Nenhuma crença religiosa pode enfraquecer os fatos que a Ciência comprova de modo peremptório. Não pode a religião deixar de ganhar em autoridade acompanhando o progresso dos conhecimentos científicos, como não pode deixar de perder, se se conservar retardatária ou protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome dos seus dogmas, visto que nenhum dogma poderá prevalecer contra as leis da Natureza, ou anulá-las. Um dogma que se funde na negação de uma lei da Natureza não pode exprimir a verdade”. (1)
Dia chegará em que Ciência e Religião caminharão juntas, evidenciando que a mecânica de Deus tem como base a evolução do princípio espiritual, e que este, por sua vez, comanda todas as transformações relativas à matéria em um processo paciente que se aperfeiçoa ao longo dos evos.
Mas enquanto esse dia luminoso não se concretiza, vivem-se tempos de antagonismos acerbos entre uma e outra vertente, máxime no que se remonta à questão da evolução das espécies, consubstanciada nas respeitáveis teorias da lavra de Charles Robert Darwin, Jean-Baptiste Lamarck e de Gregor Mendel, em grande parte validadas pelo método científico.
Para os Espíritas a admissão da Teoria da Evolução é consentânea com a orientação de Kardec acima citada, sem que isso represente negar a existência de Deus.
Abrigar a Teoria da Evolução como processo regente na romagem do princípio espiritual e, por conseguinte, nas manifestações materiais que lhe são inerentes, é afastar o Deus da criação instantânea, decorrente da interpretação literal do Antigo Testamento, mas não negar a Sua existência.
A Lei de Deus, antes de ser um singelo estalar de dedos, é um verdadeiro processo de construção das criaturas, através de um sem número de estágios nas posições ofertadas pelos reinos conhecidos e desconhecidos da Natureza.
Em O Livro dos Espíritos (2), Kardec consolidou a informação no sentido de que: “O Espírito passa por uma série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade”.
Cerca de cinquenta anos após, em O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis proferiu a célebre frase segundo a qual: “Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda…”, (3 e 3.1), esclarecendo que o princípio espiritual estagia nas formas inferiores da Natureza até o seu resplandecer nos reinos superiores.
Emmanuel, na questão 79 de O Consolador (4), revisitou essas mesmas menções doutrinárias ao ter asseverado que: “o mineral é atração, o vegetal é sensação, o animal é instinto, o homem é razão. O anjo é divindade.”, indicando os vários cenários de lutas em que o princípio espiritual labora no sentido do autoaperfeiçoamento que, por sua vez, trará a reboque a evolução e capacitação das formas materiais de manifestação, até que vicejem em nós “o espírito e as asas dos anjos”.
Jorge Andréa dos Santos em Dinâmica Espiritual da Evolução (5), aprofundou a questão esclarecendo que nos reinos inferiores o princípio espiritual manifesta sua direção sobre a matéria naquilo que denominou alma-grupo-da-espécie – “..um único campo vibratório controlando a espécie a que se destina”.
Nos reinos inferiores os seus partícipes não são dotados de individualidade, porque as criaturas partilham de um mesmo núcleo energético que os agrupa, disciplina e direciona – a alma-grupo.
Em Evolução em Dois Mundos (6), André Luiz esclarece que nesses reinos o “ser inferior”, após a morte do organismo físico, religa-se e confia à espécie a que pertence o fruto das suas experiências, dela recebendo outros valores assimilados, o que nos dá a entender que enquanto esse “ser inferior” não reunir condições mentais para suster a sua individualidade, estará conectado a uma espécie de “rede” (a alma-grupo), fornecendo e captando vivências de forma absolutamente mecânica ou automática.
O princípio da libertação da alma-grupo rumo à individualidade, começa a se verificar, segundo Jorge Andréa (ob.cit.), “nas espécies animais que tenham possibilidades do nascimento de novos aspectos psicológicos (…) em que se evidenciam, na massa nervosa encefálica, as primeiras células da futura glândula pineal” (7).
É nos lacertídeos (répteis), que se observam os primeiros vagidos emocionais dos “seres menores” rumo à individualidade plena que se verificará com o pensamento contínuo no âmbito do reino hominal.
E o processo de evolução é inexorável. O reino animal oferece uma série de posições que elaboram os instintos nas espécies inferiores, crescendo em aquisições até a atividade refletida característica dos animais superiores. São eles o cão, o cavalo e o elefante, segundo O Livro dos Espíritos (2.1), sendo que Emmanuel agrega a esse rol o macaco (8).
Mesmo já desligados da alma grupo, os espíritos-animais superiores ainda não reúnem condições de se sustentar como individualidades após a morte, exatamente em razão da falta do pensamento contínuo que ainda não detêm. Daí que após o perecimento do veículo material, se não são aproveitados pela Espiritualidade para atividades específicas e com tempo certo, realinham-se às famílias a que se ajustam, preparando-se, quase que imediatamente, para um novo processo reencarnatório (2.2 e 6.1).
E na sucessão das oportunidades palingenésicas adestram-se na colheita das experiências, exaurindo as posições de aprendizado no nível em que se encontram, tudo segundo as diretrizes da Espiritualidade responsável por esses nossos irmãos menores em “cujos círculos evolutivos acanhados todos nós já nos debatemos”, conforme corajosa afirmação de Emmanuel, proferida por intermédio do médium Francisco Cândido Xavier no longínquo ano de 1938 (8.1).
Qualificando a atividade refletida e a manifestação emocional para as bordas da inteligência e do sentimento, tudo indica que passem a estagiar em planetas superiores, burilando a essência e a forma da alma-animal.
Na Revista Espírita de agosto de 1958 (9), observa-se relato segundo o qual, aos animais em Júpiter está reservado todo o trabalho material, como as obras pesadas, a semeadura e a colheita, além de apresentarem o corpo aprumado, evidenciando claras semelhanças com o molde humano.
Há, obviamente, outros estágios de transição do reino animal para o hominal, ressaltando considerar que os elementares da Teosofia seriam um desses elos da ascensão evolutiva, em posição de precedência à Humanidade, conforme breves referências contidas em Vampirismo, do saudoso J. Herculano Pires (10), Planeta Terra em Transição (11), e Técnicas da Mediunidade (12).
Ainda há muito por conhecermos acerca do processo gradativo de iluminação das criaturas, das posições experienciais disponíveis e de como esses elementos se conectam na verticalidade evolucionista.
De qualquer modo, não restam dúvidas de que nada no processo de Deus é estático ou acabado. Todos estamos sujeitos às coerções pedagógicas do mecanicismo, às repetições incalculáveis do arbítrio e às vivências sublimes do amor, sob o beneplácito Daquele que deposita em toda a Sua criação a centelha fulgurante das potências infinitas.
Cleyton Franco
(1) Obras Póstumas, Allan Kardec, cap. Manifestações dos Espíritos, item 7.
(2) O Livro dos Espíritos, questões 607, “a”
(2.1) Ibidem, questão 601
(2.2) Ibidem, questão 600
(3) O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis, primeira parte, cap. IX, pág. 166, 1ª ed., 3ª. Reimpressão, 2010, Edt. FEB.
(3.1) Há citações que incluem o reino mineral na frase de Léon Denis: “A alma dorme na pedra…”, que, entretanto, não se verifica nos escritos originais, s.m.j.
(4) O Consolador, FCX/Emmanuel, questão 79, pág. 59, 25ª. Ed., 2004, Edt. FEB.
(5) Dinâmica Espiritual da Evolução, Jorge Andréa dos Santos, cap. III, tópico: Energética Espiritual e Evolução, págs. 94-112, 1ª. ed., 1977, Edt. Caminho da Libertação.
(6) Evolução em Dois Mundos, FCX/André Luiz, 13ª ed., cap. IV, pág. 39, 1993, Edt. FEB.
(6.1) Ibidem, cap. XII, pág. 88.
(7) Na obra Missionários da Luz (FXC/André Luiz, cap. II, págs. 20/21 25ª ed., 1994, Edt. FEB), o Espírito de André Luiz esclarece a importância da epífise ou glândula pineal, aduzindo ser: “…a glândula da vida mental (…), preside aos fenômenos nervosos da emotividade (…) Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do campo vital, que a Ciência ainda não pode identificar, comanda as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade”.
(8) Emmanuel, FCX/Emmanuel, cap. XVII, pág. 97, 16ª. Ed., 1994, Edt. FEB.
(8.1) Ibidem, pág. 95
(9) Revista Espírita, Allan Kardec, agosto de 1858, pág. 352, 4ª ed., 3ª reimpressão, 2004, Edt. FEB
(10) Vampirismo, José Herculano Pires, cap. Parasitas e Vampiros, pag. 20, 9ª. ed., 2003, Edt. Paideia
(11) Planeta Terra em Transição, Izoldino Resende/Espírito Ismael, cap. 25, pág. 231, 1ª ed., 2011, Edt. Chico Xavier
(12) Técnica da Mediunidade, Carlos Torres Pastorino, cap. Plano Astral, pág. 181, 3ª ed., 1975, Sabedoria Edt.