Você já observou uma dessas árvores comuns, altaneiras, quando estão repletas de pássaros em seus galhos?
As aves pousadas preenchem os espaços, e mesmo os ramos mais secos parecem ganhar vida com a visita animada dos pequenos seres alados.
O vegetal erguido em direção ao alto ganha movimentos que não possuía. Ganha sons que não era capaz de emitir. A vida se soma à vida.
A árvore nunca foi tão exuberante.
No entanto, sem avisar, sem aparente razão, subitamente todos eles resolvem bater em revoada ao mesmo tempo.
Outro belíssimo espetáculo de se ver.
Coordenados, sem medo, obedecendo a um comando interno que lhes faz desafiar os ares a todo instante, eles voam…
Eles voam, buscando seus destinos, continuando a desempenhar seu importante papel na Criação.
Mas e a árvore? Normalmente nem mais a notamos.
A árvore permanece, agora, aparentando estar vazia, incompleta, sem vida… sem beleza.
Ela sente falta dos passarinhos, dos ruídos, da festa, daquela alegria toda em torno de si.
(Redação do Momento Espírita)00
Pequeno leitor
Há mais de um ano estamos vivendo momentos difíceis causados pela Pandemia. Todos fomos surpreendidos por um vírus terrível que mudou nossa vida.
De repente, nos vimos vivendo uma época em que as pessoas começaram a partir assim, feito revoada, quase ao mesmo tempo. Essa partida tem um nome: desencarnação. As redes sociais permitem que fiquemos sabendo das notícias, instantaneamente: lá se foi um amigo distante, agora o pai de fulano, depois o primo de um amigo…
Quando a “partida” ocorre dentro de nosso lar, nos lembramos que todos nós temos de partir, um dia, e nos sentimos como aquela árvore que “perdeu” todos os pássaros que cantavam e brincavam em seus braços. Ficamos tristes, desfolhados, silenciosos e compreendemos a tristeza dela.
Entretanto, precisamos entender que os pássaros não pertencem à árvore, não fazem parte dela como o tronco, os galhos, as folhas. São visitantes passageiros que moraram em seu aconchego verdejante por um pouco de tempo, antes de seguirem sua jornada pelo espaço sem fim.
Em razão disso, pergunta-se: deverá a árvore sofrer com as revoadas ou alegrar-se com os belos voos de seus amigos passarinhos?
Na verdade ela precisa das duas coisas. Não há mal algum em sofrer. As almas mais sensíveis sofrem a ausência e a despedida. Choram lágrimas de gratidão, das boas lembranças e da falta que as energias de quem partiu lhes faz. Mas, por outro lado, porque amam aquelas pessoas, choram de alegria pela libertação delas, pela beleza de um voo que, sem dúvida, acontecerá para todos, e que representa o final de uma etapa e começo de outra.
É interessante notar que somos ao mesmo tempo, árvore e passarinho: bate a tristeza das revoadas quando fixamos o pensamento apenas nas árvores que ficaram… e bate uma alegria, quando vislumbramos o céu repleto de asas, numa dança incrível e bem desenhada dos pássaros que partem daqui para ali, que continuam existindo e que logo mais pousarão em outras florestas, celebrando a vida que não cessa jamais.