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No nível evolutivo em que nos encontramos, guardamos em nossas mentes a figura simbológica de um macaco que ora pula frenético pelas representações energéticas de nossos neurônios, assim como, por vezes, ingressa em um estado de catalepsia que nos paralisa a ação e as emoções.

Chama-se macaco febril, tanto quando pula de galho em galho, cheio de intensidade, excitação e ansiedade, como quando se entrega à relva aprazível, inerte e sem reação, derrubado pela febre da apatia.

Quando pula, o movimento do macaco febril é desordenado. Ansioso, dota-se da suprema razão à qual todos devem curvar-se, até porque não consegue ouvir senão os sons que ele próprio produz em sua agitação quase incessante.

Quando aquieta-se o macaco febril é só paralisia. Deprimido e melancólico, afasta-se das árvores como quem se afasta do mundo, recusando-se ouvir o gorjear dos pássaros ou testemunhar a alternância dos dias.

A febre do macaco da mente pode ser tanto desassossego, quanto pode ser prostração, e parece intensificar-se nos tempos de crise – a mestra que coloca à prova as nossas conquistas de conhecimento.

É fato que, mesmo em tempo de bonança, o macaco febril cutuca muitas mentes, mas as crises, como essa que vivemos, são os cenários que lhe são mais propícios, tanto às ações frenéticas, quanto ao abatimento; uma e outro gerando consequências no Ser em relação a si mesmo e ao seu próximo.

A tarefa de aquietar o macaco febril é item necessário à evolução que se atinge com o adestramento do pensamento, e o modo com que podemos alcançar esses status não requer o conhecimento, nem de todos os mistérios, tampouco de toda a Ciência.

Nossos irmãos hindus, os primeiros iniciados nas vivências das coisas do espírito, prelecionam que a meditação é poderoso instrumento de contenção dos nossos ímpetos (o macaco febril).

Daí a indicação das práticas do silêncio mental e do isolamento momentâneo do mundo, que objetivam, em um primeiro momento, a equalização da nossa energética e do nosso equilíbrio psíquico, para nos credenciarmos, em um segundo passo, aos intercâmbios mentais benfazejos com as correntes espirituais mais qualificadas, tencionando a captação dos direcionamentos, sob a forma de intuições que emanam das formações do pensamento.

Com esses procedimentos, bem delineados em nosso íntimo, metódica e disciplinadamente repetidos, passamos a figurar no mundo, não mais como agentes da lei de retorno, envoltos em males e dores atrozes, mas sim como artífices do processo libertário individual que reclama o ser cósmico (relativo a Universo), em substituição à criatura telúrica (relativa à Terra).

Joanna de Ângelis, por intermédio de Divaldo Pereira Franco (1), reforça a relevância da meditação como prática habitual a ser seguida pelos encarnados, sugerindo que a meditação deve ser breve, realizada uma ou duas vezes ao dia.

Segundo ela, em um primeiro momento, a meditação deve ser realizada de forma analítica, a partir de uma observação sincera de nós mesmos (carências e problemas), para que, estudando uma questão de cada vez, surjam as soluções pela repetição sistemática da meditação.

Em um segundo momento, deixamos a análise das carências e problemas (mente limpa, sem reflexões ou questionamentos), para experimentarmos a harmonia obtida através da fixação de uma recordação agradável, de uma paisagem, de uma música etc., fixando-nos, apenas e tão somente, na forma mental eleita.

E arremata a elevada companheira: “Uma das diferenças entre quem medita e aquele que não o faz, é a atitude mental mediante a qual cada um enfrenta os problemas. O primeiro age com paciência ante a dificuldade e o segundo reage com desesperação.” (Tomamos a liberdade de incluir a prostração, a outra face do macaco febril).

Mas como fazer vicejar em nós essa vontade-adesão que nos impele à ação meditativa por uma ou duas vezes ao dia, como nos sugere o Espírito de Joanna?

Responde-nos Emmanuel (2), com a fórmula magna da conduta espiritual: “O adágio popular considera que o hábito faz a segunda natureza, e nós devemos aprender que a disciplina antecede a espontaneidade, dentro da qual pode a alma atingir, mais facilmente, o desiderato da sua redenção.”

Ter (tenho!) e dever (devo!) são os verbos que devem ser conjugados no imperativo por todos os que pretendem estabelecer a rotina diária da meditação em suas vidas, como instrumento fundamental de adestramento definitivo dos humores do macaco febril que vive em todos nós.

Para tanto, devemos aplicar à vida mental os mesmos imperativos utilizados no âmbito da vida material.

Acordamos cedo porque temos de trabalhar. Sacrificamos férias, finais de semana e noites de sono porque devemos entregar determinado projeto ou atender a um prazo específico. Realizamos tarefas que nos desagradam porque se exige de nós o cumprimento de metas.

Enfim, comumente nos colocamos em posição de cumprir as nossas obrigações de natureza material pelo simples fato que o não cumprimento nos gera consequências descompensatórias, pois podemos perder o projeto, o emprego, a remuneração, o conceito social, a autoestima etc. E o homem que descompensa sua vida material é, conceitualmente, uma criatura infeliz porque não realizada.

Assim, imprimimos o dever à nossa vontade e acabamos por realizar todas aquelas práticas do mundo material que, a princípio, são contrárias aos nossos desejos. Porém, a repetição dessas mesmas práticas nos torna menos refratários a elas, e acabamos por nos habituar ou a não mais nos incomodar tanto com o seu exercício.

Podemos, e devemos, usar o mesmo princípio em nossas vidas mentais, impondo-nos a disciplina diária da meditação, levando em conta que o macaco febril nos descompensa, nos prejudica e nos despotencializa, ao nos afastar da aceitação/integração familiar ou social e do nosso processo de evolução.

Com ele, pulando de galho em galho ou em sono paralisante na relva, perdemos oportunidades, frustramos projetos e, no mais das vezes, aumentamos nosso tempo de permanência e convivência em lugares e com pessoas que já não mais deveriam fazer parte do nosso cotidiano.

Aceitarmos o macaco febril, sem buscarmos solução de autocontrole mental, é semelhante a deixarmos de ir trabalhar porque resolvemos dormir mais um pouco, ou não entregarmos um projeto por estarmos com preguiça.

Daí ser fundamental acionarmos as teclas “eu devo” e “eu tenho”, também para a vida mental/espiritual para que, através do exercício da meditação, possamos incluí-la no modo “hábito diário”, preparando-nos para o futuro onde imperam a força criadora da vontade e do pensamento.

Não por outro motivo, Léon Denis (3) proclamou: “Sabei que todo o homem pode ser bom e feliz; para vir a sê-lo, basta querer com energia e continuidade. (…)

Dirigi incessantemente vosso pensamento para esta verdade: podeis tornar-vos o que quiserdes ser, e sabereis querer ser sempre maiores e melhores. Está aí a noção do progresso eterno e o meio de realizá-lo; está aí o segredo da força mental de onde decorrem todas as forças magnéticas e físicas. Quando tiverdes conquistado esse domínio sobre vós mesmos, não tereis mais que temer os recuos nem as quedas, nem as doenças, nem a morte; tereis feito de vosso eu pequeno e frágil uma individualidade alta, estável, poderosa!”

Cleyton Franco

(1) O Homem Integral, Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis, cap. 8 -Meditação e Ação

(2) O Consolador, Francisco Cândido Xavier e Espírito Emmanuel, questão 254.

(3) O problema do Ser, do destino e da dor, Léon Denis, Cap. XX – A vontade

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