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De um modo geral, as pessoas se preocupam em eliminar as doenças que surgem no curso da vida orgânica e chegam a procurar por receitas milagrosas que lhes restituam a saúde no mais curto lapso de tempo.

É importante recordar que existem males de natureza expiatória, como aqueles que afetam a lucidez, a composição orgânica, deficiências sérias, irreparáveis no curso da vida, a exigirem tratamentos especiais e demorados. Tais males acham-se impregnados no DNA da alma, de tal sorte que somente a experiência reencarnatória, em que o corpo físico age como um filtro na limpeza das impurezas mais severas do perispírito, o restabelecerá.

Mas existem outros males que se instalam no curso desta existência, podendo comprometer nosso futuro. É destes que cuidaremos neste estudo.

Está cientificamente provado que a maioria dessas moléstias têm origem psíquica, isto é, procedem da alma em desalinho, mentes em desequilíbrio. Essa desarmonia psíquica tem causas variadas e se projeta sobre a parte do organismo que esteja mais vulnerável.

Problemas cardíacos, hepáticos, estomacais e mesmo no próprio sangue derivam desses desarranjos.

Medicamentos existem em abundância, nem sempre eficientes ante o grau de comprometimento das células físicas, muitos deles viciantes e que transformam o paciente em dependente.

Melhor seria se houvesse uma fórmula que evitasse esses males, porque assim não existiria sofrimento. Mas, se acabamos de dizer que a causa da maioria dos males está nas doenças psíquicas, então a primeira indicação, que serve indistintamente para todas as pessoas de qualquer idade, é evitá-las.

Sabido que elas se instalam malgrado a vontade do agente, insta indagar sobre sua origem. A Ciência revela que sua gênese está em mágoas mal resolvidas, mal assimiladas, que as pessoas alimentam como quem cria um lobo selvagem dentro de si mesmas.

Em estado de graça, isto é, quando o nosso padrão vibratório encontra-se estabilizado, saudável, fruto da harmonia interna, as ofensas e provocações externas não nos devem atingir. É quando não nos ofendemos. As ações caem no vazio, porque não encontraram abrigo. Mas como isso nem sempre ocorre, reagimos na mesma intensidade ou em excesso. Instauram-se mágoa, desafeição, inimizade, com tendência para a raiva, rancor e ódio. Criamos imagens negativas de todo gênero, que são arquivadas em nossa memória celular, prontas a virem à tona a qualquer momento para nos desestabilizar. Está criado um vínculo negativo em nossa existência, um verdadeiro nódulo a tisnar nossa saúde mental, com tendência a se transformar num tumor de grandes proporções e projetar seus efeitos no corpo físico.

Como em qualquer tratamento clínico, é preciso cuidar da causa enquanto se eliminam os efeitos. Quando não, há necessidade de uma intervenção cirúrgica na própria alma, para acelerar a cura.

A receita para tão intrincado processo educativo está no Evangelho, e foi prescrita por Jesus, o mais credenciado Médico das Almas: “Concerta-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não suceda que ele te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao seu ministro, e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá, enquanto não pagares o último ceitil” (Mateus, V: 25-26). A prisão a que se refere a lição são as amarras de nossas próprias imperfeições, que nos algemam à crosta terrestre, impedindo-nos a evolução, tornando-nos devedores de nós mesmos. Implica dizer, precisamos nos livrar delas.

Como a aviar a receita, qual farmacêutico em laboratório de manipulação, Tiago recomenda: “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros para que sareis” (Tiago, 5:16).  A condicionante para a cura, segundo o texto, está na confissão das culpas, processo de mão dupla, que Emmanuel denominou de APROXIMAÇÃO RECÍPROCA E ASSISTÊNCIA MÚTUA, em que “ofensor e ofendido lançam fora detritos psíquicos, aliviando o plano interno dos oponentes.  A cura jamais chegará sem o reajustamento íntimo necessário”. ([i])

Observemos que essa mudança interior, a par de ser a solução, exige maturidade, nobreza de caráter, determinação e vontade. Os maiores entraves para a reaproximação estão na vergonha de se tomar a iniciativa e o receio da rejeição, que fere o orgulho.

À luz da psicologia profunda, o perdão é a superação do sentimento perturbador do desforço, das figuras de vingança e de ódio através da perfeita integração do Ser, sem deixar-se ferir pelas ocorrências afligentes dos relacionamentos interpessoais.

O perdão beneficia principalmente àquele que perdoa, até porque, muitas vezes, o suposto agressor não tem sequer consciência do mal que tenha causado, se é que realmente houve um mal. Às vezes a pessoa nem é propriamente ofendida, mas sim vítima de sua própria insegurança, baixa autoestima, melindre excessivo, prevenção contra o interlocutor etc.

Costumamos resistir à ideia de perdoar, ao argumento de que quem errou deve responder por seus erros e não permanecer impune. Com isso, estamos promovendo a justiça pessoal, colocando-nos na condição de investigadores, acusadores, juízes e carrascos do próximo, em autênticas ações vingativas.

Mas esquecemos que reconciliação pressupõe o exercício do perdão por ambas as partes, o que significa, na prática, eliminação ou pelo menos o arrefecimento do ódio ou das energias malsãs a que o impacto do conflito deu origem, pondo um ponto final à contenda.

Devemos fazer o que estiver ao nosso alcance. Mostrar ânimo reformulado. Tenhamos a alma iluminada em Cristo e a convicção de que a proposta tem duplo propósito: libertador do vínculo malsão e saúde integral dos envolvidos, em preparo para uma vida melhor. Trata-se de atitude de grandeza espiritual, de real sabedoria, de racionalidade madura e de ajustamento com as leis do Universo.

O melhor exemplo de reaproximação de que se tem notícia é o relatado por Emmanuel na obra PAULO E ESTÊVÃO ([ii]), aqui resumida.

A mando de Paulo (então Saulo), o discípulo de Jesus e destacado orador da Boa-Nova, de nome Estêvão, foi aprisionado e sentenciado a ser imolado a pedradas. Mesmo com alguns ossos já quebrados em virtude das pedradas, pouco antes de morrer, este primeiro mártir do cristianismo perdoa a Saulo e abençoa a união dele com sua irmã Abigail. Assim disse: “Saulo deve ser bom e generoso; defendeu Moisés até o fim…quando conhecer Jesus, servi-lo-á com o mesmo fervor…sê para ele a companheira amorosa e fiel”.

Após o episódio da conversão, ocorrido às portas de Damasco, PAULO passou por severos enfrentamentos morais. Durante 30 anos foi assistido e acompanhado pelo Espírito de Estêvão, que passou a renovar suas forças para que ele pudesse executar as tarefas redentoras do Evangelho. Vítima e verdugo se irmanaram no mesmo ideal da divulgação da Doutrina do Cristo, sem que entre ambos remanescesse qualquer ressentimento.  Observamos aqui a eficácia da iniciativa do ofendido.

Importa anotar que de nada adiantam as preces em busca da libertação se permanecermos em contenda com quem quer que seja, porque as amarras psíquicas obnubilam o melhor fluxo mental. É o que se extrai da seguinte advertência: “Se estás fazendo tua oferta diante do altar, e lembrar aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali a tua oferta diante do altar e vai te reconciliar primeiro com teu irmão, e depois virás fazer a tua oferta” (MATEUS, V, 23/24). Em outras palavras, e de forma mais concisa, disse Jesus: “E, quando estiverdes orando, perdoai”, (Marcos, 11:25), comandos que acenam para a paz interior como requisito para uma prece eficaz.

Engana-se quem pensa que a morte nos libertará dos inimigos (desafetos de qualquer gênero). A perseguição perdura nos planos do além-túmulo, pois é a sintonia de sentimentos que mantém os litigantes unidos.

Os processos obsessivos perduram até que uma das partes, movida pelo desejo de ajuste, interrompe essa ligação de natureza inferior, autêntico processo de imantação que só se extingue a partir da iniciativa geralmente unilateral de reconciliação, prenúncio do perdão.

A recomendação de Tiago para que oremos uns pelos outros em auxílio no processo de cura tem todo o sentido porque, quando o fazemos, nossas mentes se unem numa atmosfera psíquica favorável à recepção do auxílio da Espiritualidade Maior, que interfere no processo de ajuste entre os então desafetos. Por isso, diante de um entrevero, de uma discussão mais intensa, de um dissabor nas inter-relações, tenhamos a sensatez de orar para dissipar as energias densas acumuladas, para que elas não se reproduzam, nem em nós, nem no semelhante, e para que não tenhamos de carregar essas toxinas mentais por muito tempo, com desgastes para o corpo físico e compromissos espirituais para o futuro.

Em suma, a cura para os males da alma, e, por consequência, de muitos males do físico, depende de nossa disposição de adotar a conhecida e milenar receita prescrita pelo Divino Mestre e, como autênticos pacientes, “ingerir” o remédio que nos restituirá o equilíbrio do Ser integral.

 

Marcus Vinicius

[i] Vinha de Luz – Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier – FEB, n. 157

[ii] Paulo e Estêvão – Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier – FEB

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