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Muito se fala em transição planetária, etapa que altera as características de um planeta. No caso da Terra, esse movimento visa alterar sua condição atual, de provas e expiações, para a de regeneração. Muitos estudiosos da Doutrina Espírita esclarecem que não há uma “virada de chave”, pois essa transição se verificará quando aqui viverem mais pessoas ligadas ao bem. Logo, não existe transição planetária sem evolução humana.

Também sabemos que “a Natureza não dá saltos”, como afirmou o botânico e médico sueco Carlos Lineu. O que se tem é um processo gradual e constante de depuração dos Espíritos que aqui encarnam, com o objetivo de fazer uso das adversidades (provas e expiações) para sua evolução. As sucessivas encarnações têm se prestado a esse serviço, mas a necessidade de levar a transição planetária a termo fará com que os Espíritos não acomodados com seus resgates precisem de outro planeta para dar sequência à sua evolução.

Para irmos a fundo sobre as premissas acima, é preciso traçar algum roteiro. Primeiramente, enxergar que “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João, 14:2). Essa afirmação é, por si só, esclarecedora de que há outros mundos além da Terra, nos quais há Espíritos mais ou menos evoluídos. Essa conclusão faz cair por terra o dogma de que a raça humana teria sido criada a partir de um único casal, pois a Ciência já comprovou o surgimento simultâneo de espécies em diferentes partes do globo. Tais enunciados podem ser melhor compreendidos no texto inicial do capítulo X de A Gênese[1]. “Essa multiplicação tão generalizada e, de certo modo, contemporânea, fora impossível com um único tipo primitivo”, afirma Allan Kardec.

Se, por um lado, a criação dos diversos sistemas planetários e do nosso próprio planeta não se dissocia da Ciência, por outro a raça humana provavelmente ainda não dispõe de capacidade intelectual, moral ou espiritual, para compreendê-la em sua plenitude. E voltamos ao ponto em que as diversas moradas da casa de nosso Pai exigem um constante renovar nos planetas, para que sirvam à sua transição. No mesmo A Gênese, em seu capítulo XI, Kardec cita que a evolução também envolve uma renovação dos Espíritos encarnados e que é necessário haver flagelos e cataclismos para essa renovação corporal do globo e consequente introdução de elementos espirituais mais depurados[2].

Se somarmos a frase do botânico e médico sueco Carlos Lineu à informação fornecida pelo Codificador sobre essa depuração espiritual, será possível compreender a existência de diferentes níveis evolutivos do homem em nosso planeta, pois ela está condicionada à capacidade individual de aprendizado e prática. Mas, se de um lado temos essa disparidade intelectual, de outro observamos que algumas civilizações antigas, como a egípcia, destacaram-se justamente por apresentar um incomum avanço tecnológico. Onde ou com quem teriam esses egípcios (citando o exemplo) aprendido tanto?

Unindo a pluralidade dos mundos à afirmação do Codificador de que outros Espíritos poderiam ser introduzidos para aprimorar nosso avanço, chegamos à teoria descrita no livro Os exilados da Capela, de autoria de Edgard Armond, no sentido de que aqui chegaram degredados de seu sistema solar para contribuir com seus conhecimentos. Esses novos seres teriam dado origem a diversos tipos de raça e civilizações, trazendo profundos conhecimentos nas áreas de engenharia, medicina e astronomia. Quando Capela passou por sua transição planetária, precisou erradicar Espíritos que não conseguiram acompanhar essa etapa evolutiva, restando-lhes prestar serviços aqui na Terra.

Chegamos ao ponto essencial, já que estamos às portas de nossa transição planetária, com uma data aproximada: 2057. Não mudaremos nossa condição como quem vira uma chave. Kardec deixa claro que, primeiramente, os Espíritos aqui encarnados terão sua última oportunidade de aproveitar as provas e expiações e que, em isso não ocorrendo, estarão condicionados ao reencarne em planeta menos evoluído, com destino semelhante ao dos capelinos.

Permaneceriam aqui os Espíritos trazidos com o objetivo de melhorar nossa condição moral, e aqueles já capazes de contribuir com menos diferença entre classes, mais humanidade e fraternidade, erradicação da fome e da miséria e fim das guerras.

Outro fator importante, alertado por Kardec, é que nossa transição planetária, além de não ser rápida ou imediatista, será precedida por sombrios horizontes mundiais, que envolvem pandemias, guerras, doenças e eventos climáticos intensos. Estes sinais deveriam nos alertar que “algo está errado”, pois não purificamos nosso lado espiritual e o afã pela matéria nos tem feito destruir nosso maior bem, que é a Natureza. Afirma Kardec: “É de notar-se que todas as grandes calamidades que dizimam as populações são sempre seguidas de uma era de progresso de ordem física, intelectual ou moral e, por conseguinte, no estado social das nações que as experimentam. É que elas têm por fim operar uma remodelação na população espiritual, que é a população normal e ativa do globo”.

Outro sinal seria a reação dos “pais” de grandes inventos, talvez desiludidos pelo rumo dado aos seus experimentos. Na história recente, podemos citar alguns artefatos de destruição em massa, como a dinamite, descoberta por Alfred Nobel em 1896; ou o Agente Laranja, desfolhante descoberto por Arthur Galston usado na guerra do Vietnã contra sua vontade, pois chegou a alertar para os riscos à saúde humana. Após constatar os estragos de sua bomba atômica, Julius Robert Oppenheimer repetiu uma frase pinçada do livro Bhagavad Gita, do hinduísmo: “Agora, eu me tornei a morte, o destruidor de mundos”. Como ele, o engenheiro militar russo Mikhail Kalashnikov, criador do fuzil AK-47, disse sentir uma profunda dor espiritual ao constatar que sua arma havia exterminado mais seres humanos que a segunda guerra mundial. “Se o meu fuzil tirou a vida das pessoas, será que eu… Cristão e crente ortodoxo, sou culpado pelas suas mortes?”. O que poderíamos dizer da inteligência artificial (IA), que tem sobressaltado governos e educadores?

Voltemos ao início, ao trecho onde lembramos que não existe transição planetária sem a evolução humana. E que a evolução tecnológica, pura e simples, só se constitui em solução quando dela se faz bom uso. E que a verdadeira evolução do homem estaria pautada no amor. “Enquanto a Ciência fica à mercê de usos às vezes escusos, o amor aproxima-nos da Ciência para que possamos ter a consciência do bem. A Ciência é trazida aos homens, muitas vezes, quando Espíritos mais evoluídos são enviados para auxiliar em nossa evolução intelectual. A inteligência, quando usada para perseguir, controlar e condenar as pessoas, é ferramenta da vaidade humana. No combate a essa vaidade, possamos todos apostar na transmissão da palavra edificante, dos raciocínios elevados, visando o esforço redentor das criaturas”, ensina Emmanuel[3].

Vanda Mendonça

 

[1] A Gênese, 53ª edição, FEB, pag.167;

[2] Idem, pag. 199;

[3] Caminho, Verdade e Vida, 29ª edição, FEB; cap. 152. pag, 318;

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