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Muito comum entre nós espíritas, é a leitura de O Evangelho segundo o Espiritismo, que embora não tenha sido o primeiro título da Codificação, com certeza é o que mais nos distingue em relação às demais religiões, pois concentra os ensinamentos morais do Cristo. O próprio texto introdutório da publicação seria, por si só, um compêndio de grande profundidade para nosso aprendizado moral.
Afirma, por exemplo, que a pluralidade de autores (os Espíritos), com o auxílio de médiuns de diversas localidades do planeta, nos dá uma via mais rápida de divulgação, como assim desejava Deus, e “se não tivesse senão um intérprete único…, o Espiritismo seria mal conhecido”.
Aliás, a palavra Evangelho vem do grego Euaggélion e significa Boa Notícia, enquanto a palavra testamento, do grego diathéke, traz duas definições: o de alguém designar seus herdeiros ou, também, pode representar a aliança que define os termos de um contrato. O termo já era praticado por autores clássicos da literatura grega e foi associado aos ensinamentos de Jesus, que foram lavrados no Novo Testamento.
Estudiosos da dinâmica religiosa afirmam haver um hiato de pelo menos 500 anos entre os dois tomos, como S. Kent Brown, professor emérito de Escrituras Antigas, e Richard Neitzel Holzapfel, professor de História e Doutrina da Igreja da Universidade Brigham Youg . Os autores afirmam que entre o profeta Malaquias e a chegada de Jesus, muitos grupos chamaram a si a responsabilidade pela correta interpretação das Escrituras.
O Antigo Testamento, por exemplo, é fruto da compilação de todas as tradições orais do povo judeu, reunidas desde 1200 a.C, e transferidas paulatinamente aos pergaminhos por longos séculos. Aos 39 livros originais do A.T. foram acrescidos outros sete títulos pela Igreja Católica para compor sua Bíblia, contemplando assim os tomos do Novo Testamento.
Vê-se, portanto, que a disputa política pela hegemonia religiosa vem de longa data e tem gerado séculos de incompreensão por parte das intolerâncias religiosas. A materialização do Novo Testamento incluiu cinco livros históricos (os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João, e os Atos dos Apóstolos), além das 14 Epístolas Paulinas (as cartas de Paulo de Tarso endereçadas aos Romanos, Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessalonicentes, Timóteo, Tito, Filemon e aos Hebreus), das sete Epístolas Universais (assinadas por Tiago, Pedro, João e Judas) e do Livro Profético do Apocalipse.
Quando Allan Kardec foi convidado pelo magnetizador Fortier a analisar os episódios das mesas girantes, sua primeira reação foi a da incredulidade, como podemos ler neste trecho de Obras Póstumas , quando Fortier afirmou que as mesas ‘respondiam’ perguntas: “Só acreditarei vendo, e quando me provarem que a mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula. Até lá, permita-me que considere isso um conto para fazer-nos dormir em pé”.
Sabemos que Kardec não desistiu dos estudos desses fenômenos e foi seu raciocínio lógico que o conduziu por todo o processo. A codificação de Kardec se inicia justamente pelas respostas dadas por desencarnados de diversas origens e localidades, reunidos em O Livro dos Espíritos. Mas, como já dissemos, em O Evangelho segundo o Espiritismo temos as regras morais de Jesus a nos guiar no dia a dia.
Cristo afirmou não ter vindo para destruir a Lei, mas sim dar-lhe cumprimento. O Espiritismo, a terceira revelação de Deus, está embasado no trinômio Ciência, Filosofia e Religião, e procura revelar aos homens por provas irrecusáveis, “a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal” .
Jesus não era o Messias esperado, idealizado pelo povo judeu, que por isso mesmo o rejeitou – embora alguns tenham aderido ao profeta João Batista, que o antecedeu. O Cristo nunca poupou as práticas daqueles que usavam inadequadamente sua autoridade religiosa, como os Escribas, mas sempre abriu a janela do perdão àqueles que, verdadeiramente, se arrependessem dos atos inadequados.
Dentre os bons exemplos temos a Parábola do Filho Pródigo, na qual o mais novo dos dois filhos de um fazendeiro pede que o pai venda as terras e lhe dê sua parte. Enquanto o filho mais velho permaneceu ao lado do pai, o jovem usou o valor arrecadado em terra distante, consumindo-o por inteiro. Voltou à cidade e sequer conseguiu trabalho ou um prato de comida. Decidiu então voltar à casa do pai, esperando ser repreendido. O pai, no entanto, deu-lhe roupas e mandou fazer uma festa para recebê-lo. Quando questionado pelo filho mais velho, o pai justificou: “Este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado” (Lucas, 15:11-32).
O perdão desse pai é simbólico: o filho que torna à casa é o pecador que, reconhecendo seus erros, procura acertar. É com este olhar que devemos estudar os ensinamentos do Evangelho e, acima de tudo, praticá-los.

Vanda Mendonça

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