“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.”[1]
A reencarnação é uma Lei Natural à qual nenhum Espírito vinculado ao Planeta Terra pode escusar. Ela é uma oportunidade que a Criação concede aos Homens, a cada existência material, de reparar os erros cometidos nas existências anteriores e de evoluir.
Ao despertar no plano material, o Homem se apresenta pequenino e indefeso. Os bebês são associados à inocência, pureza e inexperiência, e essa imagem só é verdadeira devido ao esquecimento[2] pelo qual o Espírito é acometido no momento do reencarne. Aquele corpo miúdo e frágil é o abrigo de um Espírito com séculos, ou milênios de existência.
Crianças são, como todos os seres encarnados, Espíritos em evolução. Podem ser mais antigos ou mais jovens do que seus pais e, também, mais sábios ou mais ignorantes do que eles.[3] Não há qualquer relação entre a antiguidade de um Espírito e o seu adiantamento espiritual, uma vez que é necessário exercitar o livre-arbítrio na direção do bem, de forma constante e persistente, para que a evolução ocorra.
Quando Jesus disse: “Deixai vir a mim os pequeninos, e não os embaraceis, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham. Em verdade vos digo que todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.” [4], Ele associou as crianças à pureza, mesmo tendo consciência das imperfeições que arrastavam consigo ao longo de suas sucessivas encarnações.
Ao desembarcarem no mundo material, esses miúdos se apresentam como folhas de papel em branco, puros. São as experiências diárias que fazem aflorar as tendências de origem remota conforme são submetidos aos estímulos que desafiam suas fraquezas e aprendizados, formando seu caráter e definindo seu comportamento.
O Cristo sabia que os Homens não renasciam puros, mas esperava que vivessem as suas vidas no amor, na simplicidade, na pureza de sentimentos, como crianças que ainda não foram contaminadas pela existência mundana. Para Ele, são as escolhas direcionadas no bem que depuram o Espírito e, portanto, guiam para o “Reino dos Céus”.
A responsabilidade dos pais e educadores para com a criança colocada sob seus cuidados é imensurável, porque ela é um Ser inexperiente na presente existência terrena e é preciso aproveitar ao máximo o intervalo entre o nascimento e o momento em que as más tendências começam a aflorar. “Durante o tempo em que os seus instintos permanecem latentes, ela é mais dócil, e por isso mesmo mais acessível às impressões que podem modificar a sua natureza e fazê-la progredir”.[5]
É necessário prestar atenção aos deslizes morais, aos sinais que levam aos vícios, ao valor dado à matéria, e lapidar a alma que se encontra sob os cuidados maduros antes que as práticas maléficas pretéritas e atuais se instalem. Também é importante reforçar as atitudes voltadas a estimular o esforço pessoal, a força de vontade, a solidariedade, dentre outras qualidades fundamentais ao Homem de bem.
A obra mediúnica “Nosso Lar”, de autoria do Espírito André Luiz, psicografada por Chico Xavier, revela a importância que o mundo espiritual atribui ao cuidado com as crianças na seguinte passagem, contada pela mãe de Lísias: “Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas horas de serviço são contadas em dobro, o que lhe pode dar ideia da importância do serviço maternal no plano terreno.”[6]
Para a Doutrina Espírita, a maternidade é mais uma demonstração da providência e misericórdia Divina. Não por acaso, as mães enxergam os seus filhos como anjos e sua solicitude costuma ser incondicional. No Capítulo VI de “O Livro dos Espíritos”, a resposta à pergunta 890 reforça essa afirmativa: “A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos, no interesse de sua conservação (…), ele persiste por toda a vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes; sobrevive mesmo à própria morte, acompanhando o filho além da tumba.”[7]
A Terra vive um momento em que mães e pais precisam ausentar-se do lar para executarem as suas atividades laborais ao longo de muitas horas por dia. No entanto, prover uma boa educação está mais relacionado à qualidade do que à quantidade do tempo passado com a criança. Educar é mostrar-se efetivamente disponível durante o período de convívio; é observar cuidadosamente as palavras e atitudes dos filhos; é dar bons exemplos e aplicar limites bem definidos. Educar é amar.
É um grave erro deixar a escolha do caminho a ser trilhado nas mãos desses pequenos Seres visto que, neles, o livre-arbítrio ainda está em estado latente. O poder de escolha vai desabrochando na medida em que desenvolvem as suas faculdades[8]. A omissão perante a criança constitui retardamento da evolução planetária que só o amor e a caridade propiciam. A inércia nunca é uma opção; é abandono de incapaz.
É dever dos pais guiar a criança pelo caminho do amor. Antes do nascimento, um compromisso se instalou entre esses Espíritos e não é por acaso que suas vidas estão entrelaçadas. Todos os Seres são parte de um planejamento maior. Todos possuem responsabilidade perante a evolução do próximo e do Planeta[9].
Lila
[1] Mateus, V: 8.
[2] Leia mais sobre o tema “esquecimento do passado” em nosso website, no informativo de 7 de junho de 2017. https://centroespiritacaminhodapaz.com.br/2017/06/07/esquecimento-das-vidas-passadas/
[3] Livro dos Espíritos, Capítulo IV, pergunta 197.
[4] Marcos, X: 13-16.
[5] O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VIII, item 3.
[6] Capítulo XX.
[7] O textos deste parágrafo e do anterior foram escritos em épocas em que os pais, então chamados provedores, eram emocionalmente mais distantes dos filhos. Hoje em dia, pais e mães têm a mesma proximidade e responsabilidade perante aos filhos e sentimentos bem parecidos em relação à prole.
[8] O Livro dos Espíritos, pergunta 844.
[9] O Livro dos Espíritos, pergunta 573.