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SONETO DO CINQUENTENÁRIO

 

Eis que o mar revolto já não provoca espanto,

Nem o zimbório tisnado de raios causa medo,

Pois que há o pier da paz que estanca o pranto,

Acolhendo as naus da vilania dos rochedos.

 

A ponte-cais rasga o ventre inóspito das águas,

Leva consigo a doutrina da sabedoria!

E seu madeiro gentil disciplina tantas mágoas…

Que os barcos se assentam em loas de alegria.

 

Seja abençoado Caminho da Paz e da luz,

E todos os incansáveis obreiros que o sustêm,

Sob o signo perene de Kardec e de Jesus.

 

Cinquenta anos de serviços na ética do bem.

Afinal, qual o astro celeste que lhe conduz?

Há de ser a estrela do caminho até Belém.

 

Cleyton Franco

 

 

Queridos irmãos e irmãs

A casa humilde, trajada com o branco da pureza de seus propósitos e o azul da atmosfera espiritual hígida, nasceu sob o amparo das mãos carinhosas de seus fundadores, em um longínquo 29 de junho de 1969, e vicejou sob o esforço zeloso de tantos outros corações abnegados, cujas ações amorosas fizeram inscrever na sua fachada espiritual, em letras luminosas que transcendem o alcance diminuto da visão ordinária, a designação de “Núcleo Ativo de Jesus”.

Foi testemunha da fluência inexorável do tempo, que não respeita as criações rasas de raiz, e ao longo de cinquenta anos acolheu em seu regaço as inquietudes tão frequentes das almas em desalinho, aconchegando-as no amparo caloroso semelhante ao abraço de mãe que a tudo conforta e compreende, sem expectação de retorno ou emissão de julgamento. E por isso não se abalou quando muitos aconchegados deliberaram bater asas em busca de novos caminhos, pois que o amor-altruísmo nada cobra, nada exige, tudo oferta.

E por amor-compreensão conteve as lágrimas doridas, vertidas do coração machucado, quando algumas criaturas que lhe eram tão caras foram chamadas de retorno à pátria genuína, deixando o rastro das suas obras nas salas entristecidas, pois que órfãs das suas presenças.

Mas não tardou a sorrir o sorriso largo e farto do contentamento quando as viu de retorno, partícipes das atividades espirituais em outra dimensão, distribuindo os mesmos beijos, beijos, dístico inconfundível da manifestação do mais puro carinho fraterno, assim como as mesmas pequenas flores forjadas pelos dedos indeléveis da paciência e da doçura incessantes.

Foi cenário da ação da Lei em face das criaturas, e em suas entranhas observou a gestação de muitos renascimentos morais, em que os nascituros despiram-se de si mesmos, intentando abandonar os trajes vetustos dos hábitos psíquicos, para envergarem as asas dos pássaros do céu, ostentando a beleza humilde dos lírios do campo.

Presenciou testemunhos sublimes de colaboradores que demonstraram empunhar, mesmo na ação crua dos desafios lancinantes, a flâmula do cristianismo vivo coadjuvada pelo bastão da doutrina consoladora, produzindo pequenas ações de tão gloriosa natureza, que em muito sobrepujaram os mais belos discursos e as mais excelsas preces.

Anotou as diversas ações curativas nos corpos e se alegrou na alegria daqueles que saborearam o gosto inesquecível da restituição de um movimento, da restauração de uma função, ou mesmo que viram mitigadas as dores que lhes torturavam o íntimo e lhes inviabilizavam até os mais simplórios momentos.

Exultou por todo amparo dado às crianças e jovens, a maciça maioria carente do pão do corpo, da alma e do coração, e quando percebeu que muitos se saciaram à beira da mesa singela, inoculados pelo trigo da retidão, a água da fraternidade e o fermento do amor, rezou a prece das casas de Deus quando sentem que se encontram no Seu caminho, vertendo uma lágrima jubilosa de sentido agradecimento.

Viveu o êxtase da conversão dos algozes e perseguidores que, enfastiados das suas vinditas, romperam grilhões seculares que criaram para o próprio enclausuramento, libertando-se por intermédio da sagrada chave do perdão, lavado no pranto abundante e sincero do arrependimento.

No âmbito da inolvidável preleção do Cristo, consubstanciada na expressão Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará, estimulou seus filhos, tomados por empréstimo diretamente das mãos do Criador, a buscarem, pelo estudo, o conhecimento que verticaliza a trajetória infinita da autoiluminação, através do buril da razão crítica que precede a consagração da moralidade.

E na doação qualitativa do amor, autêntica consolidação das energias etéreas dos Espíritos com os fluidos mais densificados das almas, certificou-se de que não há nada mais sublime e puro que o acolhimento desinteressado, capaz de unir doadores e receptores no mesmo diapasão de sentimentos superiores em que cada um percebe, mesmo que na forma de espectro indefinível, a porção imperecível de angelitude que pulsa grandiosa em seu campo íntimo.

Neste tempo de cinquentenário a casa vocaliza um hino de gratidão a todas as mãos operosas que lhe sustentaram as estruturas, a todos os corações amorosos que lhe traçaram as diretrizes e a todas as mentes cocriadoras que já projetam o seu centenário na atmosfera renovada de um planeta com menos “ais”.

Que as bênçãos de Deus continuem a recair, fartas, sobre a casa pequenina, sobre os valorosos trabalhadores encarnados e desencarnados e sobre os inestimáveis frequentadores, razão da existência desse núcleo de Jesus.

 

Cleyton Franco

 

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