A mídia destacou recentes episódios de suicídio envolvendo alunos do ensino médio, na faixa etária entre 15 e 17 anos, que frequentavam conceituados colégios da Capital do Estado de São Paulo. Lamentavelmente, esses casos não são isolados. Estatísticas do Ministério da Saúde registram que, no ano passado, ocorreram nove deles envolvendo rapazes entre 15 e 29 anos para cada grupo de 100.000 brasileiros e outros tantos – metade desse índice – de meninas na mesma faixa etária. Estudos realizados na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, apontou o espantoso aumento de quase 40% de casos em indivíduos entre 12 e 25 anos de idade, nestes últimos cinco anos, o que aponta para um cenário calamitoso.
Estudos e estatísticas não faltam. Em face deles, exsurgiu a necessidade de se apurar a causa, encontrada na depressão, na ansiedade e nos males sociais como bullying e stress. Mas o que teria acontecido ao jovem de hoje, que não se vê obrigado aos enfretamentos e às dificuldades pelas quais passaram seus ancestrais quando transitavam pela mesma faixa? A resposta que aqui se resume, sem a mínima pretensão de esgotar os nobilíssimos estudos dos psiquiatras, psicólogos e pesquisadores da área, está concentrada na mudança de comportamento que conduz os jovens a um processo de solidão e distanciamento do núcleo familiar, podendo-se encontrar sua raiz no excessivo uso das redes sociais, dentre outros fatores que envolvem a vida moderna. Desde cedo, os smartphones são dedilhados freneticamente em busca de contatos porta afora do abrigo familiar, como se a magia da vida estivesse em algum lugar especial situado num mundo de fantasias. Os adolescentes passam dia e noite conectados e disponíveis a conversações que nem sempre chegam prontamente, demora essa que por si só acende o estopim da ansiedade, campo fértil para o stress e a depressão.
Se esse quadro é preocupante, não se pode deixar de lado o resultado de uma estatística realizada junto às Federativas Estaduais do Movimento Espírita Brasileiro, divulgado em Reformador de fevereiro de 2017, que aponta para o expressivo número de crianças, algumas muito pequenas, portadoras de tristeza excessiva, o que nos leva a pensar mais detidamente sobre as causas pretéritas das aflições atuais.
Juntando-se esses dois ingredientes, façamos uma breve incursão sobre os ensinamentos doutrinários com os quais pretendemos obter uma resposta para a questão posta. De pronto, recordemos o fundamento básico de que uma criança não é um Espírito recém-criado, e sim uma alma criada simples e ignorante, que em nova roupagem física experimenta oportunidades renovadoras em cumprimento a um projeto evolutivo em busca da redenção. Bem por isso, traz em seu acervo virtudes e defeitos, sendo estes últimos os causadores de sua aflição. Trata-se de questões morais mal resolvidas no passado, que se projetam para a vida atual, assim como as de hoje o serão para as de futuro.
Quando o processo depressivo se instala na infância, pode ter origem biológica, tendo como causa uma possível disfunção dos neurotransmissores devido à herança genética. Nesses casos, a sede do transtorno está no próprio Espírito, que ao reencarnar imprime no novo instrumento físico sua imperfeição. Tais são as denominadas causas endógenas, que predispõem o agente a recepcionar as causas exógenas, ou seja, as influências externas, tais como maus-tratos, abandono, descuidos quanto à alimentação, higiene, vestuário, afeto, atenção, educação etc. e/ou abusos de natureza física, emocional ou mesmo sexual.
Supondo-se inocorrentes as causas externas durante a infância, e venham elas a concorrer com o precário estado emocional dessa mesma criança quando adolescente – adolescência que muitas vezes avança patologicamente ao longo de muitos anos até 24 ou 25 anos – instaura-se aí o processo depressivo cujo germe jazia hibernando à espera de um fator desencadeante.
Esse fenômeno estudado pela Medicina constitui enfermidade que atinge perto de 300 milhões de pessoas e todas as faixas etárias, conforme estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS). A depressão infantil chama mais atenção porque o menor encontra dificuldade em expressar com clareza suas emoções, embora deixe transparecer sinais que os adultos devem observar para acudirem a tempo: a) pouco interesse por atividades que gostava; b) irritabilidade; c) agressividade; d) diminuição da atividade; e) tristeza; f) isolamento; g) piora no rendimento escolar; h) apatia; i) falta de iniciativa; h) falta de enturmar com outas crianças: k) redução ou aumento de apetite: l) choro excessivo; m) medo exagerado; n) predisposição para o adoecimento; o) alterações do sono; p) redução da autoestima; q) sentimento de culpa; r) dificuldade de se concentrar nas atividades do dia a dia. Anota-se que a decisão de se matar não ocorre de maneira rápida, de sorte que o indivíduo que pretende fazê-lo, sempre deixa algum desses sinais, permitindo que nesse intervalo entre a ideação e a consumação possa haver intervenção eficaz.
Não obstante essas sumárias observações de natureza comportamental, fruto dos desequilíbrios psíquicos, importa anotar que justamente por isso, ou seja, pelo fato dessas pessoas se revelarem fragilizadas, é que sobre expressivo número delas se desencadeiam processos obsessivos. Com efeito, Espíritos vingativos, inescrupulosos, zombeteiros aproveitam-se da situação e da invigilância dos guardiães da criança para fazerem delas prisioneiras de suas ações nefastas, gerando perturbações acerbas em seu psiquismo, com reflexos para a estrutura física ainda em formação.
Anotemos, didaticamente, que os fatores de risco mais comuns de tentativa de suicídio são: depressão; problemas amorosos ou familiares; uso de drogas ou álcool; bullying; traumas emocionais; gravidez na adolescência.
Posto isso recordemos, ainda que sumariamente, as terríveis consequências de um suicídio. A dor extrema que o Espírito padece ao romper abruptamente o laço fluídico que o prendia ao corpo físico e o desequilíbrio gerado pela constatação doentia de que o autoextermínio desejado não ocorreu, implicam num dano de consequências severas para o cumprimento da Lei de Progresso. O desditoso irmão terá que escalar a montanha escarpada em busca do reequilíbrio, enfrentando toda a sorte de dificuldades inerentes ao seu retardo, para então retomar a trilha do crescimento. Este alto preço deve ser evitado a todo custo!
Ante esses desaires, é de se dar cumprimento ao apelo formulado pelo Espírito Benedita Fernandes: “Voltemo-nos para a infância e a juventude e leguemos-lhes segurança moral e amor, mediante os exemplos de equilíbrio e de paz, indispensáveis à felicidade deles e de todos nós, herdeiros que somos das próprias ações”. (Divaldo P. Franco – S.O.S. família. Obra ditada por Joanna de Ângelis e diversos Espíritos, 2ª edição, Salvador: Leal, 1994, cap. 20 – Alienação Infantojuvenil e Educação).
Marcus Vinicius
Fontes:
Reformador n. 2.269, abril 2018;
Livro dos Espíritos (O) – Allan Kardec – Tradução: J. Herculano Pires – Editora Lake – Cap. VII, item VI;
Revista Veja – Edição 2.579 – Abril 2.018;