Se você tem algum animal de estimação em casa, ele faz parte dos mais de 132 milhões de indivíduos (em sua maioria, cães e gatos) que povoam o Brasil, segundo dados do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No mundo, os amiguinhos de quatro patas estão em mais de 40% dos lares, segundo relatório da organização britânica Pet Food Manufacturer Association – PFMA. A domesticação de cães, por exemplo, teria ocorrido há doze mil anos, tanto na Europa, quanto no Extremo Oriente, com o objetivo de transformá-los em parceiros de caça e de guarda.
Hoje, estão cada vez mais longe dos quintais e muitos já compartilham a cama de seus humanos. Esse estreito convívio faz com que o dono sempre o considere “muito inteligente”. De fato, a troca de afeto entre bicho e tutor cria um vínculo que parece humanizá-los – no estrito sentido da palavra. Daí a associar os atos repetitivos e instintivos à inteligência humana é um pulinho. Mas enganam-se os que descartam a evolução animal! Ou que estes não sejam dotados de alma!
Em O Livro dos Espíritos[1], lemos que “A inteligência é um atributo essencial do Espírito” (questão 24), mas Inteligência e Espírito não são sinônimos. Que “O instinto é uma espécie de inteligência, uma inteligência não racional, e é por esse meio que os seres provêm as suas necessidades” (questão 73). Que a inteligência animal, capaz de lhe dar certa liberdade de ação, com um princípio independente da matéria, “É também uma alma, … porém, é inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem tanta distância como entre a alma do homem e Deus” (questão 597).
Assim, a alma dos animais não diferiria da humana, senão por encontrarem-se em diferentes estágios evolutivos e, principalmente, porque a inteligência animal se restringe ao material, enquanto a do homem lhe concede o patrimônio moral (questão 604). Entretanto, os Espíritos atrasados são igualmente necessários para a harmonia planetária, pois “…ensaiam para a vida e antes de terem a plena consciência de seus atos e seu livre-arbítrio, agem sobre certos fenômenos dos quais são agentes inconscientes… É assim que tudo serve, tudo se coordena na Natureza, desde o átomo primitivo até o Arcanjo que, ele mesmo, começou pelo átomo” (questão 540).
Fica claro que há evolução e que há reencarnação (compulsória e quase imediata). Lembremos da cadelinha Boneca, pertencente a Chico Xavier, que ao ouvir do nobre espírita que estava “cheio de pulgas”, começava a coçar seu peito. Após perdê-la, já bem idosa, Chico ganhou uma filhotinha idêntica. No primeiro contato, chamou-a pelo nome de Boneca, fez a mesma brincadeira e o animal repetiu exatamente o que a antecessora fazia…
Chico esclareceu que, quando amamos um animal e lhe dedicamos sentimentos sinceros, os Espíritos amigos o trazem de volta para que não sintamos sua falta. Essa passagem comprova não apenas o curto período entre a morte e reencarnação animal, como o vínculo criado entre seres de reinos diferentes, que justificaria até, afirmarmos que o animal é inteligente.
De fato, existe uma classificação entre os integrantes do reino animal, conforme sua evolução. É o que nos apresenta, parcialmente, André Luiz, no capítulo XVIII, do livro Evolução em Dois Mundos. O autor cita que cães, macacos, gatos, elefantes, muares e cavalos estariam em condições superiores por disporem de mais riqueza mental; e que a evolução diferenciada de alguns indivíduos estaria vinculada à presença de ideias-fragmento (a semente do pensamento contínuo que caracteriza a evolução humana). Que a alma animal evolui também através de sucessivas encarnações e que, ao atingir o ápice de seu reino, pode ingressar no subsequente (no caso, o hominal).
A inteligência animal, mesmo vinculada ao aspecto material, pode ser a explicação para fatos recentes envolvendo animais aquáticos e homens, em diferentes situações. A imprensa já noticiou o caso de golfinho que interagiu com um mergulhador para pedir ajuda[2], pois se encontrava preso a uma linha de pesca e com um anzol fixado em uma das nadadeiras. Em outro caso, um grupo de golfinhos deliberadamente resolveu escoltar o nadador britânico Adam Walker, diante de um iminente ataque de tubarão branco[3], na costa da Nova Zelândia.
A partir da questão 592 de O Livro dos Espíritos, no capítulo XI, é possível aprofundar o estudo sobre os três reinos (vegetal, animal e hominal), bem como compreender a linha demarcatória entre homens e animais no quesito inteligência. O processo evolutivo entre animais os restringe à mesma espécie (o gato não renasce jacaré). Quando muito, pode apresentar mudanças na raça (notadamente entre cães). Essa relação estreita do animal com o dono também o faz ferramenta para a evolução humana, na medida em que não submete uma espécie intelectualmente inferior a qualquer tipo de tortura.
Se o afeto do dono pelo bicho muitas vezes parece exacerbado, lembremos que ali se exemplifica a prática do respeito àqueles cuja inteligência é limitada, mas não menos importante nessa cadeia evolutiva. “O progresso é uma das Leis da Natureza; todos os seres da Criação, animados e inanimados, a ele estão submetidos pela bondade de Deus…[4]”. Portanto, mesmo que o animal não consiga retribuir em palavras, já que limitada é a linguagem de cada espécie, devolve à sua maneira com lealdade, o verdadeiro amor, constituindo nossa companhia e despertando em nós o melhor sentimento já pregado por Jesus. Agradeçamos pela oportunidade de tê-los em nossa companhia para exercitarmos nossa abnegação em defesa de nossos irmãos animais, em sua trajetória evolutiva. Eles contribuem para nossa evolução moral e espiritual!
[1] O Livro dos Espíritos, IDE, 61ª reimpressão, pág. 40.
[2] https://globoplay.globo.com/v/2610537/?s=0s
[3] https://observatorio3setor.org.br/noticias/golfinhos-protegem-nadador-de-ataque-de-tubarao-branco/
[4] O Evangelho Segundo o Espiritismo, IDE, 365ª edição, pag.43.