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Desde que o mundo é mundo – como o conhecemos, enquanto planeta – o homem persegue sua felicidade, que pode ser traduzida de diversas formas. Alguns exponentes da nossa filosofia trilham algumas rotas. Aristóteles a traduziria como um bem supremo, que consistiria apenas em viver e agir pelo bem. Para Epicuro, estaria no fim da dor e do prazer, substituídos pela tranquilidade e o equilíbrio da alma. Epiceto e Marco Aurélio, representantes do estoicismo, complementariam que a tal felicidade está longe de bens materiais ou prazeres sensoriais, mas na nossa capacidade de controlar as emoções e aceitar a realidade com tranquilidade.

Todos, de uma forma ou de outra, deixam claro que as vaidades humanas, os prazeres carnais e as riquezas materiais passam ao largo de uma vida feliz, que deve primar pela simplicidade. Mas um ponto tem perseguido ainda o homem, quando quer delegar ao outro a própria felicidade. É a busca do grande amor, da alma gêmea.

Alan Kardec teve a delicadeza de esclarecer esse ponto de vista (está na questão 298 de O Livro dos Espíritos), aventando se em algum local – na Terra ou fora dela – teríamos de fato uma “metade”, alguém que nos complementasse.

Em sua resposta, o Espírito de Verdade esclarece que essa versão romantizada não tem absolutamente nada a ver com os encontros realizados ao longo das sucessivas encarnações. “A união que há é a de todos os Espíritos, mas em graus diversos, segundo o grau de perfeição que tenham adquirido”.

Essa resposta está contextualizada no tema “Relações simpáticas e antipáticas dos Espíritos – metades eternas[1]. O vínculo mais forte, no entanto, ocorre fora do corpo carnal, com os Espíritos livres de vicissitudes das paixões. As relações intensas, como de ódio, ocorrem quando esses Espíritos ainda se encontram em estágio impuro, mas os sentimentos não serão prolongados após o desencarne. “…compreenderão que seu ódio foi estúpido e o motivo, pueril. Os Espíritos Imperfeitos conservam apenas uma espécie de animosidade até que estejam purificados” (resposta à questão 293).

Por outro lado, as afeições, que podem, sim, ter sido inspiradas em vidas pregressas, apenas são aprimoradas. Essas relações de afeto não se restringem ao vínculo afetivo matrimonial, mas a todas as suas formas. Essas almas já estão predestinadas ao cumprimento da necessidade encarnatória. “Se um Espírito fosse a metade de outro, separado dele, seria incompleto”, raciocina o autor espiritual em resposta à questão 299.

Então, como justificarmos vínculos profundos na Terra? “Todos os Espíritos são unidos entre si; falo dos que atingiram a perfeição. Nas esferas inferiores, quando um Espírito se eleva, não tem a mesma simpatia por aqueles que deixou para trás” (resposta à questão 300). A simpatia, segundo o Plano Espiritual, decorre “da perfeita concordância de suas inclinações, de seus instintos. Se um devesse completar o outro, perderia sua individualidade” (resposta à questão 301).

Os vínculos mantidos em determinada etapa do desenvolvimento não são perdidos. Se um desses Espíritos evolui mais rapidamente que o outro, nada impedirá que, no avanço do outro, possam se reencontrar em uma mesma esfera, facilitando esse vínculo mais prontamente. E surgem as situações nas quais conhecemos uma pessoa e, de imediato, parece que ela nunca nos foi desconhecida!

Deduz-se que os vínculos conjugais são apenas relações necessárias, na Terra, para que os seus protagonistas possam cumprir determinada etapa de sua jornada evolutiva. Não raro, podem se reencontrar na mesma família, posteriormente, mas em posições diferentes – como pai e filha, mãe e filha, irmãos etc.

“A afeição se alicerça sobre uma simpatia verdadeira; mas se as causas físicas foram maiores que a simpatia, ela cessa com a causa. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e mais duradouras que sobre a Terra, porque não estão mais subordinadas aos caprichos dos interesses materiais e do amor-próprio”, resume o autor Espiritual[2]

A fórmula para a felicidade poderia ser complementada pela absoluta certeza das ferramentas espirituais que justificam as encarnações diversas. E o “casamento indissolúvel” também não pertence à Lei Natural, e sim à Lei do Homem[3]. O que se recomenda nesses casos em que as relações parecem tumultuadas é a busca do equilíbrio – a razão pela qual esses dois Espíritos se sentiram atraídos e constituíram família – para que o diálogo traga todas as respostas.

O tema volta na questão 940, quando Kardec pergunta se a falta de simpatia entre os seres destinados a viver juntos poderia ser uma fonte de desgostos, capaz de amargar e envenenar toda a existência. Em sua resposta, o Espírito de Verdade esclarece: “Muito amargas, com efeito. Mas é uma dessas infelicidades das quais, frequentemente, sois a primeira causa. Primeiro, são vossas leis que são erradas. Por que crês que Deus te constrange a ficar com aqueles que te descontentam? Aliás, nessas uniões, frequentemente procurais mais a satisfação do vosso orgulho e da vossa ambição do que a felicidade de uma afeição mútua; suportareis, nesse caso, a consequência dos vossos preconceitos”. E quando há, nesse quadro, uma vítima inocente, segue o esclarecimento: “Sim, e é para ela uma dura expiação; mas a responsabilidade de sua infelicidade recairá sobre aqueles que lhe foram a causa. Se a luz da verdade penetrou sua alma, ela terá sua consolação em sua fé no futuro. De resto, à medida que os preconceitos se enfraquecerem, as causas de suas infelicidades íntimas desaparecerão também”[4].

Se alinharmos os preceitos filosóficos aqui brevemente citados ao que nos ensinou o Cristo, de amar ao próximo como a nós mesmos e de despir-se do excedente material, entenderemos que somos um inteiro e que, por afinidade, poderemos ser “alma gêmea”, enquanto pudermos auxiliar, uns aos outros.

Feliz dia para Namorados, Noivos, Maridos e todos que nutrem empatia pelo outro, traduzindo-a por AMOR!

 

Vanda

 

[1] O Livro dos Espíritos, edição IDE, 61ª reimpressão; a partir da pág. 123

[2] O Livro dos Espíritos, idem, pág. 124, questão 297.

[3] Ibidem, pág. 225, questão 697.

[4] O Livro dos Espíritos, idem, págs. 294 e 295.

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