elementos confiáveis para atestar sua autenticidade e concentrou seus estudos em AS SETE VIDAS DE FÉNELON.([i])

O que nos fascinou a ponto de não resistirmos a este relato foi a circunstância de que numa das existências rememoradas pelo Dr. Erlo ele teria sido nada menos do que o Arcebispo Fénelon, isso mesmo, aquele Espírito que fora convidado a compor um grupo seleto que auxiliou a Allan Kardec na elaboração de O Livro dos Espíritos (questão 917), de O Evangelho segundo o espiritismo (Cap, V, itens 22 e 23; Cap. XI, itens 9; Cap. XII, item 10 e, Cap. XVI, item 13), colaborou em várias Revistas Espíritas e sua própria obra denominada “Les aventures de Telemaque” foi citada pelo Codificador em O Céu e o Inferno (itens 9 e 10).

Nosso personagem central nasceu François de Salignac de La Mothe, em Périgord, França, em 6/08/1651 e morreu em 7/01/1715, aos 63 anos. Suas mais recentes experiências foram, pela ordem: Judas Barsabás, na Palestina; Asterius, em Amásia; Wilfri e Walter de Gray, na Inglaterra medieval – séculos VII e XIII, existências essas que para o Dr. Erlo eram identificadas como diamantes a cintilarem (dez ao todo), quais contas de um grande colar vivenciadas por uma única e absoluta individualidade.

O espaço aqui é limitado. Por isso, recomendamos a leitura da obra de H. Miranda aos que queiram desbravar a pesquisa, os debates e as conclusões. Mas dela trasladamos a essência do que por ora tem pertinência, ou seja, identificar as personalidades para acompanhar a trajetória evolutiva de um único Ser Espiritual. Judas Barsabás, também chamado o Justo, era respeitado na comunidade de Jerusalém e foi escolhido juntamente com Silas para acompanhar Paulo e Barnabé de volta a Antioquia. Asterius foi arcebispo na cidade que hoje é capital da Turquia (Ankara), dedicado e fiel às tradições. Wilfrid viveu nos anos 634 a 709; foi sagrado bispo de Iorque; era político, exercendo grande influência junto ao Rei da Inglaterra e fiel executor das vontades do papa; defendeu a Igreja contra a influência do druidismo. Walter de Gray também viveu na Inglaterra ao tempo do Rei Henrique II – morreu em 1255; arcebispo de Iorque, destacado político, rico, de origem nobre, dinâmico, orgulhoso, chegou a dirigir a Inglaterra na ausência do Rei Henrique III, que ele havia educado. Fénelon, conquanto influente arcebispo de Cambrai (França), fiel aos dogmas da Igreja Romana, adotou a doutrina do “quietismo”, segundo a qual o estado de contemplação conduz ao estreitamento do Ser com a divindade. A obra “As aventuras de Telêmaco”, embora destinada a princípio à educação do futuro rei – o duque de Borgonha, por seu conteúdo audacioso e contestador desagradou a coroa e a igreja. O soberano Luís XIV entendeu que o livro não estava de acordo com ele e com seu governo. No mundo espiritual, Fénelon passou a se manifestar através da mediunidade da Sra. Krell. Reencarnou na Holanda, em 1902, sob a personalidade do Dr. Erlo van Waveren, desta feita desatento aos ensinamentos espirituais que pregara no passado sob as vestes eclesiásticas, notadamente na última, como Fénelon, mas mantendo na essência as virtudes adquiridas.

Até aqui nós contamos seis personalidades que foram extraídas da obra de autoria do Dr. Erlo, incluindo ele mesmo. Através de pesquisas próprias, H. Miranda logrou identificar mais uma provável encarnação pretérita dessa mesma entidade espiritual, reencarnada em Zurique, Suíça, a 15-11-1741 e desencarnada a 02-01-1801, período esse entre Fénelon e Dr. Erlo van Waveren. Trata-se de Johann Kasper Lavatier, poeta, místico, teólogo, fisionomista e escritor. Recorde-se que Fénelon desencarnou no ano de 1715, Lavatier nasceu em 1741, vindo a morrer em 1801, enquanto Waveren nasceu em 1902, elemento temporal viabilizador da teoria. Já alertamos sobre a limitação de nosso espaço. Mas quem ler “Um Capítulo Imprevisto” do livro ora resumido (págs. 227 em diante) haverá de se curvar à evidência. Por essas e outras, que a obra em pauta recebeu o título “As Sete Vidas de Fénelon.”

Queridos leitores, se vocês têm pressa em se libertar dos tecidos da matéria, procurem acalmar seus ímpetos, porque, conforme o exemplo acima, a evolução é lenta. Somos Espíritos em constante aprendizado, envoltos num turbilhão de energias cósmicas que nos garantem experiências e sobrevivência. A vida, como as existências, é atuante, dinâmica, compreende tarefas a cumprir, coisas a aprender e a ensinar, trabalho e progresso incessante. A tarefa é individual, intransferível, exige esforço, renúncia, sacrifício. Séculos se passaram para que o homem de bem (Judas Barsabás) pudesse se erguer a ponto de merecer um discipulado junto ao Apóstolo dos Gentios, e outros tantos séculos foram necessários para que ele se depurasse de molde a ser acolhido nas hostes dos mensageiros junto à obra de Kardec (Fénelon) e prosseguir firme no cumprimento de sua ascensão espiritual. Embora sob a personalidade de Fénelon, haja logrado grande progresso, livrando-se das angústias da ambição e superado frustrações e enfrentado humilhações, ele não conseguiu concluir seu projeto espiritual como Waveren, arremata H. Miranda (ob. cit. págs. 267/268).

O progresso é lento, porque a evolução não dá saltos, tal como tudo na Natureza. É preciso “Nascer, viver, morrer, renascer de novo e progredir continuamente, tal é a lei”, sintetiza a Doutrina dos Espíritos, a qual melhor retrata o comando do Senhor: “Ninguém entrará no reino de Deus sem nascer de novo”. Nossa contribuição é indispensável para vencer mais rapidamente essa trajetória. O livre-arbítrio nos permite uma viagem mais ou menos longa. Nosso destino é a sublimação, fase em que já não precisaremos das reencarnações na matéria densa.

O importante é ter consciência das imperfeições e seguir atento em busca do autoaprimoramento, construindo o futuro, que haverá de ser melhor do que o passado e o presente. Ninguém o fará por nós. Recordemos Emmanuel ([ii]): “O Mestre confere-nos a dádiva e pede-nos a iniciativa. Nos teus dias de luta, portanto, faze os votos e promessas que forem de teu agrado e proveito, mas não te esqueças da ação e da renovação aproveitáveis na obra divina do mundo e sumamente agradáveis aos olhos do Senhor“.

Nesse ano novo, façamos uma vigorosa reforma em nossa casa mental. Os resultados virão a seu tempo e com eles a alegria das vitórias parciais.

Marcus Vinicius

 

([i]) AS SETE VIDAS DE FÉNELON – Hermínio C. Miranda – série Mecanismos Secretos da História – Lachâtre Editora Ltda – 1ª edição, março de 2008.

 

([ii]) VINHA DE LUZ – Francisco Cândido Xavier – pelo Espírito Emmanuel, FEB – 1ª ed. Especial – Cap. 21.

2 Comments

  • Leonardo disse:

    Muito interessante … Mas ai me vem uma duvida de quem talvez tenha se equivocado, Divaldo Franco ou H. Miranda ? pelo fato de no livro “Tormentos da Obsessão”, estar esclarecido que Johan Kaspar Lavater (15-11-1741 – 02-01-1801) foi a reencarnação pretérita de Euripedes Barsanulfo (01/05/1880 – 01/11/1918). E então as duas informações divergem, porquanto o Dr. Erlo van Waveren nasceu em 1902. Fica a minha dúvida !

    • CECP disse:

      Leonardo,
      Agradeço a gentil observação.
      Os dados registrados em nosso texto foram extraídos unicamente da obra AS SETE VIDAS DE FÉNELON, de autoria de Herminio C. Miranda.
      Louvo a pesquisa do leitor, e reconheço possa ter havido algum engano, mas prefiro deixar as divergências para os nobres autores citados, posto não caber, no estreito âmbito do nosso trabalho, o encargo de desvendá-las.
      Abraços.
      MV

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