“Seja a mudança que você quer para o mundo”. A sentença proferida por Mahatma Gandhi[1] fala por si e aponta a relação direta entre o Homem e o planeta: se desejo um mundo ecológico, pratico a reciclagem de materiais e evito o desperdício dos recursos naturais; se aspiro por um mundo mais ético, devo agir com ética em minhas interações sociais; se quero paz no trânsito, devo dar o exemplo sendo pacífico.
Gostaríamos de mudar muito do que observamos, mas devemos compreender que ser a mudança que queremos para o mundo vai bem além da mecânica macroscópica ação/resultado sobre o globo, pois antes de o Homem ser capaz de agir de acordo com os seus ideais, ele precisa ter disciplina para que possa escolher tomar as atitudes em conformidade com o seu julgamento.
Aos olhos de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, a nossa zona de atuação direta para provocar mudanças está circunscrita ao âmbito do Espírito. Surpreendentemente, tais mudanças têm o imenso poder de alterar a natureza das respostas que provêm do exterior, pois são mero reflexo do que emitimos. É um pensamento estratégico que exige o acionamento da inteligência, da vontade, do senso de justiça e da caridade.
O senso de justiça e a inteligência são necessários na avaliação das situações: a ação ou reação que me incomoda foi provocada por mim ou motivada por algum evento passado que me envolveu?
Se a resposta for positiva, urge verificar se há algo a reparar, desculpas a pedir e analisar qual seria a melhor atitude na circunstância ocorrida, para, não só evitar a repetição do erro, mas provocar uma resposta diferente e melhor da recebida, em um próximo evento.
Se a resposta for negativa, não há por que se sentir incomodado, pois quem errou foi o outro. Cabe o olhar caridoso no sentido da compreensão da limitação do irmão de caminhada, o qual sofre e por isso age mal. Nesse momento, a mudança necessária não é sobre o nosso ato, mas sobre o nosso sentimento perante o próximo. A solidariedade que me invade afasta o aborrecimento, pois compreendo que o problema está com o outro, e não comigo.
Esse exercício traz alguns grandes desafios: ter coragem para querer enxergar a circunstância da forma mais verdadeira possível; sentir que pedir perdão é um ato de dignidade e justiça, além de ser libertador; acreditar que apenas essa demonstração de fraternidade é o que de fato mudará a resposta do mundo que nos cerca; e dominar as reações automáticas, transformando-as em reações proativas habitualmente. Tudo se resume a dominar o orgulho e agir de forma amorosa.
A atenção contínua aos próprios pensamentos e atos e a intermitente avaliação dos resultados conferem autoconhecimento, uma das chaves para a evolução espiritual. A compreensão do poder que passamos a ter sobre a resposta às nossas ações nos fortalece a vontade de autodomínio das nossas más tendências.
“A maior vitória não é vencer ao outro, mas vencer a si mesmo“[2]
Sugerimos a leitura da mensagem do Espírito Santo Agostinho, transcrita no livro terceiro, capítulo XII de “O Livro dos Espíritos”, em que descreve de forma detalhada os hábitos que devemos ter para que possamos nos afastar do mal e aumentar o autoconhecimento.
Lila
[1] Mahatma Gandhi (1869 – 1948), Idealizador e fundador do Estado moderno Indiano, defensor do protesto pacífico como meio de revolução.
[2] Sentença atribuída a Platão, filósofo grego (séc. V a.C.)