A Teoria de Gaia foi formulada em 1960 pelo britânico James Lovelock, um pesquisador independente e ambientalista, nascido em 1919, autor de mais de 200 artigos científicos. Na mitologia grega, Gaia é a deusa que personifica a Terra, mãe de todas as criaturas vivas. Segundo ele e alguns cientistas, a Terra pode ser comparada a um imenso organismo vivo, do qual todas as espécies fazem parte, como se fossem seus tecidos. Esse organismo vem controlando sua temperatura e composição há pelo menos 3 bilhões de anos, para permanecer saudável. Em sua obra([i]), Lovelock alude à evolução constante da vida na Terra, ao mesmo tempo em que aponta a ameaça do Ser humano a esse equilíbrio em virtude da exploração de recursos naturais. O excesso de dióxido de carbono no ar desequilibra o sistema; quando se acrescentam gases de efeito estufa e se substituem florestas por terra cultivável, a situação se agrava. Afirma que o aquecimento global é real e mortal. Com o degelo da Groenlândia e da Antártida ocidental, quase todos os grandes centros urbanos ficariam abaixo do nível do mar. Seriam essas as formas de vingança de Gaia! Cabe ao Homem tomar atitudes urgentes para evitá-la.
A deusa Gaia, que seria a alma da Terra e abarcaria todas as reações da Natureza ocorrentes no Planeta, deu lugar a uma filosofia amparada na Ciência. O princípio inteligente está presente em toda a matéria existente no Universo. No reino mineral desenvolve a capacidade estruturadora – é quando ele estagia na pedra, na água, no ar, e em todos os elementos químicos. Trata-se de agente estruturador da matéria, desde o átomo primitivo até o arcanjo (LDE questão 540). O Fluido Universal, ou primitivo, ou elementar, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. Exemplo fácil de entender: o cristal extraído da rocha apresenta formação geométrica como se tivesse sido lapidado, figura essa que não conseguiria sem o concurso desse fluido que atua sobre o princípio inteligente – que não se confunde com inteligência. Gabriel Delane, apud Hermínio Miranda ([ii]) refere-se às experiências de reconstituição promovidas num cristal parcialmente destruído que, mergulhado na solução própria, retira dela o material necessário e o reordena segundo seu campo magnético específico, nos ângulos e nas dimensões precisas de suas estruturas invisíveis.
Os seres inteligentes da criação, isto é, individualidades espirituais, são dotados de livre arbítrio e estão destinados ao progresso moral, enquanto os elementos primitivos da Natureza são dotados de capacidade estruturadora, como dito acima, mas não somente. Na análise do todo planetário, há de se considerar o dentro e o fora das coisas e dos seres vivos, como o faz Herminio C. Miranda a partir da observação de Annie Besant, (A study in consciousness – Theosophisical Publishing House, 1980) como veremos: “Consciência e vida são idênticas, dois nomes para uma só coisa quando considerada de dentro ou de fora. Não há vida sem consciência; não há consciência sem vida”, para concluir que “o fora” compreende os espaços ocupados pela matéria densa (barisfera, litosfera, hidrosfera, atmosfera, estratosfera, enquanto o “dentro” – que nada tem a ver com o interior do planeta – refere-se à parte psíquica da porção do ‘estofo cósmico’. Em outras palavras, enquanto o fora das coisas é visível, palpável, tem massa, cheiro, sabor, ocupa a mesma dimensão espacial, o fenômeno da vida, inclusive a planetária, começa com a célula, onde o psiquismo habita desde a forma mais rudimentar. Em apoio a essa tese, Hermínio recorda as lições ditadas pela entidade conhecida por “Sua Voz” ao médium Pietro Ubaldi na obra A Grande Síntese: “Toda individualidade resulta composta de individualidades menores que, a seu turno, são agregadas de outras individualidades ainda menores, até o infinito negativo, e é, por sua vez, elemento constitutivo de individualidades maiores, até o infinito positivo”, para arrematar que esse conjunto responde ao apelo da vida ([iii]).
Esses elementos nos conduzem à convicção de que o psiquismo do planeta, ou melhor, a alma primitiva da Terra, desempenha uma função específica de estruturação e preservação para servir de abrigo à Humanidade. Por isso, ela age e reage nos limites de sua capacitação primitiva. A esse primitivismo agregam-se grupos de entidades espirituais na execução de tarefas junto aos elementos da Natureza, sob o comando de outras, observada a hierarquia espiritual.
Nesse ponto, oportuna a Lição de Kardec contida em A GÊNESE – CAP. VIII – ALMA DA TERRA ([iv]) a respeito da existência de uma coletividade de Espíritos encarregados de elaborar e dirigir os elementos constitutivos do Planeta, subordinados a um Espírito ao qual está confiada a alta direção dos destinos morais e do progresso de seus habitantes, Espírito esse que não é propriamente a alma da Terra.
Essa questão é melhor explicada nas respostas dadas pela Espiritualidade a Kardec, sob a supervisão do Espírito Verdade, encontráveis em O Livro dos Espíritos ([v]), que pedimos permissão para sintetizar por economia de espaço. Os grandes fenômenos da Natureza, que de regra objetivam o restabelecimento do equilíbrio e harmonia das forças físicas da própria Natureza, são monitorados por agentes espirituais que cumprem a vontade divina – causa primária de todas as coisas – e que constituem uma categoria especial: uns, meros agentes sem conhecimento de causa, isto é, simples executores que despendem suas energias primitivas; outros, de inteligência desenvolvida, os comandam no que tange às coisas do mundo material; e os que cuidam do aspecto moral.
Depreende-se deste estudo sumariado que o orbe age e reage por iniciativa própria seguindo os princípios que regem sua natureza, sendo monitorado por Espíritos superiores que interferem, se e quando necessário, fazendo-o através de entidades subalternas, para garantia de seu equilíbrio.
À medida em que a Humanidade desafia a saúde dessa grandiosa estrutura, ela responde nos limites de sua primariedade orgânica, servindo de exemplo o degelo parcial das massas glaciais, com o aumento do volume dos oceanos e consequente invasão de água sobre as áreas costeiras; expansão das regiões desérticas, inviabilizando a continuidade de vida orgânica em muitas delas. Quando suas reações naturais escapam de seu controle inanimado, exsurge a intervenção Maior, externa e sempre eficiente, muitas vezes de consequências tormentosas. Contudo, nada garantirá a eternização do planeta como abrigo para a Humanidade, até porque o seu ciclo de vida útil é finito, como finita é a luz dos sóis em torno dos quais gravitam os planetas.
Certo é que o Ser humano, individualmente considerado e as organizações internacionais como entidades morais responsáveis pelos destinos dos povos, devem fazer sua parte para preservar o equilíbrio das forças da Natureza a fim de evitar suas reações e as intervenções espirituais que possam causar aflição para a geração em curso e para as subsequentes.
O cientista brasileiro Antônio Nobre, em live divulgada pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em novembro de 2019, após tecer comentários sobre a harmonia que deve haver entre todas as 37 bilhões de células componentes do cosmo celular humano, em cumprimento à Lei de Amor, destaca que qualquer desalinho entre elas resulta do egoísmo de umas e causa moléstias. Os tempos atuais são de tolerância zero para o egoísmo. Transpondo essa ideia para a imensidão do organismo planetário, de complexa composição, adverte o Homem para a necessidade de urgente tomada de consciência coletiva, eliminando todos os interesses egoístas de qualquer origem e natureza. É o que nos cabe observar, sem tardança, a exemplo do que devemos fazer em relação ao nosso cosmo orgânico individual, porque ambos são preciosos instrumentos concedidos por Deus nesta trajetória evolutiva do Espírito imortal, merecedores de respeito e gratidão.
Marcus Vinicius
[i] Lovelock, James – A VINGANÇA DE GAIA – tradução de Ivo Korytowski
[ii] Miranda, Herminio C – CONDOMÍNIO ESPIRITUAL – Editora 3 de Outubro Ltda – 7ª edição, pág, 106
[iii]Miranda, Herminio C. – ALQUIMIA DA MENTE – Editora Lachâtre – 2ª edição, páginas 40 e 41
[iv] Kardec, Allan – A GÊNESE, J. Herculano Pires, LAKE, 19ª edição, páginas 147/147
[v] __________ – LIVRO DOS ESPÍRITOS – Capítulo IX, Título IX – Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza, perguntas 536 a 540.