Nunca antes o mundo teve tantas leis e órgãos reguladores dos direitos; nunca tantos filhos receberam instrução e conforto acima dos padrões que seus pais tiveram; o desenvolvimento tecnológico e inúmeras descobertas científicas vêm aumentando a expectativa de vida; somos coletivamente o maior cérebro que já existiu. O futuro parece promissor. [1]
Apesar de tantos avanços, uma porção relevante da população mundial vive infeliz. Muitos sentem estar se distanciando dos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade quando ainda observam distorções sociais tais como o abismo que separa pobres e ricos, a exploração infantil, o feminicídio, a discriminação das minorias, a manipulação e a alienação de pessoas menos capazes.
Até mesmo o progresso aparenta ser uma ameaça quando o desenvolvimento das novas tecnologias se retroalimenta e as máquinas vêm gradativamente substituindo o Homem. O trabalho, da forma como o conhecemos, ficará cada vez mais escasso. Acreditamos viver uma crise sem precedentes.
Esse desânimo não se relaciona apenas com o quadro econômico, mas com dois outros fatores. O primeiro é o atual modelo social que parece ser cada vez menos capaz de satisfazer o nosso desejo de felicidade, mesmo com todos os recursos e beleza. As mudanças por que passamos são tão velozes, que não permitem que tenhamos um sistema de valores referenciais para corrigirmos o rumo. Quando não conseguimos vislumbrar o futuro, desconfiamos dele.
O segundo fato que nos dá a sensação de “nau desgovernada” é a descrença de que os jovens serão capazes de levar adiante o que foi construído até o momento.
“A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais, são simplesmente maus”.
“Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível”.
Mas esse não é um fenômeno exclusivo da nossa época. Antes de julgar, urge esclarecer a autoria das sentenças acima. A primeira foi dita por Sócrates (470-399 a.C.), a segunda, por Hesíodo (720 a.C.). Há milênios críticas são lugar-comum nos lares. Os interesses dos jovens raramente são compatíveis com os das gerações predecessoras. A despeito de todo o ceticismo, eles acabam por se tornar adultos e, como tal, vêm fazendo a Humanidade evoluir ao longo de sua existência.
Há dois mil anos, Jesus nos presenteou com a Boa Nova. Com sua mensagem de amor e atos de tolerância, compaixão e caridade, abalou o sistema social ao acolher os “pobres de espírito” e os párias. Foi crucificado por representar uma ameaça ao statu quo vigente e, ainda assim, sua atitude inovadora semeou um futuro melhor.
O novo frequentemente gera insegurança porque nos tira da zona de conforto e nos confronta com nossas limitações, mas também costuma ser a resposta para as transformações necessárias ao crescimento do Homem. Em certa época, a escravidão foi vista como natural, hoje, é abominada em quase todo o globo; as mulheres, antes consideradas inferiores aos homens, vêm paulatinamente conquistando respeito e igualdade; o trabalho infantil já foi prática comum em todas as sociedades e gradativamente vem sendo banido. Esses e muitos outros exemplos demonstram o quanto a Humanidade vem evoluindo e aproximando as leis do Homem às leis de Deus. Isso ocorre graças àqueles que reconhecem a necessidade da mudança e lutam por ela. Essas podem ocorrer em qualquer fase das nossas vidas, mas sua semente costuma ser plantada cedo.
Em suma, cada geração tem o seu papel social. Os mais jovens precisam se encantar e também nutrir-se de alguma teimosia que lhes preserve os sonhos, porque um dia serão o motor do mundo. Quanto aos mais maduros, que já foram idealistas e realizaram transformações que consideravam importantes, são aqueles que mantêm o planeta em movimento e hoje transmitem experiência.
Esses devem lembrar que, quando moços, foram atraídos por aquilo que lhes atiçou a curiosidade, pela novidade; mais tarde, deram preferência à qualidade. Mas como saber se o novo é bom rejeitando-o, sem observar, sem experimentar ou ao menos considerar que pode ter consequências boas? A sabedoria que a experiência nos confere deve servir de combustível em nossa missão perante os que nos sucedem, para que possam se tornar capazes de discernir e criar o bem através do novo, e não limitar as suas possibilidades.
Criticamos, mas também precisamos reconhecer a evolução que os nossos jovens representam frente às gerações que os precederam. Hoje em dia, são eles os mais tolerantes com a diversidade. Solidários e inclusivos, estão cada vez mais engajados no trabalho voluntário.
“Ama ao próximo como a ti mesmo” Jesus
Eles preferem as bicicletas e carros compartilhados ao automóvel próprio e são os mais preocupados com o meio ambiente e com a sustentabilidade do planeta. Essa é a primeira geração que ganha menos que seus pais. Estão menos preocupados em “ter” e mais em “ser” e têm como alvo a felicidade em vez da riqueza. Recusam-se a enxergar o trabalho como um fardo, mas como realização. Esses são valores alinhados com os que Jesus nos trouxe como proposta de conduta e com o que os economistas e sociólogos enxergam para o futuro.
“Não se pode servir a Deus e a Mamon” Jesus
Enquanto as últimas gerações aprenderam a produzir riquezas, as próximas têm a tarefa de distribuí-la. O emprego das máquinas está deixando para os Seres Humanos as atividades de caráter intelectual e criativo. Especialistas entendem que, em um futuro próximo, a economia baseada na doação será melhor para o planeta do que a baseada na concorrência. O compartilhamento é visto como uma das soluções para um globo sustentável, e a solidariedade, a chave para extinguir a miséria.
“Fora da caridade não há salvação”[2]
Estamos em plena transição planetária, a caminho de implementar uma sociedade mais justa e solidária e dar mais um passo na direção que Jesus indicou. É inegável que boa parte da geração que nos sucede parece ter suficiente substância para as mudanças que estão por vir. Isso não significa que essa seja uma tarefa simples ou que todos serão capazes de executá-la. Se os mais maduros se afligem com o futuro, o que devem sentir os jovens?
Aos que viveram mais, cabe a imensurável responsabilidade de educar pelo exemplo e com amor, de ensinar os princípios norteadores evangélicos, de orientar para a reflexão. Devemos tomar o cuidado de aconselhar construtivamente de forma a mostrar-lhes que o momento é de lapidação de si mesmo e de comunhão com o próximo. Principalmente, precisamos dar o exemplo e expressar a nossa fé[3] em Deus, que em Sua sabedoria e bondade provê exatamente o necessário para o nosso crescimento. Dessa forma, esses futuros adultos poderão ser capazes de vencer as incertezas e encontrar em si o alicerce necessário para continuar a transformar a Terra em um lugar melhor.
Tenhamos fé! Trabalhemos juntos!
“Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo.”[4]
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Lila
[1] O Sociólogo italiano Domenico De Masi (1938) é autor de “O Ócio Criativo”, ed (2000) ed Sextante e O Futuro Chegou, ed Quitanda Cultural (2014), obras utilizadas como fonte para o texto.
[2] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap XV.
[3] Sugestão de leitura: Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 585 e seguintes.
[4] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 5.