O terremoto de 7,8 graus de magnitude que atingiu severamente a Turquia e, com menor número de vítimas, a Síria, no dia 2 de fevereiro, foi responsável pelo desencarne de mais de 40 mil Espíritos. Tragédias dessa magnitude estão relacionadas a resgates coletivos, como bem esclarece o Espírito Emmanuel no livro Chico Xavier Pede Licença.
Ao dedicar o capítulo 19 ao tema Desencarnações Coletivas, o autor é questionado por diversas pessoas sobre o que motivaria Deus, em sua infinita bondade, a permitir a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como as vitimadas por grandes incêndios. A resposta de Emmanuel é a seguinte:
“Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado à Justiça Perfeita. E o Humano, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio. Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente. É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla”.
O esclarecimento vale para diversas situações, da queda de um avião aos desastres naturais, como ciclones, terremotos e tsunamis. Comprometidos com o mesmo tipo de expiação, tais Espíritos acordam em quitá-las de forma coletiva: “Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontros marcados para a desencarnação conjunta em acidentes públicos”.
Em geral, esses Espíritos exploraram e dizimaram comunidades inteiras em proveito pessoal. “Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras. Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos no Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de sangue e lágrimas”, elucida Emmanuel.
Mediante análise desses seres endividados, na Erraticidade, a escolha parece fazer todo o sentido, tendo em vista a gravidade dos males cometidos. “Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidades na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação”. Em comum, os Espíritos envolvidos apresentam um resgate semelhante, em geral relacionado ao tipo de desencarne. Emmanuel arremata: “Faz-se, portanto, evidente que o homem é o autor da maior parte de suas aflições, às quais se pouparia, se sempre obrasse com sabedoria e prudência”.
Vistas apenas sob a ótica do noticiário, as tragédias levam à comoção, pois ainda que desconheçamos a origem de suas dívidas, são vidas ceifadas e muitas outras tantas desabrigadas ou separadas de suas famílias. As causas que levam ao episódio podem ser classificadas entre as que os homens não podem evitar e aquelas que poderiam ter menores consequências, se não houvesse negligência humana. Essa diferenciação é apresentada por Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo[1].
Esses resgates coletivos dependem de episódios dos mais variados graus de intensidade, que estão vinculados à Lei de Destruição, que pode ser Abusiva (quando provocada pelo homem, não enquadrada nas Leis da Natureza), ou Necessária (prevista como essencial para o ciclo natural da vida). Essa previsão nada mais é que um instrumento para a transformação biológica, a renovação e até a melhoria das espécies, como ensina a questão 728 de O Livro dos Espíritos: “Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos”, ensinam os Espíritos Superiores.
Rodolfo Calligaris, em As Leis Morais[2], afirma que a “[…] lei de destruição é, por assim dizer, o complemento do processo evolutivo, visto ser preciso morrer para renascer e passar por milhares de metamorfoses, animando formas corporais gradativamente mais aperfeiçoadas, e é desse modo que, paralelamente, os seres vão passando por estados de consciência cada vez mais lúcidos, até atingir, na espécie humana, o reinado da Razão”. Assim, seria a transformação – e não a destruição – que se daria nesses processos, como complementa o autor. “Tomada como transformação, a norma aplica-se também ao Espírito eterno, indestrutível, mas em contínua mutação, obedecendo à evolução e ao progresso sob os processos mais variados e complexos”.
O homem é, por assim dizer, o maior responsável pelos desastres coletivos, pois não avalia ou ajuíza as consequências futuras dos atos praticados contra a coletividade. E há que haver um acordo junto ao Plano Espiritual para que os envolvidos (vítimas e algozes) concordem em progredir e evoluir.
Agir conforme as regras de Deus, à luz das Leis da Natureza, deixa-nos mais próximos da clareza de nossos atos, impedindo-nos de praticar males que se enquadram na destruição abusiva. Quanto mais esclarecidos estivermos, mais contribuiremos para erradicá-la, como explica Juvanir Borges de Souza, em Tempo de Transição[3]. Já a destruição necessária só será desnecessária quando atingirmos, na Terra, a condição máxima de planeta de regeneração – e, por conseguinte, não houver mais débitos coletivos a serem expurgados.
Vanda Mendonça
[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 27, item 12.
[2] As Leis Morais, 11ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Item: A lei de destruição, p. 90
[3] Tempo de Transição, 3ª ed., Rio de Janeiro, FEB, 2002. Cap. 35 (Lei de Destruição), pag 285).
Muito elucidativo! Obrigada pelo artigo