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Muitos de nós quando ingressamos nos estudos da Doutrina Espírita, e quase todos, tocados pelos açoites da dor e do sofrimento, procuramos pelo auxílio moral oferecido pelo Evangelho do Cristo e pelos postulados espiritistas.

De imediato, as palavras proferidas pelo Cordeiro de Deus em Sua passagem pela Terra, as exortações sublimes de Suas diretrizes associadas ao conhecimento das Leis Universais que a Doutrina codificada por Kardec expõe, somados à prece confortadora, trazem o alívio tão desejado às aflições que nos dificultam a existência.

Essa ocorrência, bastante significativa, desperta-nos o interesse pelas coisas espirituais.

Todavia, após uma trégua às dores afligentes, observamos que os tormentos não desapareceram; houve, ao contrário, recrudescimento de prantos amargos.

É nesse ponto, amigo leitor, que a fé vacila, arrefecendo o entusiasmo das primeiras horas. Nessa contingência, são comuns as frases “Não tenho mais fé”; “Perdi a esperança”. E deixamo-nos levar por um abatimento profundo, sentindo-nos enfraquecidos na luta.

Isso acontece a quantos não conseguiram penetrar o espírito da Doutrina, navegando apenas em suas águas superficiais.

É preciso entender que a prece deve ser um hábito diário de ligação com o Criador, não para que sejam revogadas as Suas leis, como geralmente costumamos pedir, mas para que intimamente sejamos fortalecidos pela coragem e paciência nas lutas ásperas, embora necessárias ao nosso crescimento espiritual.

Incorremos em erro ao pensar que basta orar para que as provações dolorosas sejam suprimidas de nosso cenário existencial. Em verdade, a oração representa a renovação do Espírito em face da dor, para que venhamos a entendê-la e até removê-la, no exercício da superação.

Para melhor compreensão, imaginemos estar à noite, numa estrada onde a névoa toma conta, impedindo-nos a caminhada. Acima nos falta a luz das estrelas, e embaixo temos a ameaça dos espinhos e precipícios… Continuar ou parar, representam perigo, uma vez que podemos nos deparar com covas escancaradas ou sermos atacados por animais traiçoeiros. Todavia, se fizermos pequena luz, tudo se modificará. Claro que tudo continuará no lugar que sempre esteve: o precipício, a montanha, a pedra permanecerão presentes no caminho; os animais sorrateiros também…

O que caracteriza a mudança é a possibilidade de ver, condição essa que certamente nos dará a tranquilidade de poder seguir, vencendo pouco a pouco as dificuldades das sombras.

É justamente esse o papel que a oração executa diante da aflição, da dor, do desajuste emocional que nos embaraçam o viver. É a luz que, possibilitando-nos a visão, a compreensão dos fatos, nos auxilia a vencê-los, não significando, entretanto, que desaparecerão como que por milagre dos painéis de nossas experiências evolutivas.

Se temos provas e expiações a passar em decorrência de causas por nós mesmos geradas em tempos que vão distantes, demanda a Lei que executemos o saneamento das áreas afetadas pelos nossos desatinos. É aí que se faz sentir a ação da prece, que, justificando a bondade Divina para conosco, tem efeito de bálsamo e lenitivo às agruras e aflições, fortalecendo-nos a alma para o enfrentamento, sem, todavia, afastá-las abruptamente de nosso caminho.

Vezes sem conta o desespero, o desânimo, a revolta e inconformismo diante da dor, só fazem aumentar-lhe a intensidade; basta, entretanto, que se acenda a leve chama de uma prece no coração, para que tênues fios de luz nos liguem ao Criador que nos enviará, incontinente, os Mensageiros de Luz a trazer-nos alívio e força para prosseguirmos a jornada.

Se o leitor amigo teve oportunidade de ler a obra “Nosso Lar” (André Luiz / F.C.Xavier), haverá de se lembrar dos relatos de André quanto aos sofrimentos acerbos por que passou nas zonas inferiores do Plano Espiritual.

Enquanto encarnado conquistara títulos universitários, tornara-se médico, casara e tivera filhos. Desfrutara de uma vida de felicidade, mas não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara em sua alma, preocupando-se apenas com o bem estar material.

Após seu desencarne, perambulou por oito anos em ambientes sombrios, passando por toda sorte de aflições, até que um dia, chegado à exaustão dos sofrimentos, começou a pensar que deveria existir um Autor da Vida; ideia essa que lhe trouxe um pouco de conforto. “E quando as energias lhe faltaram de todo, sentindo-se absolutamente colado ao lodo da Terra, sem forças para soerguer-se, pediu ao supremo Autor da Natureza que lhe estendesse mãos paternais, em tão amargurosa emergência”.(1) E nesse estado permaneceu ele por um tempo que não saberia dizer, com o rosto banhado em lágrimas.

Foi nesse instante que as sombras se dissiparam à sua volta, e surgiu à sua frente um emissário dos céus, que fixando nele seus olhos lúcidos, lhe falou:

“Coragem, meu filho! O Senhor não te desampara”.

Caro leitor, detive-me nesse momento especial para uma vez mais ressaltar a eficácia da oração quanto ao reconforto e paz interior que provoca.

O pensamento voltado ao Criador foi o sublime fio de luz que mudou a paisagem interior do venerável André, embora o local em que se encontrava continuasse a ser paragem de sombras e angústias infinitas.

Começava para ele um novo ciclo de aprendizagem e transformações, que lhe custariam muitos sacrifícios, mas desta vez com o amparo e proteção dos Mensageiros do Cristo, sob os desígnios do Senhor.

Exteriormente, à sua volta, os sítios eram tenebrosos; a morte continuava a representar a dolorosa separação dos familiares queridos; provas e expiações seriam inevitáveis na luta difícil do aprimoramento íntimo, mas, com a visão espiritual iluminada por dentro, sentia-se refeito e confiante na proteção do Senhor.

Por mais difíceis sejam as nossas provações, mantenhamos o hábito da oração, a fim de que nossas forças sejam restauradas e possamos seguir em frente.

 

Yvone

 

Fontes consultadas:

(1) Nosso Lar – André Luiz / F.C.Xavier – cap. 2

Religião dos Espíritos – Emmanuel / F.C.Xavier – cap. 31

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