No primeiro ano de Sua ação pedagógica, ao longo do inesquecível discurso da montanha (monte Um-Barakât, próximo a Cafarnaum), o Cristo de Deus esclareceu aos hebreus “não ter vindo destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento.” (Mateus 5:17).
Ele referia-se à Torá, conjunto de ordenações cuja autoria atribui-se a Moisés entre os anos de 1.300 a 1.250 a. C.
Formada por 5 livros, a Torá contém 613 mandamentos, grande parte deles relacionados à vida civil dos hebreus, visando regular as relações de família, de comércio, de convívio social, de plantio, de oferendas, dentre outras.
De um lado, trata-se de uma espécie de constituição, provavelmente escrita pelo legislador Moisés, que teria sido educado na corte do faraó Ramsés, recebendo todos os recursos educativos necessários à sua legislatura de tutela dos hábitos e costumes do povo hebreu daqueles tempos remotos.
De outro, cuida-se de um relato histórico das vivências do povo hebreu durante as décadas vividas no deserto.
Obviamente, não era ao conjunto de regras mutáveis e transitórias da legislatura social a que o Cristo se referia, tampouco à história do povo hebreu, por vezes épica, por vezes triste, protagonizada no deserto durante décadas, mas sim à lei irrevogável representada pelo decálogo (10 mandamentos), e as ordenações que lhe eram consequentes.
Era sobre as coisas de Deus, e não de César, que o Cristo veio fazer cumprir ou complementar e, como sabemos, atribui-se ao médium Moisés, a recepção da mensagem vinda do Alto, por determinação direta de Iahweh, Jeová ou o “Eu Sou”, Espírito puro cocriador da Terra. (Evolução em dois mundos, FCX/André Luiz, cap.I).
O próprio Cristo desceu às terras criadas para fazer cumprir a Lei recebida pelo médium Moisés, exemplificando a aliança com Deus (os 4 primeiros Mandamentos), nas inesquecíveis parábolas que tratam das bodas (Mateus, 22: 1-14) e da Grande Ceia (Lucas, 14:16-24), representativas da nossa união fundamental com o Criador, assim como da nossa aliança com o próximo (5º ao 10º Mandamento), firmada nas bases da regra áurea: “E assim, tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles. Porque esta é a Lei e os profetas.” – Mateus 7:12).
E foi Ele quem arrematou acerca da imperativa aliança que devemos formar com Deus e com o próximo: “Toda a Lei se resume a esses dois mandamentos.” (Mateus 22:40).
Ambos os mandamentos (amar a Deus e ao próximo), foram recebidos pelo médium Moisés e constam dos livros que formam a Torá.
O primeiro deles: “amar a Deus de todo o coração, alma e forças, integra o livro Deuteronômio, cap. 6:5.
O segundo deles: “amarás ao teu próximo como a ti mesmo”, consta do livro Levítico, cap. 19:18.
Isto significa dizer que toda a ética da Lei – amar a Deus ou fazer uma aliança com o Criador, e com as criaturas, vivendo segundo as Suas diretrizes, está posta há mais de 3.300 anos, recebida pela mediunidade de Moisés.
Porém, ao lado de fundamentos espirituais essenciais ao processo iluminativo das criaturas, pousam diretrizes absolutamente mundanas e portanto transitórias, de natureza agrícola, ritualística, política, religiosa e até sobre guerras.
É como se condensássemos, em uma única obra, os Evangelhos com os códigos civil, comercial, penal e tributário, além de outras tantas diversas diretrizes, produzindo um conjunto multifacetado que não parece se assemelhar a um livro religioso.
Entendemos que é preciso reconhecer a importância fundamental de Moisés na divulgação das realidades etéreas, assim como é preciso entender as necessidades do legislador e líder de um povo cujo destino lhe foi confiado.
Moisés foi um missionário que veio disseminar a verdade do Deus único no seio do povo hebreu, aquele que mais se encontrava preparado para tanto.
Mas, ao lado da necessidade de comunicar as ordenações do Cristo de Deus, havia outras necessidades de organização de um povo rude e ignorante.
Por isso Moisés foi, também, um legislador duro, inflexível, rigoroso e, por vezes violento.
Estabeleceu normas inusitadas e extravagantes que foram levadas à conta do próprio Criador, naturalmente visando dar maior autoridade às determinações do legislador Moisés e de sua necessidade de estipular as bases iniciais da sociedade israelita, liberta dos egípcios.
Porém, mesmo se tratando de normas claramente mundanas como, por exemplo, a determinação de Iahweh para que o povo hebreu promovesse guerra santa contra Madiã para vingá-Lo (Números, cap. 31-3), todo esse conjunto de regras foi tido e havido, integralmente, como um testamento (o primeiro), sem qualquer distinção entre o que era de Deus e o que era do homem – e nos parece haver muitas coisas criadas por Moisés, sem qualquer vinculação com os comandos do Alto.
E assim, passaram a conviver no mesmo espaço e obra, a aliança por amor a Deus e ao próximo, com a determinação de Moisés de matar mulheres e crianças madianitas, poupando-se, apenas as meninas virgens que passariam a “pertencer” aos comandantes hebreus (Números 31:15-18).
Essas determinações são comuns nos códigos de guerra e partilha daquela época, sendo, inclusive, título do capítulo 31 do livro Números, mas não nos parece espiritualmente admissível que integrem o livro sagrado, mesmo que, como defendem alguns, representem linguagem simbólica ou figurada a ser revelada a alguns poucos iniciados.
Feitas essas considerações, perfilamos pequena síntese dos 5 livros que formam a Torá, sem qualquer pretensão de exaurir os principais assuntos contidos no velho testamento, ante sua inequívoca variedade.
1.) Gênesis – Relatos da criação do mundo e do homem. Fala da descendência de Caim e Set; de Adão; do Dilúvio; da Torre de Babel; dos patriarcas Abrahão, Isaac, Jacó;
2.) Êxodo – Relatos sobre o nascimento, a missão e a trajetória de Moisés na corte de Hamsés; as 10 pragas; a libertação com a saída dos hebreus do Egito, travessia do mar Vermelho; a recepção dos 10 Mandamentos e a divulgação das primeiras leis religiosas e civis.
3.) Levítico – Conjunto de leis que regulam os procedimentos civis dos hebreus. Amplia o alcance das primeiras leis contidas no Êxodo. Refere-se aos sacrifícios a serem oferecidos (animais puros e impuros); à mulher que dá à luz; às pessoas com lepra; às questões de natureza sexual; à santidade do casamento; às leis morais, religiosas e penais. No capítulo 19: 3-4 e 11-12, alguns mandamentos do decálogo são repetidos. É no Levítico que encontramos a seguinte passagem: 19:28: “Não fareis incisões na vossa carne por um morto, nem fareis figura alguma no vosso corpo.”, o que nos faz afirmar que as tatuagens não eram aceitas no período mosaico, provavelmente porque as mesmas poderiam indicar uma idolatria.
4.) Números – Livro histórico. Narra os acontecimentos que ocorreram com os hebreus durante as peregrinações. Fala sobre o recenseamento do povo no capítulo 1, que se repete no capítulo 26. Amplia a legislação referindo-se aos furtos e ao ciúme. No capítulo 20 encontramos menção ao motim promovido pelos israelitas contra Moisés, e no capítulo 22: 32-34 encontramos o conhecido relato da jumenta de Balaão que vê o anjo emissário de Iahweh.
5.) Deuteronômio – Exorta a obediência, o amor e a gratidão para com Deus, a previsão do castigo aos idólatras e a proibição dos rituais pagãos. Em Deuteronômio o Decálogo reaparece, em uma nova aliança do povo hebreu com Deus, assim como encontramos a Lei sobre o Divórcio no capítulo 24:1: “Quando um homem tiver tomado uma mulher e consumado o matrimônio, mas esta, logo depois, não encontra mais graça aos seus olhos, porque viu nela algo de inconveniente, ele lhe escreverá então uma carta de divórcio e a entregará, deixando-a sair de sua casa em liberdade.”
Posta a Lei em suas múltiplas manifestações, fazemos como Maria, irmã de Lázaro, e escolhemos a melhor parte (Lucas 10:38-42), o néctar do amor vindo das alianças com Deus e com o próximo, deixando as preocupações do mundo a Marta e a quem mais se interessar por elas.
Cleyton Franco