Sempre que o Mestre Jesus se reportava à necessidade da oração como meio de comunhão com o Pai, seus discípulos encontravam dificuldade de compreensão, em razão dos novos conceitos que vieram modificar seu entendimento em relação a Deus, a quem Jesus lhes mostrava como sendo carinhoso e amigo.
Acostumados que estavam com a ideia de um Deus irado e vingativo, Senhor dos Exércitos, era-lhes difícil assimilar a necessidade de comungar com Seu amor através de uma prece.
Dentre os discípulos, João era o que mais sofria com essa questão, confessando-se incapaz de entendê-la. Ansiava por esse encontro com o Senhor, mas, ideias antagônicas impediam-lhe de executar a prece tal como o Mestre ensinara.
Atormentado com esse fato, relata suas hesitações a um amigo, cuja convivência com os essênios dera-lhe melhor entendimento sobre as coisas do espírito. Obtém dele, como resposta, “que toda edificação espiritual se deve processar num plano oculto”. João se confunde ainda mais. Não podia compreender que deveria ocultar o que tinha de mais santo em seu coração.
Com a alma tomada de dúvidas, expõe seus anseios a Jesus que o esclarece, dizendo-lhe que sua falta de compreensão devia-se ao fato de, até aquele momento, ignorar que “cada criatura tem um santuário no próprio Espírito, onde a sabedoria e o amor de Deus se manifestam, através da consciência”.
O Mestre apontou-lhe ainda, observações importantes a respeito do louvor ao Pai, das súplicas e rogativas, do agradecimento, acrescentando que todo Ser que se esforça para operar no bem, seja através das mãos ou do pensamento, esse aprendeu a orar, porque em qualquer circunstância confiará em Deus, na certeza de que a vontade do Pai será sempre justa, mais do que a sua própria.
Para dar ênfase às suas explicações, o Mestre toma por base a Natureza, fazendo-o observar como agem as Leis de Deus dentro dela, e como ela corresponde aos Seus divinos imperativos; e remata o assunto dizendo que é preciso aprender com ela a fidelidade a Deus. Fazia-o crer que o problema da comunhão com Deus através da oração está na edificação do Seu Reino dentro de nós, compreendendo que os atributos divinos também se encontram em nosso íntimo, embora carentes de desenvolvimento.
João mostra-se agradecido, mas, pede-Lhe que numa primeira oportunidade, de forma mais concreta, lhe explicasse melhor o fato de que Deus está dentro de nós.
A oportunidade aconteceu logo no dia seguinte a essa conversa, quando Jesus e João se dirigiam para Jericó.
O trajeto a pé era exaustivo, além do que, a estrada era escassa de belezas naturais devido à aridez da região.
Próximo ao local por onde passavam, avistaram um lavrador cavando um grande poço à beira do caminho, O suor tomava-lhe o corpo, mas ele não desistia do trabalho árduo a fim de encontrar a linfa preciosa.
Jesus, interrompendo a caminhada, perguntou ao trabalhador o que estava fazendo, ao que o interpelado respondeu: “Busco água que nos falta. Ultimamente a chuva escasseia por este local, tornando-se uma verdadeira graça de Deus”.
Enquanto o homem continua seu trabalho, Jesus diz ao discípulo:
“Observa, João, que este homem compreende que sem a chuva não haveria mananciais na Terra, mas não para em seu esforço, procurando o reservatório que a Providência Divina armazenou no subsolo. A imagem é pálida; todavia, chega para compreenderes como Deus reside também em nós. Dentro do símbolo, temos de entender a chuva como o favor de Sua misericórdia, sem o qual nada possuiríamos. Esta paisagem deserta de Jericó pode representar a alma humana, vazia de sentimentos santificadores. Este trabalhador simboliza o cristão ativo, cavando junto dos caminhos áridos, muitas vezes com sacrifício, suor e lágrimas, para encontrar a luz divina em seu coração. E a água é o símbolo mais perfeito da essência de Deus, que tanto está nos Céus como na Terra”.
Caro leitor, assim como a lição clareou o entendimento de João sobre o conceito “Deus está dentro de nós”, hoje, vinte séculos depois deste fato, possamos por nossa vez entender essa realidade e fazer brotar as sementes divinas plantadas em nosso santuário interno, de modo que nossa comunhão com o Pai permita que se instale definitivamente o Reino de Deus na Terra.
Não basta sermos cristãos de boca ou de aparências exteriores, mas sejamos ativos, “cavando poços” nos caminhos áridos das criaturas humanas, fazendo saltar a “água” que existe dentro delas.
Yvone
Fonte: Boa Nova – Humberto de Campos / F. C. Xavier – cap. 19.