(in Cartas do Dr. Bezerra de Menezes – AME – Brasil Editora – 3ª edição, 2019 – pág. 156)
Não faz muito tempo, ocupou a mídia paulista um episódio que aconteceu com jogadores de um time de futebol, que foram convidados por seu técnico a levarem ovos de Páscoa para crianças com paralisia cerebral, em determinada Instituição que as acolhia.
Lá chegando o ônibus que transportava os atletas, alguns se negaram a descer e fazer a entrega dos presentes ao perceberem que a Instituição era religiosa, mas não da “sua” religião.
Circulou nos canais sociais um texto com o nome “Reflexão para a paz”, de autoria de Ed René Kivitz, que se refere como cristão, pastor evangélico e santista, e que no meu entender conceitua bem o que queremos entender como “espiritualidade”. Afirma ele:
“Os meninos da Vila pisaram na bola, […] mas não erraram sozinhos […]. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros […]. A religião está baseada em ritos, dogmas, credos, tabus […]. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas as tradições de fé. Quando você discute se o correto é reencarnação ou ressurreição […] e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. O problema é que toda vez que você discute religião, você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a insegurança. A religião coloca de um lado os adoradores de Alá, de outro os adoradores de Yahweh, de Jesus, de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai […]. Mas quando você concentra sua atenção e ação em valores como reconciliação, perdão, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as religiões. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Quando você questiona se a Instituição Social é Espírita, Evangélica ou Católica, você está discutindo religião. Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos, no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião. Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Mas quando você vive no mundo da espiritualidade, que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de Páscoa para cada criança que sofre a tragédia e a miséria de uma paralisia cerebral.”
Sem palavras!
(in Cartas do Dr. Bezerra de Menezes – AME – Brasil Editora – 3ª edição, 2019 – pág. 156)