O personagem do momento, que ocupa a imprensa mundial e constitui tema recorrente em qualquer diálogo, desbancou sem a menor cerimônia todos os seus concorrentes midiáticos. Trata-se de mais um microscópico elemento da Natureza, que desafia a vigilância do Ser inteligente da Criação, pondo-o em polvorosa. Hoje falamos do coronavírus, responsável pelo surgimento de uma infecção respiratória conhecida como COVID-19, de disseminação vertiginosa. Outros igualmente famosos, e talvez mais agressivos do que este, tiveram seus dias de glória, tais como: ebola, HIV, H1-N1, HPV, hepatite, dengue, herpes, papiloma, zika, sífilis. Micro-organismos como as bactérias também podem ser portadores de virulência mortal: tuberculose, streptococcus pyogenes etc, que igualmente tumultuaram o mundo. Vacinas foram desenvolvidas para evitar uns e outros e chegaram a erradicar alguns deles; drogas combinadas combatem eficazmente a maioria. Importante recordar que os primeiros vírus surgiram em nosso planeta há cerca de 3,6 bilhões de anos, um bilhão de anos após o início de sua formação ([i]) e muito antes do surgimento dos primeiros hominídeos, o que teria ocorrido há aproximadamente três ou quatro milhões de anos – salvo controvérsias.([ii])
Certo é que de tempos em tempos esses elementos – mais antigos do que nós – acometem o Ser Humano, desafiando-o das mais diversas maneiras, seja para conduzi-lo a novas descobertas científicas, seja para induzi-lo a buscar em si mesmo as inatas forças psíquicas capazes de fazê-lo suportar esses momentos de aflição posto que cada epidemia ou pandemia, faz eclodir o medo, implica em quase histeria generalizada.
Nesses momentos de pico, dá-se o recolhimento preventivo, impõe-se quarentena, aquartelamento compulsório, como se o vírus fosse o inimigo público número um, capaz de exterminar a Humanidade. Essa hipótese merece ser desde logo descartada, porque, se de um lado o vírus é fruto dos elementos, é mutante e prolifera perigosamente, de outro encontra no homem seu antídoto natural – o antivírus –, de sorte que apenas os mais frágeis sucumbirão a seus efeitos. Convivemos há séculos com a gripe comum, que também é virótica, contagiosa e mata. A Ciência dos homens, que provém de Deus, proverá o equilíbrio. Cabe-nos cumprir as recomendações das autoridades sanitárias. Logo, não há motivo para pânico seja presentemente, seja no porvir.
Superado esse aspecto, e pondo-se de lado as questões de natureza econômica e política que gravitam em torno de qualquer surto, posto não caberem neste pequeno ensaio de cunho meramente espiritual, passemos ao que nos compete desenvolver.
O homem do Terceiro Milênio, que já saiu da infância espiritual, está apto a buscar na razão os subsídios para a observação dos fenômenos da Natureza e concluir que se encontra imerso numa matéria cósmica – fluido etéreo – geradora dos mundos e dos seres. E que nessa ambiência sublime seu corpo vem evoluindo pacientemente no curso dos séculos até que um dia possa o Espírito galgar mundos superiores, onde atmosfera menos densa lhe permitirá habitar veículo físico mais sutil e, por fim, abandonar definitivamente o caminho das formas. É o que se extrai da lição dada pelo Ministro Clarêncio a André Luiz: …”e o delicado veículo do Espírito, nos planos mais elevados, vem sendo construído, célula a célula, na esteira dos milênios incessantes…”([iii]).
Por ora, permanece refém da matéria grosseira deste orbe, a qual é compatível com seu magnetismo espiritual. Conviverá com vírus e bactérias, porque são próprios da Terra, sua morada eleita por força do determinismo espiritual, ou seja, por conta de sua herança no erro, persistência na indisciplina, na ignorância e outras quejandas, que a ela os imanta. Claro que a evolução espiritual tende a aperfeiçoar a atmosfera fluídica da Terra, aplacando a força desses elementos primitivos, de tal arte que, no futuro, eles não terão ambiência para se propagarem junto ao Homem, na medida em que este também não tem motivos para se afligir, sofrer, resgatar, posto regenerado. Mas isso é coisa para milênios.
Enquanto isso, impõe considerar que somos todos Espíritos aprendizes, muitos de nós decaídos de superiores formas de consciência ([iv]), porque quebramos a harmonia com a Lei divina, desequilibramos a contabilidade cósmica com nosso orgulho, vaidade, egoísmo e precisamos reparar erros ao mesmo tempo em que perseguimos tropegamente o progresso espiritual. Por isso que, sendo a Lei justa, estamos no lugar certo, enfrentando as dificuldades compatíveis com nossas necessidades de ajuste e conforme o merecimento.
Por fim, importa recordar a lição de Allan Kardec (1868) contida em Gênesis, Cap. XIII, no sentido de que a Terra passaria por fenômenos de mudança de valores visando um mundo melhor, isto é, cumprindo o processo de transição de mundo de expiação e provas para a classe dos regenerados. Logo, faz todo sentido admitir que tais fenômenos ocorrem com certa regularidade como forma de estimular o Ser Humano a acompanhar essas mudanças programadas pela Espiritualidade Maior.
Vista a questão sob esse ângulo, nada do que nos rodeia deve ser causa de aflição, mas de compreensão e ajuste, enfrentamento e superação. Aproveitemos a oportunidade do isolamento legalizado para dedicar tempo útil à reflexão e higienização de nossa casa espiritual, não só para arrumação das coisas materiais que como aquela muitas vezes permanecem desprezadas. Feito isso, tenhamos sempre a atenção redobrada para as coisas do Espírito, mantendo a mente limpa, apta a registrar as boas inspirações do Alto e a acumular as forças capazes de enfrentar todas as adversidades, sem sofrimento, mas com entendimento e agradecimento ao Senhor da Vida pelas sagradas oportunidades de passar pelo cinzel modelador, rumo à regeneração que nos aguarda.
Marcus Vinicius
[i] O HOMEM DA CAVERNA À VIDA ETERNA –Frigéri, Mário – Editora Elevação – 2.019 – pág. 100.
[ii] Idem, ibidem, pág. 212.
[iii] ENTRE A TERRA E O CÉU – pelo Espírito André Luiz – psicografia Chico Xavier – FEB – Cap.XXI – Conversação edificante.
[iv] A GRANDE SÍNTESE – Ubaldi, Pietro – Lake, Cap, XXIX – O universo como organismo, movimento, princípio.
Marcus Vinícius, obrigada pela inspiração!