O nome era o mesmo: João; a missão, porém, se diversificava no objetivo: o Batista preparava o caminho anunciando a vinda do Messias; o Evangelista confirmava o caminho destacando a dimensão futura da mensagem cristã que o Cristo trouxera.
Começava assim a transformação da Humanidade.
Os fatos não se deram por acaso.
Chegada a hora e a vez, os desígnios de Deus se fizeram sentir na execução do Plano Perfeito.
João Batista, também chamado de “o precursor”, isto é, aquele que antecipa o que há de vir, adentra o cenário terrestre e reencarna contemporâneo do Cristo. Maria, mãe de Jesus, engravida ao mesmo tempo que Isabel, sua prima, mãe de João Batista.
João e Jesus conviveram parte da infância, separando-se em seguida, para que o curso dos acontecimentos se cumprisse segundo os planos divinos. Somente depois, muito tempo depois, surge nesse cenário de luz, a figura do segundo João, o Evangelista. Sua tarefa era deixar para a posteridade o registro dos feitos que o Cristo Jesus realizara, mas, diferentemente do que fizeram Mateus, Marcos e Lucas, pois seu Evangelho teve como escopo trazer ao mundo a transcendência de Jesus. Enquanto os outros três descrevem o Mestre atuando no mundo, João ressalta o Cristo como Governador Espiritual da Terra, o Espírito mais elevado da hierarquia celeste.
No cap. 1 de seu Evangelho, versículos 6, 7 e 8, João diz o seguinte:
“1:6 Houve um homem, enviado da parte de Deus, cujo nome era João, 1:7 que veio para testemunho, a fim de testemunhar a respeito da Luz para que todos cressem por meio dele. 1:8 Não era a Luz, mas (veio) para que testemunhasse a respeito da Luz”
Caro leitor, estas referências constantes no Evangelho de João, nos levam a profundas reflexões. Se o homem veio por parte de Deus, então era um missionário, e sua missão era testemunhar a Luz. Ora, só pode testemunhar algo, aquele que presenciou, seguiu, acompanhou. Ele mesmo não era a Luz, mas veio para testemunhar acerca do que viu, ouviu, sentiu, conviveu, compartilhou com o Cristo (Luz). Relata suas experiências pessoais e não sobre o que ouvira falar, o que lhe confere autoridade para afirmar que Jesus é transcendente, num patamar de evolução que nós sequer podemos imaginar.
Como propagador, divulgador, apontava, dirigia as pessoas para Jesus.
Na obra Boa Nova, de Humberto de Campos / F.C.Xavier, encontramos a seguinte informação:
“João Batista foi a voz clamando no deserto. Operário da 1ª hora, é ele o símbolo rude da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo, para que o Reino de Deus prevaleça nos corações. Exprimindo a austera disciplina que antecede a espontaneidade do amor, a luta para que se desfaçam as sombras do caminho, João é o primeiro sinal do Cristo ativo, em guerra com as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o santuário de sua realização com o Cristo”.
Aqui, cabe-nos observar importante colocação de Emmanuel: “a disciplina antecede a espontaneidade”.
Antes de adquirirmos a espontaneidade, excelência, maestria numa atividade qualquer, será preciso passar por um processo de treinamento eficaz e rigoroso (disciplina).
Emmanuel diz que João Batista representa esse treino.
Jesus representa a espontaneidade pura, amor verdadeiro, fraternidade natural, perdão sincero…
Ao tentarmos nivelar nossa conduta à de Jesus, nos damos conta de quão difícil é essa tarefa. Esbarramos nas dificuldades de nossas imperfeições, más inclinações, vícios, impulsividade etc., que representam um deserto árido a nos desafiar. João Batista representa o cristão em luta com as próprias imperfeições (disciplina). Ele não é a Luz, mas é um testemunho sobre a Luz. Sua vida de disciplina, sacrifício e esforço é enorme. Sua luta consigo mesmo representa testemunho de que a Luz é boa, que compensa seguir Jesus.
Não há êxito sem trabalho. O êxito é Jesus, o trabalho é João Batista. Não há espontaneidade sem disciplina. A espontaneidade é Jesus, a disciplina é João Batista. Essa é a ideia dos primeiros versículos do Evangelho de João.
Por que razão, no início de seu Evangelho, João dá ênfase à personalidade de João Batista? Certamente para sinalizar o quanto somos infantis no terreno de nossa espiritualidade. Deixa claro que elogios, genuflexões, longas orações não bastam; é preciso agir, partir para o trabalho. Nesse assunto, o objetivo do apóstolo é conectar a transcendência das esferas superiores com a realidade da vida, com o agora, com o cotidiano. O nosso dia a dia é João Batista. Estar no terreno dele significa fazer sacrifícios, abrir mão de muita coisa, adquirir hábitos, estabelecer metas de progresso e transformação espiritual, conscientes de que não se trata de luta em vão, mas de oportunidade ímpar de chegar à Luz (Cristo).
Se João Batista desperta nosso interesse para a disciplina que antecede o êxito, João Evangelista descortina os aspectos espirituais relevantes para a conexão com o Cristo, que promovem o êxito.
Finalizando estes apontamentos, perguntemos a nós mesmos: será que o Cristo ocupa hoje, em nossa vida, verdadeiramente, o papel de modelo e guia das nossas decisões, palavras, sentimentos, da nossa conduta?
É de extrema urgência voltarmos nossa atenção para essa questão. Necessitamos meditar no grande significado da vinda do Cristo à Terra. Óbvio que Ele aqui chegou, não para ser adorado, mas como paradigma a ser seguido. É preciso, portanto, deixarmos ser conduzidos e modelados pelo Seu Evangelho.
Nossa tendência é copiar modelos carentes de luz, presos ainda às esferas mais baixas da evolução.
Tenhamos um olhar diferente para com Jesus como nos propõe João Evangelista, e copiemos Suas virtudes, dentro do que nos faculta nossa individualidade, segundo as características inerentes à nossa natureza, mas sempre tendo em mira o aprimoramento dos potenciais, para que possamos expressar, de alguma forma, os atributos do Cristo.
A cada ano que se renova, nos propomos a ser melhores, mas continuamos andando em círculo. Que neste novo ciclo, iniciando 2023, possamos ter “olhos de ver” e sentir o infinito amor da “Luz” que veio para nos aclarar os caminhos.
A todos, promissor 2023!
Yvone
Fontes de consulta:
– O Evangelho de João – H. Dutra – caps. 7, 8 e 19.
– Boa Nova – H. De Campos / F.C.Xavier – cap.2.