Define-se percepção como faculdade de adquirir conhecimento por meio dos sentidos.(1)
O Ser humano, embora detentor de tão formidável condição, ainda não atingiu o total desenvolvimento desse potencial, acostumado que está a fazer uso apenas dos sentidos físicos no registro de suas experiências diárias na vida de relação. Estágio esse que o mantém embrutecido e estacionário na escalada evolutiva que lhe compete alcançar.
Gasta, por vezes, todo um período reencarnatório andando em círculo, de visão e audição estreitas para as realidades da verdadeira vida. Desencarna, quase sempre, sem nada acrescentar ao seu espírito imortal. E em decorrência do desinteresse mental e espiritual que o domina, pouco compreende dos enfoques ocultos contidos nas lições que a vida oferece, somente perceptíveis aos que se interessam por elas. A estes, podemos dizer que conseguem enxergar além do que a matéria permite. São os que na expectativa de fornecer à alma conhecimentos que a coloquem acima do que é banal, passam a fazer uso de um campo sensorial diferente dos que lhes caracterizam o corpo material; identificam as circunstâncias com os olhos e ouvidos do Espírito, com a consciência. Trata-se de um mecanismo que opera em conjunto, na interação do exterior com o interior, permitindo a percepção da vida nos seus aspectos visível e invisível.
O homem sempre reage aos estímulos que se lhe deparam nas diversas situações do cotidiano: sorri e se toma de felicidade quando lhe são agradáveis, quando favorecem suas esperanças, ou sente-se deprimido, inseguro, magoado, irado, quando ferem seus sentimentos ou princípios.
Há cometimentos, entretanto, que lhe provocam sensações indefiníveis: o comportamento estranho de alguém, por exemplo, o incomoda, mas não sabe dizer exatamente o quê causa esse incômodo… e não se detém a refletir sobre a origem desse desconforto. Se adotar a prática de observar suas reações aos estímulos, dando-lhes um significado, estará abrindo portas para um entendimento interior em relação àqueles fatos. Esse processo o auxiliará na renovação de seus valores (reforma íntima), mas, ao mesmo tempo, esse olhar interno, por vezes, passa a incomodá-lo quando lhe dá a perceber que aquilo que critica no outro é comportamento de origem própria.
O Evangelho do Cristo Jesus é roteiro seguro para o desenvolvimento dessa percepção interna. A Doutrina Espírita é chave que abre portas para o conhecimento mais apurado dos fenômenos que escapam aos sentidos materiais. Tomar posse desse entendimento predispõe o mundo íntimo a atuar sob uma nova ótica perceptiva, transformando e recriando velhos conceitos. Passa, o homem, a submeter seu Espírito a uma análise criteriosa que lhe permite compreender o quanto a mente nos seus julgamentos, comparações, defesas e explicações, pode influenciar não só a própria vida, como a do semelhante, e até do Planeta, uma vez que a egrégora terrestre é composta pelas criações mentais de sua Humanidade.
Dessa forma, ao sentir raiva, inveja, ciúme, mágoa, projeta energias densas e tóxicas, que afetam negativamente os irmãos de romagem, além de colaborar na produção de uma ambiência planetária de ordem inferior e extremamente perturbadora.
Esse modo de agir é completamente oposto aos Projetos Divinos referentes à realidade profunda da vida. Essa oposição sistemática, pela falta de uma percepção mais apurada, sutil e sublimada das Leis Divinas, em seus aspectos materiais e espirituais, acaba gerando para as criaturas, um caminho de aprendizado sofrido e doloroso, em consonância com a lei de Causa e Efeito.
Se observarmos com mais atenção a reação que nosso comportamento provoca nos outros, criaremos o hábito de vigiar o material energético que estamos produzindo, pois, seu efeito é determinante da qualidade expressa de nosso Espírito.
Sempre que emoções desequilibrantes nos visitarem a casa mental coloquemo-nos em estado de alerta procurando entender o lado oculto delas e combatê-las no nascedouro, evitando desse modo a permanência nas zonas inferiores da vida.
De capital importância, pois, o desenvolvimento da percepção investigadora de nossas atitudes: por que eu me comporto dessa forma? O que foi que eu disse, para que os ouvintes tivessem uma reação de revolta? Por que a fala de um amigo desestruturou-me emocionalmente? Esses e outros questionamentos, se analisados com isenção de ânimo, auxiliarão na libertação das energias perturbadoras e apresentarão caminhos que conduzirão aos níveis mais altos da vida; uma espécie de apocalipse (revelação) individual.
Caro leitor, corroborando essa linha de pensamento, fechamos estes apontamentos transcrevendo a resposta dada por Emmanuel, à questão de nº 229 da obra “O Consolador”, psicografada por F.C.Xavier, que diz o seguinte: “[…] Todos os Espíritos encarnados, porém, devem considerar que se encontram no Planeta como em poderoso cadinho de acrisolamento e regeneração, sendo indispensável cultivar a flor da iluminação íntima, na angústia da vida humana, no círculo da família ou da comunidade social, por meio da maior severidade para consigo mesmo e da maior tolerância com os outros, fazendo cada qual, da sua existência, um apostolado de educação onde o maior beneficiado seja o seu próprio Espírito”.
Yvone
Referência:
(1) – Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – Companhia Editora Nacional
“Apocalipse segundo a Espiritualidade” – Samuel Gomes – cap. 1 – Dufaux Editora
O Consolador – Emmanuel / F.C.Xavier – q. 229