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Denomina-se parusia (parousia) ou segundo advento, o prenunciado retorno à Terra do Messias ou o “Filho do Homem”, expressão adotada por Jesus em substituição ao pronome da primeira pessoa do singular, em referência às manifestações dos profetas no Antigo Testamento.

No Evangelho de João (3:13), na passagem em que Jesus estabelece diálogo com o fariseu Nicodemus sobre como é possível nascer de novo, é que melhor compreendemos o alcance da expressão “Filho do Homem”, a saber: “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem.”

O “Filho do Homem” opõe-se à expressão “filho da mulher” que representava o homem ainda sujeito às reencarnações…” (Carlos Torres Pastorino – Sabedoria do Evangelho, 1º volume, Jo 1:43-51, pag. 131).

Por ter alcançado a pureza, a perfeição, Jesus “subiu” ao céu não tendo mais que se submeter a provas e expiações (vide O Livro dos Espíritos, item 113), porém, “desceu” à Terra por missão de amor aos seus irmãos menores, porque Nele, e só Nele, vicejava o Verbo vivo em movimento, o que explica a expressão “Filho unigênito de Deus” ou o único Espírito perfeito encarnado capaz de refletir a ideia de Deus, conforme vemos em João, 10:30: “Eu e o Pai somos um.”

Jesus, o “Filho do Homem”, o Cristo, expressão que em grego tem o significado de ungido (o que foi investido de autoridade por meio de unção), e que em hebraico tem o seu equivalente na palavra Messias, anteviu o “final dos tempos” ou discurso escatológico que se encontra nos Evangelhos de Mateus (16:27, 24:15-28, 29-31 e 25:31-46), Marcos (13:14-27) e Lucas (17:31-37 e 21:20-28).

Nessas passagens encontramos referências sobre a vinda do “Filho do Homem” após a grande tribulação que, segundo Emmanuel/Francisco Cândido Xavier (A Caminho da Luz, caps. XV e XXIII – O Papado/Provações da Igreja), durou 1.260 anos, contados da consolidação do papado, no ano de 610, até o ano de 1870, em que se deu a declaração do dogma da infalibilidade papal, por Pio IX, representando o fim do império religioso romano. (Vide a explicação dos 1.260 com base nas equações do profeta Daniel, contida na obra “Apocalipse segundo o Espiritismo”, de autoria de Marco Paulo Denucci di Spirito, capítulo As previsões por Jesus (pág. 432), com base em Mt.24:15.

Mateus, que adotaremos neste texto como base do discurso escatológico ou do “final dos tempos”, refere-se à vinda do “Filho do Homem” em 16:27: “Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.”

Também em 24:26-31: 26 Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis. 27 Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem.29 E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. 30 Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. 31 E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.

Em 24: 35-44: 35 O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.36 Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai. 37 Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do Homem. 38 Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; 39 e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. 40 Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado. 41 Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada. 42 “Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. 43 Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. 44 Assim, também vocês precisam estar preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora em que vocês menos esperam.

E, finalmente, em 25:31-33: 31 Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; 32 E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; 33 E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.

Inicialmente é preciso compreendermos, segundo a ótica Espírita, quem é o Messias, O Filho do Homem da escatologia bíblica. Responde-nos a Revista Espírita de 1868, fevereiro, págs. 76-79: “Não fiqueis, pois, admirados de todas as comunicações que vos anunciam a vinda de um Espírito poderoso sob o nome do Cristo. (…) Se o Messias de que falam essas comunicações não é a personalidade de Jesus, é o mesmo pensamento. É aquele que Jesus anunciou, quando disse: “Eu vos enviarei o Espírito de Verdade, que deve restabelecer todas as coisas” (…) Perguntais se esse novo Messias é a mesma pessoa de Jesus de Nazaré? Que vos importa, se é o mesmo pensamento que os anima a ambos?

O segundo advento transcende a personalidade histórica do Jesus de Nazaré, apesar de ser Ele a principal liderança das diretrizes do Criador. O novo Messias se afigura plural, um conjunto de ideias, uma Filosofia proposta e capitaneada por um grupo de Espíritos, alguns deles perfeitos, exemplificando os fundamentos da regra áurea que integra todos os “códex” religiosos que existem no mundo e segundo a qual “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles…” (Mt 7:12).

Passados os períodos do princípio das dores e das grandes tribulações, vivemos o alvorecer de uma era que representa, e representará, a nova aliança da Humanidade com Deus, norteada pela qualificação moral, através da revivência do Evangelho em sua pureza primitiva, e pelo maior conhecimento das potencialidades do Espírito (“Jesus lhes respondeu: Na vossa lei está escrito: Sois deuses?” – João 10:34).

Na Revista Espírita de 1868, maio (pág. 228), o Espírito da Fé esclareceu que: O Messias que deve presidir ao grande movimento regenerador da Terra já nasceu…”, e a Doutrina Espírita, as Doutrinas Espiritualistas e toda a Cristandade de boa-fé muito colaborarão nesse grande processo de transição.

É claro que o Messias não nasceu fisicamente, e nem seria ou será o caso Dele retornar para ensinar o que já foi ensinado e exemplificar o que já foi exemplificado. A menção de que o “Filho do Homem virá sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória”, ou então que “E ele enviará os seus anjos com rijo clamor da trombeta.”, são alegorias que, na explicação de A Gênese, XVII, 54, visavam impressionar “aquelas imaginações pouco sutis” pois, segundo a crença de então, que ainda viceja entre muitos nos dias de hoje, não seria possível que uma potestade como o Cristo, viesse a se manifestar, senão por fatos extraordinários.

Assim, não imaginemos o Cristo (Jesus) entre nós, literalmente, não pensemos que O veremos ou O escutaremos por intermédio dos nossos sentidos grosseiros em cenas e sons extraordinários. Em verdade Ele já veio, e continua a vir porque o segundo advento é um processo que se realiza ao longo do tempo, atingindo a sua culminância nestes dias de que somos testemunhas encarnadas (Vide João 14:15-17: “Se me amais, guardai os meus mandamentos. 16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; 17 O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.”

Por isso Mateus sublinhou no capítulo 24: “Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis.” Não O procuremos, senão dentro de nós mesmos, avaliando que tipo de participantes somos no segundo advento e de que forma colaboramos para o amanhecer da nova Era.

Essa avaliação é pertinente porque, desde muito tempo, segundo as informações dos Espíritos, cumpre-se o discurso escatológico expresso em Mateus: 16:27 “…dará a cada um segundo as suas obras.” / 24:40-41: Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado. Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada.” / 25: 25:32-33:  E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.”

Muitos que desencarnaram, considerando a sua natureza rebelde, seu orgulho, seu egoísmo, já foram afastados do convívio da Terra, sem que isso represente condenação às penas eternas. Foram provisoriamente separados, alguns homens e mulheres, os bodes das ovelhas, como figurativamente vemos no Evangelho de Mateus.

Como ocorreu no passado deste nosso orbe, irão auxiliar com a sua inteligência o progresso de um ou mais planetas primitivos, conforme observamos em A Gênese, XVII, 63: “Tendo que reinar na Terra o bem, necessário é sejam dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam acarretar-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo de que precisavam para se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, interdito será ele, como morada, a encarnados e desencarnados que não tenham aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí receber. Serão exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica.”

Certamente essa exclusão que, repita-se, já acontece há muito tempo, não é um decreto definitivo de proscrição e todos aqueles que, por sua má conduta se inseriram/inserirem no juízo, pelo processo de emigração, terão oportunidade de retorno, avaliadas as suas condições pessoais.

O prazo desse exílio parece ser aquele previsto em Apocalipse 20: 2, 5 e 7, respectivamente: “Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.” / “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram…”/ “E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão.”

Diabo, Satanás e serpente são representações da ignorância que ainda pulsa nas criaturas humanas. A prisão representa as condições rudes e quase insuportáveis desses mundos inferiores para aqueles que tiveram a oportunidade de viver as facilidades da Terra. A exclusão para um planeta inferior assemelha-se a uma segunda morte (Ap. 20:14). E, após os mil anos, os exilados “poderão retornar à Terra se emendarem a sua conduta, assim como aconteceu com os egípcios que retornaram para Capela.” (Apocalipse segundo o Espiritismo, Marco Paulo Di Spirito, Ap. 20:2, pág. 391)

Emmanuel (A Caminho da Luz, cap. III), relata que, em Capela, alguns milhões de Espíritos foram provisoriamente excluídos daquela Humanidade. Considerando a simetria dos casos, Capela e Sol (Terra), e ao observarmos a informação do mesmo Emmanuel (Roteiro, cap. 9) que são cerca de 22 bilhões de almas encarnadas e desencarnadas que gravitam em nosso orbe, concluímos que, a princípio, um percentual pequeno de almas será excluído do nosso planeta.

Mesmo assim, importa nos concentrarmos em realizar o melhor que esteja ao nosso alcance, buscando a melhoria que nos seja possível, até porque, como esclarecido em Revista Espírita, Outubro de 1866 (pág. 411): “Assim, a regeneração da Humanidade não necessita absolutamente da renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Esta modificação se opera em todos os que a isto forem predispostos, quando subtraídos à influência perniciosa do mundo.”

 

Cleyton Franco

 

 

 

 

 

 

 

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