Uma jovem tartaruga foi insultada por um esperto macaco pelo fato de se locomover muito lentamente. Ela, que nunca tinha se preocupado com essa situação, ficou magoada e passou a refletir sobre o assunto.
Constatou que, de fato, comparada a quase todos os animais da floresta, as tartarugas estavam em desvantagem.
Infeliz com a descoberta, foi conversar com outras tartarugas, igualmente jovens, e todas concordaram com ela. Havia alguma coisa errada! Por que foram feitas daquela maneira? De quem seria a culpa? O que poderia ser feito para corrigir o erro?
O macaco, percebendo que o seu insulto havia produzido efeito, convenceu-as de que seria possível andarem mais depressa. Precisavam ensaiar, insistia. Ofereceu-se como instrutor.
A notícia chegou ao conhecimento das tartarugas mais velhas que tudo fizeram para dissuadi-las da ideia. As jovens se rebelaram. Tinham outra cabeça e outra maneira de ver as coisas. Não aceitavam a resignação dos adultos e iriam promover mudanças na espécie.
Passaram a ser treinadas pelo macaco. A líder do grupo, que havia feito a descoberta de sua lentidão, era a mais esforçada. Seguiu todos os conselhos, ensaiava todos os dias, e apesar das dores nos membros, sentidas ao final de cada exercício, não desistia, confiante na recompensa que o sacrifício traria.
Algum tempo depois, o macaco, gabando-se de ser o autor de um novo milagre, convidou todos os animais para assistirem a uma demonstração do seu trabalho. A tartaruga líder faria uma exibição, percorrendo uma determinada distância.
No dia do evento, formou-se um longo corredor. Animais de todos os lados, muita algazarra e muita expectativa. O macaco dá a largada e lá vai a nossa heroína. “Surpreendente!” “Extraordinário!” “Magnífico!” São os primeiros gritos da bicharada. A tartaruga se empolga. Anda um bom pedaço, batendo recordes de velocidade. Surgem mais incentivos: “vamos…, vamos…, corra mais…, corra mais…, sensacional…, maravilha…!” A tartaruguinha se esforça, mas vai cansando, sentindo suas forças se esgotarem. Pensa em desistir, mas o incentivo é mais forte: vamos, vamos, não desista…, mais força…, isso…, adiante…, adiante”.
Depois de um longo trecho, a corredora está fatigada. Sente o coração demasiadamente acelerado, o pulmão trabalhando com dificuldade, os membros fugindo ao seu controle, arrebentando por dentro. Falta uma pequena distância, mas ela já não tem muito domínio de si. Sua cabeça parece estourar, falta-lhe o ar, ainda escuta os últimos gritos: “vamos…, vamos…, coragem…, força…, força!” Faz um esforço superior à sua capacidade e… bumba!… o coração não resistiu! A tartaruguinha morreu!
Dias depois, no local onde morreu, foi fincada uma placa, escrita pelas jovens tartaruguinhas sobreviventes, onde se podia ler: “O bom de ser tartaruga é poder andar a passos de tartaruga”.
M. J. Brito – (excertos)