Túnica é um tipo de vestimenta geralmente longa, com ou sem mangas, usada pelos povos antigos.
A que Jesus usava era inconsútil, isto é, sem costuras.
O fato de não ter costuras a transformou num símbolo, quando se refere à Doutrina que veio pregar: o Cristianismo.
A linha de pensamento de Sua Doutrina é inteiriça, perfeita, harmônica como sua túnica.
A moral propagada pelo Cordeiro de Deus não tem divergências, nem ambiguidade, nem contradições. É pura, completa, sem nódoas que comprometam sua integridade.
O Mestre jamais emitiu frases dúbias. Sempre foi claro e conciso nas Suas explanações. Isso nos leva a perguntar: qual o motivo das cisões que observamos nas seitas que se dizem cristãs, mas que adotam princípios tão diversos daqueles que Jesus pregou? Por que tanta rivalidade entre os que deveriam ser exemplo de harmonia e paz?
Essas distorções têm origem na ignorância, orgulho e preconceito dessas igrejas que do Cristianismo só adotaram o nome. Têm origem no egoísmo contumaz do homem que tudo procura adaptar às exigências mesquinhas dos seus interesses.
O que ocorre é que essas religiões ainda não perceberam que a Doutrina do Mestre, assim como a túnica que usava, não se constituía de pedaços, de remendos, mas representava um todo completo, perfeito.
Enquanto tais igrejas disso não tomarem conhecimento, continuarão se digladiando, a grande distância do sublime ideal do amor. Estarão portando túnicas compostas de retalhos, de fragmentos, ostentando confusão de ideias, de separações, de rivalidades.
A vestidura do Cristo Jesus ainda nos leva a mais profundas reflexões. Ela era de pureza lirial, qualidade essa necessária a todo aquele que desejasse entrar no Reino de Deus. Era, portanto, a veste nupcial de que nos fala a parábola do festim de bodas.
Nesse ponto, caro leitor, se faz necessária uma explicação, de modo a aclarar nossa compreensão quanto à relação entre a veste do Cristo e a exigida para participar das bodas.É Jesus que nos informa através do Evangelho de Mateus, cap. 22: 11-13. Diz Ele:
“ O Reino de Deus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho”.
Desvelando a simbologia, entendemos que o rei refere-se a Deus, e seu filho (Jesus) refere-se ao noivo. O casamento (festim de bodas) era de Jesus (Sua Doutrina, Seu Evangelho) com a Humanidade terrena (convidados).
[…] “E vendo o rei um convidado que não portava veste nupcial, ordenou que fosse atado e lançado fora da festa das bodas.”
Essa ocorrência nos informa que a condição para permanecer na festa era portar a veste nupcial.
Ora, se a túnica do Mestre é símbolo da Sua Doutrina, do Seu Evangelho, está claro que os convidados para as bodas deverão trajar vestes semelhantes, isto é, serem praticantes de Sua Doutrina. Essa prática caracterizará sua vestimenta. Que roupagem é essa, senão o perispírito? Ele representa a túnica com a qual compareceremos no Plano Espiritual, após o desencarne, uma vez que somos imortais.
Emmanuel, em sua obra “Roteiro”, cap. 6 – psicografada por Francisco C. Xavier, diz com propriedade:
“O perispírito, quanto à forma somática, obedece a leis de gravidade, no plano a que se afina.
Nossos impulsos, emoções, paixões e virtudes nele se expressam fielmente. Por isso mesmo, durante séculos e séculos nos demoraremos nas esferas de luta carnal ou nas regiões que lhes são fronteiriças, purificando a nossa indumentária e embelezando-a, a fim de preparar, segundo o ensinamento de Jesus, a nossa “veste nupcial” para o banquete do serviço divino.”
Vemos, portanto, que a vestidura (perispírito) é passível de manchar-se, mas a condição para conservá-la sem nódoas, resplandecente e pura de modo a alcançar o mérito de conviver com o Mestre dos mestres, é ser um vencedor de suas próprias imperfeições. Essa é a batalha interior que se deve travar com afinco e determinação.
Examinemos um outro aspecto que não deixa de ser um complemento importante na construção da veste nupcial: as sandálias empoeiradas. Mais uma vez a simbologia a se reverter em grande ensinamento…
Os caminhos percorridos por Jesus, desde o início de Seu ministério, sempre foram desafiadores. Suas sandálias carregavam o pó dos lugares por onde passava, desde as ruas humildes e pedregosas, às estradas que se alongavam na distância entre uma aldeia e outra.
As paisagens solitárias que emolduravam o deserto da Judeia em toda sua aridez, eram dignas representantes da dureza da alma israelita. Era esta que Jesus desejava alcançar, e não media esforços para atingir o cerne de toda criatura que Dele se aproximasse. E nos longos percursos, distribuía ensinamentos valiosos, lições preciosas, que em forma de parábolas, penetravam o coração e a alma de seus ouvintes, verdadeiras sementes que mais tarde transformariam vestes rústicas e enodoadas pela ignorância vigente, em trajes nupciais de imaculada pureza.
Eram caminhos ásperos, mas os únicos viáveis para quem porfiasse alcançar o Reino de Deus (plenitude espiritual).
As sandálias simbolizam a humildade e o esforço da caminhada. O Mestre superou desafios e dificuldades, sendo Ele próprio o exemplo, ensinando-nos que “toda ascensão exige sacrifício, e que a libertação das heranças infelizes é trabalho contínuo e de longo curso”(1)
Se a túnica era alvinitente, as sandálias falavam silenciosamente sobre como devemos usá-las para que a túnica resplandeça…
Fechamos nossos apontamentos com a poesia de Mário Frigéri:
O Perispírito
E vendo o rei um convidado que não portava
veste nupcial, ordenou que fosse atado e lançado
fora da festa de bodas. (Mateus, 22:11 – 13.)
O perispírito é fecunda messe
Que reproduz a tua semeadura:
O mal lhe tisna a tênue tessitura;
O bem o alveja e ele resplandece.
Mantém, portanto, Irmão, a vestidura
Fluida e sidérea que de luz se tece,
Pura qual lírio e santa como a prece,
A refletir o Cristo em sua alvura.
O corpo físico é fugaz pousada;
O perispírito é a real morada
─ O teu castelo etéreo e verdadeiro.
Faze-o fulgir, pois, como estrela-guia
E adentrarás vitorioso um dia
No Festival das Bodas do Cordeiro.
Yvone
Fontes de consulta:
(1) Vivendo com Jesus – Amélia Rodrigues / Divaldo P. Franco – cap.26
– Roteiro – Emmanuel / Francisco C. Xavier – cap. 6
-Nas pegadas do Mestre – Vinicius – 6ª edição – pág. 26