Que os tempos são chegados é verdade indiscutível, predita pelos Espíritos no capítulo XVIII do livro A Gênese e observada pelo comportamento ético, consciente e solidário de criaturas que se lançam nas mais variadas ações sociais, ambientais, econômicas, sanitárias, religiosas dentre outras, no intuito de promoverem o progresso planetário.
São milhões, talvez bilhões de mulheres e homens de boa vontade, grande parte deles anônimos em suas iniciativas silenciosas de fraternidade, viabilizando a modificação de conceitos, hábitos e projetos nas diversas localidades do mundo onde foram “plantados” pela Providência Divina.
O intuito, como não poderia deixar de ser, é sensibilizar o maior número de criaturas para a marcha inexorável do progresso e a graduação da Terra na ordem de mundo regenerado, através da formação de novas posturas que se mostrem compatíveis com uma sociedade em que o bem superará o mal.
Porém, muitos questionam essa verdade com base nos fatos que presenciam diuturnamente, tanto no âmbito do convívio social, quanto através dos inúmeros foros de informações que tendem a privilegiar os estratos mais gravosos dos acontecimentos, observando as tendências densas que ainda anelamos em nossa intimidade espiritual.
O desrespeito, a apologia à violência como solução de conflitos, as agressões gratuitas, o morticínio abominável promovido por aqueles que, por definição e função, deveriam cuidar e amparar aos necessitados, a depreciação da energética sexual e outros tantos desvios das relações humanas, campeiam pelo mundo exibidos pelas mídias em tempo real, fazendo com que proliferem os questionamentos se, realmente nos dias de hoje, a Terra caminha para a tão decantada promoção planetária.
A partir desse suposto desencontro entre a esperança e o desencanto, entre as ideias do bem, do belo e do justo em face dos ideais de dominação pela ameaça, força e violência, não podemos nos esquecer de que a Lei Divina faculta às criaturas oportunidades de autoconscientização, de controle e superação das suas más tendências, através da reencarnação.
E por força dessa Lei, retornam ao palco do mundo um sem-número de Espíritos travestidos em novas personagens, lutando, porém, contra velhos e enraizados hábitos. As vestes são trocadas com facilidade, observando a beleza da evolução genética das formas, mas o combate real é pela modificação da natureza íntima, pouca que seja, para que não se assemelhem àqueles atores que exercitam os mais variados papéis, da comédia ao drama, sempre do mesmo modo, com os mesmos trejeitos, entonação e abordagens.
Entre os que receberam a oportunidade reencarnatória neste planeta, vez que a marcha do progresso empurra todos à ação redentora, destacam-se os grupos mais retardatários que ainda não alcançaram condições evolutivas próximas da faixa mínima predominante no planeta.
Nem por isso, esses irmãos deixaram de ter os seus passaportes de retorno carimbados, isto porque a Lei lhes assegura a derradeira chance de redenção na Terra, mesmo que as probabilidades pareçam predominantemente contrárias.
O Cristo de Deus exemplificou os objetivos da Lei, através das parábolas que compõem a trilogia dos perdidos (A ovelha, a dracma e o filho pródigo), sintetizando na primeira o imperativo comum a todas elas: “Assim, não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que se perca nenhum destes pequeninos.” (Mateus, 18:14)
E por força da Lei, que já nos beneficiou a todos, os irmãos retardatários na “escada” evolutiva estão entre nós, trazendo, não só a expectativa de algum progresso, como também a sua natureza mais arbitrária, belicosa, indisciplinada, desrespeitosa, viciosa e sensual.
Suely Caldas Pereira Schubert, na obra Nas Fronteiras da Nova Era (Cap. 3), referiu-se às encarnações desses irmãos, reproduzindo esclarecimentos dados por Emmanuel a Chico Xavier, no sentido de que uma multidão de Espíritos que se encontravam retidos nas zonas umbralinas estavam reencarnando na Terra como uma última oportunidade. O ano da revelação foi 1958.
Nesse mesmo sentido, a Folha Espírita de janeiro de 1990, publicou artigo de Karl W. Goldstein, reproduzido no posfácio da obra Sexo e Obsessão (Divaldo Pereira Franco/Espírito Manoel Philomeno de Miranda), relatando o fato de que Chico Xavier, durante o descanso do corpo físico, foi levado a visitar uma imensa cidade espiritual, situada em região de sofrimento.
Acompanhado por Emmanuel, Chico presenciou o desfile de multidões de entidades que “…se esmeravam em exibições de natureza pornográfica, erótica e debochada.”
Segundo Chico, o espetáculo deprimente representava uma grande festa de despedida, porque todos aqueles Espíritos que gravitavam naquela cidade estranha, haviam recebido comando irrevogável e compulsório do Alto para reencarnarem na Terra.
Essa visita ocorreu após a publicação da obra No Mundo Maior (FCX/André Luiz), no ano de 1947.
Finalmente, em obra bem mais recente, Transição Planetária, 2015 (Divaldo Pereira Franco/Manoel Philomeno de Miranda, cap. 3), o autor espiritual relatou que reencarnaram no planeta incontáveis membros de tribos bárbaras do passado, cujas principais características são a crueldade, a ferocidade, a desumanidade, a agressividade, o exotismo e a indiferença emocional.
Esses Espíritos “…permaneceram detidos em regiões especiais durante alguns séculos, de maneira que não impedissem o desenvolvimento do planeta…”
Ora, todas essas reencarnações de irmãos bastante retardatários, ocorridas a partir de meados do século passado, parecem justificar o cenário atual de verdadeiro antagonismo entre o que os Espíritos predisseram sobre a evolução do planeta, em comparação com os quadros de selvageria, barbárie, ódio e licenciosidade que nos chegam ao conhecimento rotineiramente.
Tudo indica que grande parte desses irmãos não remanescerá na Terra ao final da jornada reencarnatória. Como dito acima, as probabilidades não são favoráveis e o seu exílio para planeta inferior à Terra na escala dos mundos é consequência natural da mecânica da evolução, como ocorreu aqui mesmo, em passado remoto, por ocasião da recepção dos degredados de Capela.
De positivo, esses irmãos levarão na memória o progresso tecnológico da sociedade humana e os registros dos cuidados que aqui obtiveram, porque a Providência, por evidente, não os reuniu em guetos com os seus iguais, mas os colocou em células familiares e círculos sociais cujos integrantes, mais adiantados na ordem do progresso, de algum modo os acolheram, apesar de todas as suas circunstâncias.
Ao chegarem à nova morada planetária, primitiva, selvagem e carente dos mínimos recursos que aqui temos em abundância, liderarão os movimentos de progresso material, com base nas memórias que emergirão dos seus registros profundos e da ação dos benfeitores espirituais. Experimentarão sentimentos inexatos e inexplicáveis de um tempo melhor. Terão flashes das sensações de afeto e acolhimento que aqui receberam e sentirão saudades, sem saber do que, assaltados por uma tristeza indizível. Trabalharão por séculos e sofrerão no educandário das dores até que a chama do bem lhes viceje genuína, provocando-lhes o balido de socorro ao Pastor das ovelhas que exultará por reunir-lhes novamente ao rebanho.
Por isso, convém nos acautelarmos ante o cenário aparentemente antagônico em que vivemos, e ao tomarmos conhecimento de mais um desses tristes atos que nos constrangem o juízo crítico, elevemos uma prece sentida ao Alto em benefício dos seus autores porque, definitivamente, eles desconhecem a sucessão de dores e percalços que lhes espera o porvir.
Cleyton Franco