O senso de propósito é uma espécie de guia, uma bússola interna que orienta as nossas escolhas e ações, conferindo relevância e motivação à jornada pessoal. Sob o ponto de vista espiritual, é aquela chama interior que nos impulsiona a contribuir para algo maior do que nós mesmos e dá sentido à existência. É fato que, quando vivemos alinhados a uma finalidade superior, as tarefas quotidianas ganham significado, os desafios são percebidos como oportunidades de crescimento e a vida se transforma em uma jornada mais gratificante.
A percepção de um objetivo maior deveria bastar para que a nossa centelha divina brilhasse forte, mantendo-nos firmes na rota evolutiva. Todavia, no burburinho do dia a dia, envolvidos com as tribulações mundanas, frequentemente acabamos por nos distanciar dessa meta, distraídos pelos valores efêmeros da sociedade e pelas tentações da matéria.
Assim como nós, eram também os apóstolos. Humanos, logo, imperfeitos, por diversas vezes sucumbiram temporariamente às influências dos costumes da época e às turbulências externas, desatentos ao chamado do Mestre.
Para o apóstolo Pedro, esse alheamento cessou quando, algum tempo após o drama do calvário, Jesus escolheu um cenário à beira do mar da Galileia para se revelar aos Seus discípulos. Nesse encontro, ambos protagonizaram um evento cheio de significado: “Simão, filho de Jonas, tu me amas?”. Pedro, com humildade e fervor, respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. O Mestre replicou: “Apascenta as minhas ovelhas”[1].
Em essência, Jesus estava confiando a Pedro a responsabilidade de liderar e pastorear a comunidade cristã. Nesse caso, a palavra “apascentar” transcende a mera alimentação ou guia; ela abarca o cuidado, o acolhimento, a orientação e, sobretudo, o amor. Simão seria educador, mentor e aliado na caminhada dos menos favorecidos.
O diálogo enigmático levantou o véu da ignorância, permitindo que o discípulo que outrora havia negado o Senhor, compreendesse o aspecto espiritual de sua encarnação.
Igualmente, o nosso chamado ocorreu dois mil anos atrás. A mensagem de amor ao próximo vem sendo transmitida por versões de nós mesmos. Ao longo desses 20 séculos, vamos nos provando, mostrando espontaneamente o que realmente foi aproveitado das experiências passadas pelo nosso Espírito, que se aprimora encarnação após encarnação.
Assim como Pedro, cujo arrependimento o conduziu à sua missão de vida, devemos compreender que, independentemente dos desafios carreados pela existência material, é propósito de todo Ser Humano o cuidado para com o seu próximo, posto que é na doação de si mesmo que o Homem evolui. O raciocínio é simples: o serviço altruísta é o elemento que nos conecta a algo além dos nossos interesses pessoais. Ao sermos colocados em contato com a necessidade alheia, desenvolvemos empatia, sentido de solidariedade e comunidade, ao mesmo tempo em que cultivamos as nossas virtudes e podamos os nossos vícios. A ação benevolente lapida a alma de quem doa e de quem recebe.
Nesse processo que nos remove do centro do mundo, descortina-se uma compreensão mais clara de quem somos: coadjuvantes em evolução, instrumentos na obra do Criador, que auxilia a criatura através da criatura. E as instruções são cristalinas: quando Jesus disse apascenta as minhas ovelhas, convidou-nos à compaixão, ao amor e à orientação na caminhada de nossos semelhantes. Ele não recomendou medidas drásticas em favor da disciplina compulsória, apenas pediu que sustentássemos os companheiros mais necessitados que nós mesmos.
A metáfora do pastor nos conduz ao texto Evangélico, quando ressalta a importância da empatia, tolerância e paciência em nossas relações. Ela nos ensina que devemos trilhar um caminho de compreensão, suporte e orientação, sem julgamento.
O Cristo nos encoraja a semear a bondade e a sabedoria, mesmo que não vejamos resultados imediatos. Aqueles que hoje parecem “rebeldes” ou “desviados” podem se transformar em líderes generosos amanhã, graças ao amor e ao cuidado recebidos.
Nas palavras do Espírito Emmanuel, na obra Fonte Viva, Alimenta a “boa parte” do teu irmão e segue para diante. A vida converterá o mal em detritos e o Senhor fará o resto.[2]
Feliz Natal!
Lila
[1] Evangelho de João (21:17)
[2] XAVIER, Francisco C., autoria espiritual de EMMANUEL. Fonte Viva. Cap. 19 – Apascenta.