As pessoas familiarizadas com a Doutrina Reencarnacionista sabem da necessidade que tem o Espírito de passar pela vida corporal a fim de cumprir os desígnios de Deus quanto a sua incessante evolução moral e intelectual. Por essa razão, o processo de nascer, morrer, nascer de novo constitui fenômeno natural destinado ao cumprimento da Lei de Progresso, o que se dá mediante a frenagem das falhas de caráter e das imperfeições morais.
Mas a maioria absoluta não resgata em sua memória atual as experiências passadas, pondo nisso um sério obstáculo para aceitação dessa realidade, não obstante as fartas comprovações científicas e investigações em variadas vertentes. A respeito do tema, Allan Kardec esclarece: “…Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.”([i])
De pronto fica claro que o esquecimento do passado constitui Misericórdia Divina. Este planeta é habitado predominantemente por Espíritos atrasados, comprometidos com o passado, atormentados diante das falhas cometidas ou perdidos nas ilusões, conquanto credores de respeitáveis virtudes, e que precisam recomeçar isentos das cargas psíquicas perturbadoras, as quais prejudicariam a conquista de novos valores. Não fosse assim, quase nada avançariam ante a perturbação constante de seus próprios quadros vivenciais. Fica claro que esse esquecimento é temporário, posto que nada se perde no acervo da individualidade, conforme ficou comprovado através de vastas experiências sob indução hipnótica.
O processo reencarnatório apresenta várias nuances, como acontece ao se deixar o corpo físico, dependendo das particularidades essenciais da entidade reencarnante, de sorte a não se poder estabelecer um procedimento padronizado. Para os Espíritos Superiores isso ocorre com notável facilidade, pois eles estão aptos a interferir diretamente, enquanto para os menos evoluídos o processo é denso, como densa é sua estrutura psicossomática. Adotando um modelo intermédio, o Espírito André Luiz elucidou a questão, que resumidamente passamos a descrever: os candidatos ao retorno ao corpo denso “…são admitidos a instituições-hospitais em que magnetizadores desencarnados, bastante competentes pela nobreza íntima, se incumbem de aplicar-lhes fluidos balsamizantes que os adormeçam, por períodos variáveis, de conformidade com a evolução moral que enunciem, a fim de que os princípios psicossomáticos se adaptem a justo restringimento, em bases de sonoterapia. Desse modo, regressam ao berço humano nas condições precisas, recolhidos a novo corpo, qual operário detentor de virtudes e defeitos a quem se concede novo uniforme de trabalho e nova oportunidade de realização”. “E senhor das experiências adquiridas que lhe despontam no Ser, em forma de tendências e impulsos, recebe o Espírito um corpo físico inteiramente novo, em olvido temporário, mas não absoluto, das experiências pregressas…”.([ii]) O restringimento consiste na condensação do perispírito a sua expressão mínima, alterando-se-lhe o movimento vibratório para que ele possa se amoldar à nova contingência física.
Como resume Léon Denis ([iii]): “É necessária a ignorância do passado para que toda a atividade do homem se consagre ao presente e ao futuro, para que se submeta à lei do esforço e se conforme com as condições do meio em que renasce”. O esquecimento permite-nos reconstruir personalidades melhores, ampliando nossas faculdades e dilatando as experiências.
Reportamo-nos ao exemplo da reencarnação da mãe de André Luiz, por ele relatada em Nosso Lar: com o auxílio dos Instrutores Espirituais, ela programou sua reencarnação na qualidade de esposa de Laerte, pai carnal de André na última experiência, para receber como filhas dois Espíritos de mulheres que a ele permaneciam vinculadas, amantes que lhe foram na última existência.([iv]) Sem o esquecimento do passado, o relacionamento dessas criaturas seria um tormento, prejudicando o projeto reencarnatório que visava estabelecer a harmonia entre essas criaturas de Deus.
Não obstante essa realidade, considerável número de encarnados é capaz de registrar algumas impressões mais fortes de sua hereditariedade espiritual, bastando prestar a atenção nos próprios gestos, nas tendências, nos traços do caráter. O exercício de meditação diária muito contribui nesse tentame. Com isso, podem melhor direcionar suas propostas de reforma íntima. Espíritos mais evoluídos recordam melhor suas vidas passadas, primeiro porque já não padecem o escolho das reminiscências trevosas; segundo, porque têm superior controle de suas emoções. Consta que Pitágoras se recordava pelo menos de três das suas existência e dos nomes que, em cada uma dela, usava. ([v])
A propósito das investigações conhecidas, sempre realizadas com cunho científico, reportamo-nos ao caso narrado por Herminio C. Miranda ([vi]), extraído da obra ”The Search for a Soul – Taylor Caldwell’s Psychic Lives” (À procura de uma alma – As vidas psíquicas de Taylor Caldwell), de autoria de Jess Stearn (1973), envolvendo a famosa romancista inglesa Taylor Caldwell, pessoa que inadmitia a reencarnação. Sob os cuidados de um hipnotizador, ela descreveu um rosário de experiências passadas, dentre elas um emocionante encontro com o Mestre Jesus, em Jerusalém.
Pelo estudo acima, conquanto sumário, extrai-se a conclusão de que devemos nos despreocupar em saber a respeito de nosso passado existencial, porquanto a ignorância sobre ele constitui uma benesse divina para o sucesso de nosso programa evolutivo e que, se dele tivermos lampejos de memória, que o seja em auxílio de um esforço programado na direção de nossa libertação.
Marcus Vinicius
[i] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – Tradução de Guillon Ribeiro – FEB – Cap. V, pág. 85
[ii] Evolução em Dois Mundos –Esp. André Luiz – médium Francisco C Xavier e Waldo Vieira – FEB – págs. 152/154
[iii] O Problema do Ser, do Destino e da Dor – Léon Denis – FEB – pág. 215
[iv] Nosso Lar – Esp. de André Luiz – pelo médium Francisco C. Xavier – FEB – Cap. 46 – pág. 253/258
[v] O Problema do Ser, do Destino e da Dor – Idem – pág. 201
[vi] Reencarnação e Imortalidade – Herminio C. Miranda – FEB – Cap. 24 – Entre a revolta e a dor – págs. 379/408.
Belo texto! Marcus Vinicius, gde mestre… O site está sensacional! Vamos divulgar 🙂