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Nada menos criativo do que deixar para o mês de dezembro um tema tão óbvio, já que, nesta época do ano, tradicionalmente “respiramos” os ares das festividades de fim de ano. E a data por nós conhecida hoje, nasceu de um ato pagão, por volta do ano 274 d.C., quando o imperador romano Aureliano determinou a comemoração do solstício de inverno em homenagem ao Deus-Sol Natalis Solis Invicti (deus-sol invicto).[1] Foi durante o papado de Júlio I que o dia 25 de dezembro foi estabelecido como o nascimento de Jesus de Nazaré, atribuindo ao Cristo a personificação da “luz do mundo”[2]. A declaração de “feriado” coube a outro imperador, Justiniano, no ano de 529 d.C.[3]

Já a “troca de presentes” na noite que antecede o aniversário de Jesus está relacionada aos passos dos três Reis Magos, que seguiram a Estrela-Guia e foram conduzidos até o Filho de Deus e a Ele renderam homenagens significativas, através de suas oferendas simbólicas: Belchior, rei da Pérsia, trouxe o ouro (realeza); Gaspar, rei da Índia, trouxe o incenso (espiritualidade) e Baltazar (rei da Arábia) trouxe a Mirra (imortalidade).

Embora não tenhamos como “provar” a data real de nascimento de Jesus (à época, o calendário que usamos hoje sequer existia), o fato é que a Igreja Católica queria combater a prática do paganismo politeísta entre os romanos e decretou o Cristianismo como religião oficial, substituindo a figura do Deus-Sol pela de Jesus (por meio do Édito de Tessalônica[4]).

Outras imagens foram acrescentadas à data, pelo homem, como a do presépio (por Francisco de Assis), da árvore (por Martinho Lutero) e até do Papai Noel (inspirado no bispo turco São Nicolau, que viveu no século IV). A troca de brindes foi logo usada para alavancar o comércio, e sem qualquer outra razão senão a de ampliar os ganhos materiais dos lojistas.

Seja como for, não há como ignorar que, nesta época do ano, as mensagens natalinas presentes nos meios de comunicação (mesmo que objetivem apenas elevar vendas do que quer que seja) acabam nos despertando para esse Espírito Natalino, capaz de nos mostrar mais humanos, mais sensíveis à dor alheia e até mais fraternos. Mesmo que seja insuficiente aplicar tais atributos apenas em um único dia ou período, vale a reflexão positiva que esse sentimento nos evoca. Uma oportunidade de avaliar nossa própria evolução espiritual; de vivenciar o amor do Cristo em nosso cotidiano; de transformar esses sentimentos nobres em prática diária.

Não que os atos generosos de auxílio ao próximo quadruplicados em dezembro sejam em vão! Mas para torná-los a regra da bondade (e não a exceção), é preciso ressignificar a data em nossos corações. Inspirarmo-nos em Emmanuel: “As comemorações do Natal conduzem-nos o entendimento à eterna lição de humildade de Jesus, no momento preciso em que a sua mensagem de amor felicitou o coração das criaturas, fazendo-nos sentir, ainda, o sabor de atualidade dos seus divinos ensinamentos. A Manjedoura foi o Caminho. A exemplificação era a Verdade. O Calvário constituía a Vida. Sem o Caminho, o homem terrestre não atingirá os tesouros da Verdade e da Vida![5]

As lições de Jesus atravessaram encarnações e continuam atuais, verdadeiros roteiros para a Humanidade, e Sua passagem na Terra foi crucial para a chamada maioridade espiritual dos que aqui viviam, pois com Seu exemplo divino, o Cristo deu o código da fraternidade e do amor a todos os corações, segundo Emmanuel, na obra A Caminho da Luz.[6]

Usemos esse período Natalino como inspiração para a solidariedade, e aproveitemos o exemplo do Mestre para adotar a caridade como ponto de partida. A começar pelo seio de nossa família, como nos mostra o Evangelho Segundo o Espiritismo, no item 3 do capítulo XVII[7], transmitindo desde cedo à criança os valores morais adequados e a busca por nossa melhoria íntima, visando a evolução espiritual.

A Doutrina Espírita traz diversas mensagens sobre o Natal para a reflexão do homem, e o primeiro ensinamento deste Espírito de Luz chamado Jesus foi nos ensinar o verdadeiro significado do amor. O segundo foi nos dar, através da Boa Nova, a perspectiva de que podemos nos aperfeiçoar ao ponto de chegar ao nível Dele, enquanto Espíritos, usando para esse aperfeiçoamento as sucessivas encarnações. E o terceiro foi nos habilitar para aclamar o amor de Deus em nossos corações, exercitando-nos a reforma íntima.

Que o Cristo renasça e reviva em nós todos os dias, e que possamos com Seu amor promover nossa reforma. Que possamos estender a inspiração do Natal a todos os dias de nossas vidas, e que O recebamos com simplicidade e alegria. Que o berço de nossa nova percepção espiritual possa se refletir através da humildade de nossos atos, e que, sintonizados com a mensagem de paz e amor do Cristo, possamos ser os bastiões de Sua luz na escuridão dos que temem Sua verdade, não em dezembro, mas todos os dias de todos os anos, iluminando o caminho da nossa regeneração planetária.

Como diria Emmanuel, (…) É por isso que o Natal não é apenas a promessa da fraternidade e da paz que se renova alegremente, entre os homens, mas, acima de tudo, é a reiterada mensagem do Cristo que nos induz a servir sempre, compreendendo que o mundo pode mostrar deficiências e imperfeições, trevas e chagas, mas que é nosso dever amá-lo e ajudá-lo mesmo assim”.[8]

 

Vanda Mendonça

 

[1] https://mundoeducacao.uol.com.br/natal-1

[2] https://ensinarhistoria.com.br/linha-do-tempo/primeira-celebracao-de-natal/

[3] Andrew Alphonsus MacErlean. The Catholic Encyclopedia: An International Work of Reference on the Constitution, Doctrine, Discipline, and History of the Catholic Church. Robert Appleton Co.; 1912

[4] https://cleofas.com.br/tag/edito-de-tessalonica/

[5] Da abertura do livro Caminho, Verdade e Vida

[6] A Caminho da Luz, pelo Espírito Emmanuel, ed. FEB, cap. 12.

[7] O Evangelho Segundo o Espiritismo

[8] Antologia Mediúnica do Natal. Espíritos Diversos. FEB.

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