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O Espiritismo e as diversas correntes Espiritualistas existentes têm em suas bases filosóficas fundamentais o princípio da reencarnação, segundo o qual todos os Seres do mundo orgânico submetem-se a ciclos de nascimento, morte, renascimento e progresso.

Porém, os opositores do fundamento da reencarnação reagem com uma indagação que consideram cartesiana, formulada nas seguintes bases: “Se reencarnamos muitas vezes, qual a razão para não recordarmos das nossas existências anteriores?”

É preciso esclarecer que o esquecimento transitório das coisas do passado nos propicia a pluralidade do convívio, tanto com afins quanto com opositores. Imaginem se lembrássemos dos equívocos cometidos, das nossas ações ou omissões que prejudicaram interesses ou dos sentimentos despedaçados que nos foram causados ou que causamos a alguém.

E mais. Imaginem que ao nos lembrarmos de todos esses desatinos, ainda nos recordássemos daqueles que prejudicamos ou por quem fomos prejudicados, reconhecendo-os nas figuras parentais, dos cônjuges, filhos, amigos ou colegas de trabalho.

Enfrentaríamos problemas seríssimos de culpa, remorso, vingança, ódio etc, tornando as experiências reencarnatórias uma sucessão de projetos frustrados e de embates rancorosos, de modo a inviabilizar os objetivos de superação e congregação dos seres, que é uma das maiores finalidades da nossa reunião em núcleos de convivência e permuta de experiências.

Sem o esquecimento estaríamos presos ao passado, restritos não só às pendengas, como também aos afetos e às posições que nos fizeram sentir confortáveis perante a vida, quando sabemos que o processo de evolução dos seres exige de todos o desafio constante em busca de alcançarmos o degrau imediatamente subsequente em nossa autoiluminação.

Joanna de Ângelis, através de Divaldo Pereira Franco (Cap. 8, da obra Estudos Espíritas), resume a questão relativa à lei do esquecimento nos seguintes moldes: “O transitório esquecimento do passado facilita os recomeços, ensejando mais amplas possibilidades ao entendimento e à cordialidade. Lembrasse-se o Espírito dos motivos de antipatia ou de amor, vincular-se-ia apenas aos seres simpáticos, afastando-se daqueles por quem se sentiu prejudicado, complicando, indefinidamente, a libertação das causas infelizes do fracasso.

Assim, o filho revel retorna na condição de pai, a esposa ultrajada volve como mãe abnegada, o criminoso odiento reinicia ao lado da vítima antiga, o infrator da existência física, autocida, reencarna com as limitações que ocasionou, mediante o atentado perpetrado contra a organização somática, a cerebração mal aplicada redunda em idiotia irreversível e a impiedade, o ultraje, o abuso de qualquer natureza constroem o suplício da miséria, física ou moral, como medida educadora de que necessita o defraudador.”

O esquecimento do passado é antes de tudo um passaporte para novas oportunidades de crescimento, possibilitando-nos reescrever nossa trajetória em uma nova folha em branco, sem que haja qualquer prejuízo da responsabilidade que temos em face das nossas vivências pretéritas.

Mas é importante sublinharmos o fato de que o esquecimento (oblívio), é um estado transitório pelo qual passam todas as criaturas de pensamento contínuo e consciência de si mesmas, e que ainda não conseguiram alcançar um patamar mais apreciável de qualificação intelecto-moral, se assim podermos nos exprimir. Esse é o estágio em que a grande maioria das criaturas vinculadas à Terra nos encontramos, ainda muito regidos pelos interesses materiais e pelos assuntos do ego, circunstâncias que nos retardam os voos das almas e os experimentos espirituais mais apurados.

Em resumo, o esquecimento do passado é um alento à superação de nós mesmos, assim como um sinal indicativo da nossa inferioridade espiritual, conforme observamos na resposta à questão 397, de O Livro dos Espíritos: Nas existências corpóreas de natureza mais elevada do que a nossa, é mais clara a lembrança das anteriores? Resp. “Sim, à medida que o corpo se torna menos material, com mais exatidão o homem se lembra do seu passado. Esta lembrança, os que habitam os mundos de ordem superior a têm mais nítida.”

E, complementarmente, encontramos na resposta à questão 186 de O Livro dos Espíritos o seguinte esclarecimento: Haverá mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha como envoltório o perispírito? Resp: “Há e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos Puros.

Observem que uma maior consciência de nós mesmos, daquilo que somos, das vivências que constituíram a nossa individualidade, guardam relação com o nosso corpo perispiritual menos denso, o que nos faz concluir que o processo de espiritualização dos Seres, com a melhoria dos padrões espirituais respectivos, tem como consequência a perda de massa perispiritual.

Ao perdermos densidade perispiritual, por força das nossas conquistas intelecto-morais, aumentamos o estado vibratório da alma em relação ao corpo físico, ampliando nossa capacidade de interação com o exterior e conosco mesmo, e facilitando, em um ritmo cada vez mais célere, o nosso autoconhecimento.

Não percamos de vista que as memórias representativas das experiências mais relevantes que vivenciamos, nesta e em outras vidas, é arquivada nesse corpo que envolve a alma e que denominamos períspirito, conforme diversas manifestações nesse sentido, a saber: Hermínio Correa de Miranda (A Memória e o Tempo, cap. 1, 12), Gabriel Delanne (A Reencarnação, cap. VI e A Evolução Anímica, cap. IV), Emmanuel/FCX (Emmanuel, cap. XXIV), Jorge Andréa dos Santos (Visão Espírita nas Distonias Mentais, cap. I e Nos Alicerces do Inconsciente, cap. II e André Luiz/FCX (Evolução em Dois Mundos, cap. XII).

Tudo indica que as nossas memórias mais importantes, bases daquilo que somos, daquilo que angariamos na construção das nossas individualidades, repousam nas camadas mais profundas do nosso períspirito e, na medida em que perdemos densidade perispiritual (e física, porque o corpo material é uma cópia do períspirito), os pulsos energéticos das nossas vivências alcançam mais rapidamente o consciente, de sorte que passamos a ter mais certeza do Ser integral que representa a somatória das experiências mais expressivas que colhemos ao longo dos milênios.

Grosso modo, em uma figuração confessadamente simplista, seria como se cobríssemos os nossos celulares ligados sob várias camadas de terra, de modo a não ser possível ouvirmos as chamadas ou sentir as vibrações dos aparelhos, considerando o obstáculo material (a terra), lhes abafando os pulsos.

Porém, ao retirarmos algumas camadas de terra somos capazes de ouvir e sentir, mesmo que remotamente, as manifestações energéticas dos aparelhos.

Nesta analogia, os celulares representam os registros das nossas memórias, o acervo de todas as experiências que nos conduziram à individualidade que somos hoje. A terra simboliza a sobreposição dos nossos corpos físico e espiritual. Retirar a terra significa perder a massa como consequência da nossa evolução intelecto-moral, e quanto mais terra retiramos mais passamos a ter acesso às chamadas, às mensagens e aos contatos registrados, reapropriando-nos da nossa essência e potencializando o tempo do nosso progresso pela ampliação da consciência.

E o mais curioso é que ao nos reapropriarmos de nós mesmos, pela perda de massa, sentiremos que a relação dos nossos contatos sofreu alterações, muitas das antigas mensagens desapareceram, junto com um sem número de fotos e textos que guardávamos, e aquelas ligações inoportunas já não soam mais.

Perder massa também significa redirecionar interesses, filtrar convivências, descartar, por simples automatismo, aquilo que não mais acrescenta e que não nos é mais útil, sem que tenhamos de praticar qualquer ato consciente no sentido de deletar arquivos e registros.

Desta forma, sempre que ouvirmos alguém falar sobre a necessidade de realizarmos a reforma íntima, erradicando vícios, tendências e práticas costumeiras arraigadas em nossas condutas; sempre que formos estimulados ao saudável aprofundamento do conhecimento, através do exercício reiterado e disciplinado do estudo e da pesquisa, aceitemos esses apelos sem reclamações ou contrariedades, porque serão eles que nos garantirão não mais recebermos as ligações do prefixo 0300, ou mesmo as mensagens daquele grupo em que fomos incluídos sem que, efetivamente, quiséssemos dele fazer parte.

Cleyton Franco

 

 

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