Assim que a notícia da decapitação de João Batista chegou ao conhecimento de Jesus, Ele, consternado, convidou os apóstolos a repousarem um pouco, à parte, num lugar deserto. Isso era necessário porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham buscando atendimento, de sorte que o afastamento da multidão lhes daria uma folga para melhor renderem homenagem ao companheiro que acabava de partir após gloriosa missão.
Para tanto, resolveram utilizar uma embarcação a fim de evitar fossem seguidos. Aqui permitimo-nos uma breve explicação. Do relato de Mateus (14:13): “Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte…”, depreende-se que o Mestre teria se deslocado sozinho dirigindo Ele mesmo o barco. Contudo, essa passagem mereceu de Marcos (6:32) uma outra narrativa: “E foram sós num barco, para um lugar deserto”, dando a entender que os discípulos O acompanharam, pois aqui o verbo encontra-se no plural, mas de qualquer forma, sem a interferência do povo, uma vez que a multidão, segundo o próprio Mateus, seguiu por terra (cf. mesmo versículo). O fato é que, trabalhando juntos no atendimento aos necessitados, Jesus teria convidado a todos para o repouso; além disso, pelo tamanho da embarcação, uma só pessoa teria dificuldades de manejá-la. Por isso, a versão de que Jesus se retirou acompanhado pelos discípulos afigura-se mais convincente.
Jesus sempre trabalhava firme junto à multidão, pregando e dando a assistência necessária, seja no âmbito material, seja no espiritual. Terminada cada tarefa diária, estabelecia a pausa necessária para meditar, à parte, comungando com o Pai, na oração solitária. Considerando o esforço hercúleo de se ajustar ao corpo denso, o que naturalmente Lhe causava maior desgaste, Sua necessidade de recomposição era diferenciada. Por isso, dispunha-se a orar com maior frequência. Detalhe à parte, todos os que se encontram em padrão de atendimento e têm conhecimento das Leis de Trabalho e de Progresso sabem da necessidade de doação incondicional, com perda parcial de energia, cuja reposição se dá através da alimentação, do repouso e da absorção das energias psíquicas hauridas através da oração.
Sabido que a oração ilumina o trabalho que se pratica em cumprimento dessas leis divinas, dela não se pode prescindir. Observemos que, se em alguns momentos Jesus orou com seus apóstolos e discípulos, em outros o fez isoladamente, porque as circunstâncias exigiam privacidade absoluta.
Um forte exemplo disso foi quando, ao chegar ao Getsêmani, Jesus disse aos discípulos: ASSENTAI-VOS AQUI, ENQUANTO EU VOU ORAR. Levando consigo apenas Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai. Deu alguns passos e prostrou-se em terra, pedindo ao Pai que se possível o poupasse, mas de qualquer forma fosse feita a Sua Vontade.
A tarefa terrena compreende o aspecto educativo associado à oportunidade de ajustamento mais o desenvolvimento dos pendores espirituais. O desgaste resultante desses enfrentamentos é enorme, não só para o corpo físico, mas para o corpo bioplasmático. Muitas situações interferem no psiquismo e dependem da ajuda mental que, por sua vez, capta do cosmo as energias adicionais. Ali circulam as fontes noúricas a nos influenciar. Somos ao mesmo tempo psicoreceptores e psicotransmissores. É necessário aprendamos a nos retirar dos lugares comuns, onde a nossa mente se escraviza, e buscar abrigo no silêncio do altar íntimo.
Ainda que navegando em mar revolto, cujas ondas mais bravias foram provocadas pelos ventos fortes de nossa própria ignorância e outras tantas resultado de invigilância, saibamos nos acalmar no barco seguro da prece, momento em que tudo cessa para dar lugar à harmonia interior.
Esse barco é o lugar à parte, que fisicamente pode estar aqui ou acolá, porque estará sempre dentro de nós mesmos, ou seja, em qualquer lugar onde estivermos. A meditação nos levará a apreciar os atos da vida e programar os passos subsequentes. A prece fortalecerá nossos propósitos.
Segundo Brian Weiss([i]), “A meditação é a arte ou a técnica de silenciar a mente para que os pensamentos e o burburinho que normalmente atordoam nossa consciência cessem. No silêncio da mente calada, a pessoa que está meditando começa a se tornar um observador, a alcançar um nível de desapego e a eventualmente atingir um estado mais elevado de consciência”. A mente desenvolve uma progressiva capacidade de concentração e focalização, abrindo as portas do subconsciente. Forma de encontrarmos com o Eu Superior, em momento a sós conosco mesmo. Coisa difícil nos dias de hoje, mas que pode ser alcançada através de pequenos exercícios diários. A prática da meditação nos ajuda a LIMPAR A MENTE. Por um período determinado, nos desembaraça das tensões, de pensamentos intrusos e daquilo que retemos na consciência.
Os benefícios se estendem na superação de conflitos pessoais e de relacionamentos; na cura de certas enfermidades e na iniciação e desenvolvimento espiritual, pois aumenta a capacidade de concentração. Além disso, quanto mais nos aprofundarmos nas reflexões, mais nos fortaleceremos.
Cada exercício de meditação é como se cada expiração expulsasse do corpo a tensão e os elementos nocivos, e cada inspiração absorvesse energias boas, dotadas de imensa beleza regeneradora. Mas essa é uma prática que requer persistência.
A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o Ser a quem nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor.
Através da prece o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos que o vêm sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhes bons pensamentos e transmitir força moral para vencer as dificuldade e assumir o caminho da redenção.
De Emmanuel([ii]) selecionamos o seguinte trecho: “Concentra-te, por alguns minutos, em companhia do Cristo, no barco de teus pensamentos mais puros, sobre o mar das preocupações cotidianas…Ele te lavará a mente eivada de aflições. Balsamizará tuas úlceras. Dar-te-á salutares alvitres. Basta que te cales e Sua voz falará no sublime silêncio. Oferece-Lhe um coração valoroso na fé e na realização, e Seus braços divinos farão o resto. Regressarás, então, aos círculos da luta, revigorado, forte e feliz.”
Aprendamos a administrar nosso tempo de molde a dedicar alguns minutos diários à reflexão e à prece, e o resultado será surpreendente.
Marcus Vinicius
([i]) Divina sabedoria dos mestres (A) – Editora Sextante – 4ª edição – pág. 192.
([ii]) Caminho, verdade e vida – pelo Espírito de Emmanuel. Psicografia de Chico Xavier- FEB – nº 168.