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Cadinho ou crisol é um recipiente em forma de pote, resistente a temperaturas elevadas, no qual são fundidos materiais a altas temperaturas. Os ourives o usam há séculos para purificar o ouro (Wikipédia – A enciclopédia livre).

No sentido figurado significa aquilo em que se apuram os sentimentos, que serve para patentear as boas qualidades do indivíduo.

Emmanuel, simbolicamente, identifica-o como instrumento de purificação do Espírito. Diz ele em seu texto intitulado “Cadinho” na obra Religião dos Espíritos, psicografada por F. C. Xavier:

“É assim que voltamos ao cadinho fervente da purgação, retomando nos fios da consanguinidade a presença daqueles que mais ferimos, para devolver-lhes em ternura e devotamento os patrimônios dilapidados, rearticulando os elos da harmonia que nos ligam a todos, na universalidade da vida, perante a Lei.”

É evidente que o nobre instrutor espiritual está se referindo ao processo reencarnatório. Mencionando a Justiça Divina, leciona ele que, enquanto permanecemos na Terra, presos ao equipamento físico, podemos, muitas vezes, cometer abusos e delinquências que escapam à justiça dos homens, mas não à de Deus. Atos de crueldade, ingratidão, ofensas gratuitas são modalidades comportamentais que, cometidas no interior da nossa vida particular, causam dor e sofrimento e às vezes, até a morte das criaturas que dividem espaço conosco.

Não somos levados à reparação pelas leis humanas, mas sim, pelas Divinas, que, na mais pura expressão de bondade nos permite a volta ao convívio daqueles a quem ferimos, de modo a se restabelecer o reajuste.

E o mais interessante disso tudo, é que somos nós que imploramos o retorno ao campo de nossos delitos para o ajuste de contas…

Essa escolha nos é permitida sempre com a supervisão dos Bons Espíritos, que nos orientam os passos a fim de que obtenhamos êxito no intento.

Por essa razão, o lar humano não só é visto como o posto que nos reabastece as forças para o duro empreendimento, mas também o local onde as almas em débito se encontram para os devidos acertos. É comum o reencontro de velhos desafetos, de aversões instintivas, conclamando-nos à renúncia, ao perdão, à tolerância, enfim, ao sacrifício.

Reconhecemos que se trata de uma decisão difícil, mas, necessária para o nosso progresso espiritual.

No que concerne às escolhas, vejamos o que diz Allan Kardec na obra O Livro dos Espíritos, q. 260:

Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida?

“Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. […] Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contato com gente dada à prática de roubar”.

Vemos aí que todos somos colocados no lugar exato, que nos possibilite vencer a tentação e alcançar a redenção.

O mestre lionês nos esclarece ainda, na questão 258 a) da mesma obra, sobre a liberdade e responsabilidade das escolhas:

[…]”Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem como do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade Divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito.”

E prossegue na q. 259:

[…]”Se tomares uma estrada cheia de sulcos profundos, sabes que terás de andar cautelosamente, porque há muitas probabilidades de caíres; ignoras, contudo, em que ponto cairás e, também pode suceder que não caias, se fores bastante prudente”.

Na obra “Ave, Cristo!” de Emmanuel, vinda à luz pelas mãos do venerável médium mineiro Francisco C. Xavier, no cap. I, encontramos preciosas informações sobre a importância e responsabilidade das escolhas que fazemos antes de reencarnarmos, vindo assim ao encontro dos esclarecimentos fornecidos por Kardec aqui pontuados.

A obra mencionada tem como ponto de partida, um pedido de Quinto Varro, nobre romano, feito ao mentor Clódio, amigo de longa data e que já alcançara esferas mais altas da evolução.

Clódio acabara de falar a uma grande assembleia de almas que se preparavam para reencarnar, exortando-lhes a necessidade de não se afastarem do Cristo dado os perigos sutis que iriam enfrentar na crosta terrestre.

Quinto Varro, que já conquistara valores enobrecidos, os quais lhe facultavam ascender a patamares mais elevados, procurara o amigo para que lhe autorizasse a volta ao plano físico, a fim de poder ajudar o filho Taciano, que se achava perdido nas trevas, perlustrando caminhos perigosos, estagnado nas teias dos deuses de pedra, na ambição e no poder desmedido.

Após ouvi-lo com atenção, o ilustre mentor advertiu-o dos riscos dessa empreitada, dizendo-lhe: “Ninguém salvará um náufrago sem expor-se ao chicote das ondas. Para ajudar Taciano, mergulhar-te-ás nos perigos em que ele se encontra”.

Amigo leitor, analisemos juntos a questão.

Se um Espírito que já alcançou um padrão superior de conquistas morais e espirituais, como Quinto Varro, pode, mesmo assim, sucumbir à pressão dos ambientes inferiores em que porventura esteja mergulhado com o propósito de auxiliar um ente querido, o que se pode esperar da grande maioria de irmãos que, como nós, adentram as portas da reencarnação para reajustes graves, dívidas onerosas de um passado remoto, que colocam juntos vítimas e verdugos num mesmo grupo consanguíneo, ou em relacionamentos profissionais e sociais das mais variadas espécies, de sorte que se proceda o crisol das almas no cadinho da purificação?

Não obstante, cabe-nos observar, segundo o relato acima citado, que nem sempre a reencarnação se trata de processo expiatório. Existem almas heroicas que se submetem a grandes dores morais com o único intuito de soerguer aqueles que lhe são caros e se encontram presos aos grilhões das paixões inferiores. “Solicitam a descida aos tormentos das trevas para ajudá-los na travessia da angústia” diz Emmanuel. É o caso de Quinto Varro, por exemplo.

Para quem ainda não leu “Ave, Cristo!”, atrevo-me a dar um “spoiler” de modo a satisfazer a curiosidade do leitor: sim, Quinto Varro, após sofrimentos acerbos, em todos os aspectos possíveis e imagináveis, alcançou o êxito de conduzir o filho a Jesus, encerrando honrosamente o objetivo de sua encarnação.

Por mais inquietante se nos apresente a experiência no educandário terrestre, exerçamos os deveres que nos cabem, com devoção, perdoando e ajudando, compreendendo e amparando, abençoando o cadinho que nos transformará em fiéis servidores do Cristo no vasto campo do mundo.

Yvone

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