Nos dias atuais a palavra “refugiados” é lugar-comum nas conversações diárias.
A mídia exibe farta reportagem levando ao conhecimento de todas as Nações o drama em que vivem grupos de pessoas cansadas de sofrerem a miséria física, psíquica e social em seus países de origem.
Drama esse que comove a todos que se encontram posicionados em ângulos opostos aos deles. Causa indignação esse movimento absurdo num século de tantos avanços no campo da inteligência e ao mesmo tempo de imensurável distância na área do sentimento, da fraternidade, do “Amai-vos uns aos outros”…
Já se sabe que a Lei de Justiça não exonera ninguém das más ações cometidas em tempos remotos, e que, cedo ou tarde terão de ser resgatadas de conformidade com essa Lei.
Não nos detenhamos em julgamentos que só a Deus pertencem. Os mecanismos de que Ele faz uso para o cumprimento de Sua Lei não estão ao alcance de nosso entendimento, e só nos damos conta deles quando eclodem ostensivamente, semelhante à erupção de um vulcão cujas lavas, sem hora marcada, assustam o mundo na fúria em que se apresentam.
Refugiados, portanto, são todos os que, em sofrimentos acerbos, buscam abrigo ou proteção, alguma forma de acolhida em que possam se resguardar das constantes tempestades que invadem seu universo particular ou coletivo.
Uma reflexão mais ampla nos leva a observar, comparativamente, que em realidade, somos todos “refugiados” à procura do aconchego da Casa do Pai. Tomo como ponto de referência para esta análise a Parábola do Filho Pródigo (Lucas, 15:11-32.), que embora relate a saga individual do filho que deixou o lar paterno, serve também de parâmetro para explicitar epopeias coletivas.
Tomando a parte da herança que lhe cabia, aquele filho sai em busca de aventuras, na ânsia de viver intensamente a vida no que ela lhe pudesse ofertar em prazeres e diversões. Entretanto, assim que se vira desprovido dos bens, pois que deles não fizera caso em reservar o mínimo que fosse para os dias de invernada, começou a sentir as agruras da solidão, do desabrigo, do frio, da ausência de trabalho uma vez que ninguém nele confiava, da fome que o obrigava a comer junto aos porcos que recebiam as sobras fartas das mesas de seus donos…
Atingindo o grau máximo de sofrimento recordou-se de seu pai. Certamente ele o receberia, ainda que fosse para lhe ofertar um prato de comida em troca dos serviços que poderia prestar. E retomou o caminho de volta. Uma volta, sem dúvida, repleta de dificuldades, dores e sofrimentos, mas… um retorno.
Lembrava-se de que havia deixado junto ao pai, um irmão que certamente não o aceitaria, impedindo-lhe a entrada numa casa que também fora sua e um dia desprezara… Haveria de enfrentar essa dificuldade. E assim foi. Embora a resistência do irmão, o pai, entretanto, recebeu-o de braços abertos, pois se tratava do filho que regressava de um duro aprendizado.
Caro leitor, multiplicando-se o número de filhos pródigos temos a multidão de seres que buscam o abrigo em pátria que não a sua, de onde, talvez, partiram num dia que se perde no tempo, e cuja volta não se faz sem lutas e privações. Alguns alcançam o porto seguro, outros sucumbem; e a Humanidade assiste tamanha desdita sem quase nada poder fazer, a não ser a prece que clama aos Céus, piedade e compaixão por parte daqueles que os devem acolher, uma vez que Deus não erra de endereço…
Mas, voltemos a atenção para nós mesmos que nos achamos relativamente ajustados nos países, sociedades e lares em que experienciamos situações e circunstâncias necessárias à própria evolução espiritual. Não temos a nos acompanhar as “dores da alma” que fustigam mais do que as do corpo? Não buscamos todos por um bálsamo, um refrigério que nos alivie a mente atordoada, às vezes dilacerada pelo descaso dos que vivem conosco debaixo do mesmo teto? Não estamos famintos de compreensão, de paz de espírito, de harmonia interior? Quantos de nós somos vítimas de calúnias, de constrangimentos, de ódios inexplicáveis, de tormentos mentais, de escravidão aos vícios que deterioram o corpo sutil do Espírito, da ganância, da ambição desmedida, do ciúme voraz que mata, do orgulho, da corrupção, enfim, de outros tantos distúrbios enlouquecedores, cuja lista demanda espaço… Cabe aqui uma correção quanto à palavra “vítima”. Alguém já disse que “existe injustiça, mas não existe injustiçado”; pensamento esse que valida a Lei de Causa e Efeito: Deus no comando de tudo, executa Suas Leis, sem que tenhamos conhecimento de como Ele faz para agregar os faltosos em provas comuns, ajustando-os às experiências correspondentes aos enganos cometidos, conforme abordagem feita no início deste estudo.
Jesus, contudo, profundo conhecedor da alma humana, diz: “Eu sou o Caminho” e aponta para a Humanidade inteira a estrada que leva à Casa do Pai.
Sim, somos todos refugiados, buscando o oásis das emoções equilibradas, do conforto espiritual e material. Nesse caminho muitos se perdem e muitos persistem. Quantas vezes os botes infláveis dos nossos comportamentos desajustados naufragarão? Os muros de nossas fraquezas morais se erguerão como barreiras intransponíveis? Os fogos fátuos das bombas da ilusão, lançarão por terra tantos sonhos e esperanças?… Mesmo assim, caminhamos… E o fazemos porque há uma força maior que nos impele à frente. Basta que a dor se aproxime, ainda que de leve, e buscamos para logo o amparo de Deus, mesmo que tenhamos de nos deslocar da pátria…
Os raios de luz que descem das estâncias divinas são cordas de salvação. Agarrem-se a elas os refugiados do corpo e da alma que desejam verdadeiramente o abrigo da paz. Haverão de vencer os óbices que os prendem aos planos inferiores e alcançarão, com fé e determinação o “lugar ao sol” onde todos seremos, um dia, compelidos a viver.
Yvone