Em várias ocasiões temos podido observar que o Cristo Jesus após realizar curas aos portadores de moléstias do corpo e da alma, costumava dizer; “Vai, e não peques mais”.
Foi assim com Natanael Ben Elias, paralítico, habitante de Cafarnaum. Levado por amigos à presença de Jesus, quando o Mestre passava por aquela região, obteve dele a cura tão desejada, e Jesus, que alegara conhecê-lo desde “ontem”, devolveu-lhe os movimentos, dizendo em seguida: “Teus pecados estão perdoados; levanta-te e anda”. Neste caso o restabelecimento trouxe modificações no campo orgânico, físico.
Todavia, no episódio verificado com a mulher adúltera, que levada ao Mestre para que a julgasse, de conformidade com as leis de então, onde a infratora deveria ter morte por apedrejamento, o Rabi da Galileia primeiro questionou os acusadores, concitando-os, em seguida, a atirar a primeira pedra aquele que estivesse sem pecado… Isto ocasionou a retirada de todos. Dirigindo-se, então, a ela, diz; “Se ninguém te condenou, eu também não te condeno; vai e não peques mais”. Desta feita, a atuação objetivou a transformação moral, espiritual.
Com estes dois exemplos sintetizamos os demais fatos semelhantes ocorridos em Seu apostolado de amor. Ambas as criaturas obtiveram do Mestre a graça do perdão. Ao primeiro lhe fora concedido porque já se achava em condições de rebê-lo, pois quitara sua dívida em relação ao passado pecaminoso (ontem), que o Cristo tão sabiamente auscultara. À segunda, porque, afastando dela os obsessores que a atormentavam, permitia-lhe seguir uma vida digna, daquele momento em diante.
Para que as curas permanecessem com o beneficiado, o Divino Pastor era enfático ao pronunciar o “Não peques mais”… Assim é que, muitos dos leprosos que foram limpos por Ele, voltaram a ter a doença, pela falta de observância daquela advertência. Examinemos, para melhor compreensão, o significado da palavra pecado.
Os Espíritos foram criados simples e ignorantes para, por mérito próprio, conquistarem as qualidades morais necessárias que os fizessem chegar a Deus. Há, portanto, um alvo a ser atingido, um objetivo na existência da criatura, que se realiza gradativamente a cada oportunidade reencarnatória.
Quando o Ser erra, se equivoca, desvia-se do fim a que se propõe, comete pecado.
O alvo é o cumprimento da Lei Divina. Errar o alvo é descumprir essa Lei, e, por conseguinte, descobrir o ponto fraco que o fez pecar (errar): teimosia? ignorância? rebeldia? maldade?
A partir desses elementos, pode-se refletir à luz da Doutrina Espírita, sobre as características ainda tão fortemente impregnadas no Espírito, que sob ação coercitiva faz com que os indivíduos cometam “pecados”, isto é, saiam dos caminhos retos para penetrarem nos sinuosos e estreitos, que os distanciam mais e mais do alvo…
Uma reflexão profunda e sincera leva o Ser a querer recuperar-se, salvar-se.
Jesus foi o Espírito eleito pelo Senhor para “salvar” os pecadores da Terra. Não o fez morrendo na cruz, como muitos, inadvertidamente julgam, mas trazendo-nos o Seu Evangelho, roteiro seguro para que ninguém se perca, e aos que se desviaram da rota, a ela retornem.
Quando alguém perde a referência da Lei Divina que está na sua consciência, portanto, quando a alma perde o contato com o seu interior, quando deixa de ouvir a “voz da consciência”, esse desvio, essa perda de rumo, não representa exatamente a definição de pecado? Errar o alvo?
Há uma passagem evangélica em que Jesus, dirigindo-se aos discípulos e apóstolos, diz: “Pai, eu não peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal”. Sabia Ele que o mal é uma armadilha que precisa ser evitada.
O Mestre sempre acolheu o pecador, mas nunca o pecado. Sua fala nunca foi relativista; o que é certo é certo; o que é errado é errado. Quem erra merece acolhimento e tratamento; não aplauso, não conivência. Eis aí a prática da indulgência: compreende o pecador e o auxilia, mas não aceita o pecado.
No primeiro fato mencionado no início deste estudo, Natanael, após a cura, voltou a frequentar os lugares impróprios a que estava acostumado, reiniciando a vida dissoluta, repleta de vícios a que se habituara e que muito o alegravam. Exemplo típico da teimosia, rebeldia… Continuou a se desviar do alvo divino.
Detenhamo-nos por instantes, no imperativo da frase: “Vai…” Com esse comando o Mestre assegurou a reabilitação e o perdão, através do processo de resgate e renovação. Instigou a dinâmica de mudança de hábitos, com a valorização da vida em cada fato e circunstância.
A recomendação permanece viva e atuante nos corações que emergem dos séculos difíceis, na busca de acertos que suavizem a caminhada em direção ao alvo. Os reflexos de experiências cristalizadas no erro, gritam, ainda, com intensidade no íntimo de nosso Ser, mas, bafejados pelas claridades da Boa Nova, guardemos na acústica da alma a observação de Jesus: “Vai…e não peques mais”.
Yvone
Fontes de consulta:
- Primícias do Reino – Amélia Rodrigues / Divaldo P. Franco – cap. 7
- Luz Imperecível – Grupo Espírita Emmanuel – cap. 205
- Haroldo Dutra (Web Radio Fraternidade).