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O título é importado da obra do mesmo nome, de autoria de Hank Hanegraaff, editada pela CPAD em 1996, porque outro não seria tão oportuno. O autor, um ex-pastor evangélico, escritor e teólogo norte-americano, conclui que “vivemos tempos em que a verdadeira mensagem da Palavra de Deus está sendo deturpada, promovendo doutrinas que só trazem confusão e instabilidade espiritual”.

Sem a menor pretensão de desafiar esse estudioso, ousamos afirmar que essa deturpação teve início aos 25 anos da morte de Jesus. Enquanto Paulo defendia a pureza dos princípios da Boa Nova, dissociando-os dos rituais prescritos pela lei mosaica, Tiago, irmão de Jesus e líder da igreja nascente, defendia o contrário. Ambos tiveram seus adeptos dentro da mesma Doutrina. Mais tarde, outros insistiam em infiltrar-lhe conceitos e costumes sacerdotais, dentre eles a destinação de lugares honoríficos a comerciantes que se transformavam em benfeitores da igreja; a adoção de sotaina negra (batina); a transferência dos  centros de estudo e prece para templos pagãos abandonados; a adoção da hierarquia cujos cargos passaram a ser providos por decisões internas,  em desprestígio da votação popular; o estabelecimento de dogmas escravizadores; a introdução do crucifixo como instrumento de adoração e muito mais. Tudo, absolutamente tudo, para impressionar os profitentes e encher as vistas. “As almas iam se aproximar a um Cristianismo exteriorizado, modificado, cômodo e acomodador e se habituariam a ele”.([i]) Nesse tempo, que remonta a 300 anos depois de Cristo, ocorreu a transformação definitiva do Cristianismo em Catolicismo, perdendo aquele sua identidade. Logo adveio o Edito de Milão (313), de autoria do Imperador Constantino, reconhecendo a liberdade de culto do Cristianismo.

Consabido que a Doutrina Cristã tem sua origem na mensagem divina implantada por Jesus. Seus ensinamentos foram lançados há mais de vinte séculos, ao longo de cujo tempo milhões de pessoas a ela aderiram. A maioria, contudo, a aceita por tradição familiar; os que a estudam, o fazem superficialmente. ([ii])  Poucos se dão ao trabalho prazenteiro de buscar-lhe a origem e pureza, embora sua essência, ainda que sutilmente distorcida, esteja contida no Evangelho.

A mensagem central outra não é senão a de conduzir os Seres Humanos, independentemente de serem  discípulos, a realizarem em si mesmo o Reino de Deus, ao acentuar “…porque o reino de Deus está dentro de vós” (Luc. 17:20), pondo por terra a teoria de que esse reino viesse de fora, como supunham os fariseus de ontem e insistem os de hoje. Com certeza, esse reino não será imposto coercitivamente a ninguém, porque sua realização é obra de cada individualidade, a seu tempo, à sua própria custa. Não se trata de um território neste ou noutro planeta, tampouco no Céu, mas de conquista íntima, realização pessoal, que se constrói pouco a pouco, ao longo das sucessivas encarnações. Impossível a qualquer Ser adquirir a sublimação numa só existência corporal. Sobre isso, o próprio Jesus deixou mostras ao elucidar que João Batista era a reencarnação do profeta Elias.

Conceitos ensinados por Jesus, como a reencarnação, a imortalidade da alma e a prática pneumática, conhecida como carismas ou mediúnicas, dentre outros  foram escoimados pelas Igrejas que intentaram assumir a paternidade e a exclusividade dessa santa Doutrina e em nome dela dividir o poder administrativo sobre os povos e angariar seguidores, chegando ao cúmulo do absurdo de se defrontarem em campos de extermínio a céu aberto para ter-lhes a primazia (recorda-se a trágica Noite de São Bartolomeu).

Dogmas herdados do judaísmo somados a inúmeras heresias distorceram a palavra do Mestre. Mas o paulatino despertar da mente humana implicou em questionamentos sobre esse Cristianismo impuro, de sorte que nos dias que correm, os adeptos não se comprazem, como antes, em simplesmente comparecer aos cultos e a cumprir os rituais que cada qual desses templos de pedra impõem, porque almejam mais do que isso. Vão em busca do saber espiritual, do conforto da alma, do conhecimento sobre as causas das dores e de como vencer os males que lhes aturdem, de molde a alcançar a paz prometida. De quebra, querem, mais do que nunca, romper a cortina de fumaça que lhes impede de entender o que os espera além da morte do corpo físico, na medida em que o inferno e as penas eternas já não lhes fazem sentido, pela simples análise racional de que Deus, pai amantíssimo e sapientíssimo, não abandonaria filho algum em qualquer circunstância.

Por outro lado, o materialismo que tomara conta da Idade Média, implicando na decadência moral da época, recobra o fôlego com a nomenclatura pomposa de niilismo passivo pós-modernidade, neste início de século, em virtude da oportunização de reencarnações a Espíritos relutantes no erro, dando-nos a sensação de um déjà-vu. Irmãos esses que certamente ainda não estão interessados em religião alguma nem são portadores de religiosidade para discutir essa questão.

Eis porque a frequência a locais de culto vem decaindo acentuadamente, conforme comparativo das pesquisas realizadas por Datafolha entre os anos de 2016 e 2022, publicado na Folha de São Paulo, edição de 30 de junho de 2022, contendo em seu bojo viso econômico. Embora elas alcancem um pequeno período da recente pandemia de Covid 19, a reportagem conclui que essa diminuição pode estar relacionada com o fato de que o exercício da fé pelos indivíduos existe independentemente de sua vinculação institucional, o que finda por ratificar o que se disse acima sobre a relativa maturidade do Homem, que se curva, uma vez mais, à lição de Jesus sobre a oração ser meio silencioso e íntimo de se comunicar com as hostes superiores, tanto mais quando nos templos exteriores a filosofia cristã vem se sustentando infiel à sua fonte divina, pondo o seguidor em notável desconforto. Em contrapartida, o epílogo dessa mesma reportagem vem assinada por Carlos Baccelli com os seguintes dizeres: “O movimento espírita em Uberaba é crescente, novas casas espíritas têm sido fundadas, menores, mas têm sido. Uberaba ainda é muito vista por gente de todo o Brasil em busca de conforto, consolo, às vezes em busca de cura”.

Desde o seu nascedouro, o Espiritismo adotou filosofia alinhada com a do Mestre, e sempre se reporta à pureza de seu Evangelho, não se deixando contaminar por dissidências. Reconhecido como o Consolador Prometido, referido em João, XIV: 15 a 17; 26, essa Terceira Revelação explica todos os feitos de Jesus à luz da Ciência e não deixa o fiel perdido em mistérios nem em dogmas. Ele, o Espiritismo, cuidará de reerguer o Cristianismo das cinzas. É uma questão de tempo. Em vista disso, não sofrerá a evasão dos que lhe são adeptos.  A anotação do médium Baccelli sobre o acolhimento das Casas Espíritas se estende a todas as instituições mundo afora, não somente àquelas situadas em território mineiro. Continuemos confiando e aguardando.

Marcus Vinicius

[i] Esquina de Pedra (A) – Wallace Leal V. Rodrigues – Editora O Clarim – 1ª edição, pág. 211

[ii] Cristianismo: a mensagem esquecida – Herminio C. Miranda – Editora O Clarim – Cap. IV – pág. 304/308

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