O tempo é o campo eterno em que a vida enxameia
Sabedoria e amor na estrada meritória.
Nele o bem cedo atinge a colheita da glória
E o mal desce ao paul (pântano) de lama, cinza e areia.
Esquece a mágoa hostil que te oprime e alanceia (mortifica).
Toda amargura é sombra enfermiça e ilusória…
Trabalha, espera e crê… O serviço é vitória
E cada coração recolhe o que semeia.
Dor e luta na Terra- a Celeste Oficina –
São portais aurorais para a Mansão Divina,
Purifica-te e cresce, amando por vencê-las…
Serve sem perguntar por “onde”, “como” e “quando”,
E, nos braços do Tempo ascenderás cantando
Aos Píncaros da Luz, no País das Estrelas! (1)
Ao ressoarem os acordes renovadores da alvorada, o tempo aguarda as diretrizes da forma como será utilizado na arquitetura dos projetos e na consecução das obras.
O tempo dos homens não faz caso e nem distinção em seu mister. Disponibiliza-se a todos em um método igualitário que não segrega ninguém, seja na queda inexorável dos grânulos da ampulheta, seja no compasso ritmado dos ponteiros do relógio.
Houve um tempo que o tempo dos homens era havido como absoluto e uniforme (Isaac Newton). Fluía sem relação com nada externo, nem mais depressa, nem mais devagar, e era tratado como medida de duração.
Cerca de pouco mais de dois séculos após, Einstein uniu o tempo ao espaço no abraço siamês indissociável, transformando-o em uma quarta dimensão, agregada às outras três espaciais (comprimento, largura e altura), e demonstrando que o tempo passa mais rápido para um corpo em inércia e mais devagar quando o mesmo corpo encontra-se em movimento, o que justifica o vocábulo relatividade que identifica a teoria. E se esse corpo estiver em movimento na velocidade da luz (1,07 bilhão de km/h), o tempo simplesmente deixa de passar, o que é algo absolutamente inimaginável para quem tem as horas como parâmetro de duração da existência.
Mas o fato é que o conceito de relatividade do tempo dos homens anda tão vivo entre nós, que nos dias de hoje não há quem não afirme que as horas andam apressadas e que os anos parecem não ter os 365 dias com os quais estamos acostumados.
Há até quem defenda, sem lastro científico, que os dias não têm mais vinte e quatro horas, mas sim dezesseis, por força da modificação do conjunto de frequências das ondas eletromagnéticas da Terra (vide interpretações sobre a Ressonância Schumann).
O certo é que nesta Era de transição planetária há um senso de emergência que nos faz perceber a fluência do tempo em outro ritmo. As horas são as mesmas, mas as zonas mais periféricas das nossas consciências estão sendo “bombardeadas” pelos pulsos da Lei (2), exigindo-nos ação, realização e verificação dos nossos projetos espirituais. São sinais intermitentes e imperceptíveis de que é necessário sermos multitarefas para o cumprimento das nossas propostas, o que gera a sensação de criticidade ante o muito a fazer em face do tempo – Quando a agenda está cheia as horas voam, mesmos sendo as mesmas horas de sempre.
Pietro Ubaldi, através do Espírito Sua Voz, na instigante obra denominada A Grande Síntese (3), socorre-nos sobre essa sensação generalizada de que o tempo está passando muito rápido.
Segundo Sua Voz, o tempo não é a quarta dimensão propugnada por Einstein, isto porque as dimensões se apresentam sempre em trinas ou em conjuntos de três elementos, de forma sucessiva e progressiva porque são infinitas as dimensões, assim como as fases evolutivas.
Para melhor compreendermos esse conceito, relembremo-nos do conhecimento que temos sobre as dimensões espaciais e o mundo tridimensional material: comprimento + largura = superfície (segunda dimensão) + altura = volume (terceira dimensão), o que enfeixa o nosso mundo físico em 3D.
E a dimensão tempo?
Faz parte da tríade seguinte, do segundo sistema, formado pelo tempo (primeira dimensão), consciência (segunda dimensão) e superconsciência (terceira dimensão).
Nesse segundo sistema o tempo não é medida de duração, como entendem os homens, mas sim potência do que podemos vir-a-ser, e é esse questionamento que pulsa em nosso íntimo no corre-corre das horas do mundo em transição. O tempo está em nossas mentes. É uma dimensão mental, assim como as demais que lhe sucedem.
A consciência, segunda dimensão do segundo sistema, responde-nos de forma racional e analítica sobre o vir-a-ser, o que nos dá a sensação de criticidade a que nos referimos acima, enquanto a superconsciência (terceira dimensão), estágio que ainda não atingimos, haverá de nos transmutar em anjos quando realizarmos o mergulho em nós mesmos e encontrarmos os portais íntimos de passagem ao Todo.
Vejamos o que diz a Sua Voz sobre a superconsciência:
“(…) trata-se de mudar-vos a vós mesmos. Não mais o lento e imperfeito mecanismo da razão, mas intuição rápida e profunda. Não mais projeção da consciência para o exterior, por meios sensórios que tocam apenas a superfície das coisas, mas expansão em direção totalmente diversa, para o interior: percepção anímica direta, contato imediato com a essência das coisas” (4).
Na superconsciência dos anjos o tempo e a consciência se diluem no volume e tudo lhes é presente, o que auxilia entender a menção contida na Codificação: “Só para os Espíritos que já chegaram a certo grau de purificação, o tempo, por assim dizer, se apaga diante do infinito” (5).
Como criaturas encarnadas vivemos em um mundo físico tridimensional, mas as nossas mentes ainda se debatem na bidimensionalidade do tempo e da consciência, vivendo a superfície do homem, na expectação de concretizar o volume do anjo.
É claro que ainda muito nos falta para as “asas” da pureza, mas convém que estejamos atentos às sucessivas oportunidades que se oferecem em nossos caminhos a esse fim, invariavelmente consubstanciadas nas demandas apresentadas por aqueles que convivem conosco e são verdadeiros passaportes para a nossa angelitude.
Por isso é prudente que, antes de respondermos a essas demandas que nos são apresentadas pelos outros com a tradicional frase: “não tenho tempo”, reflitamos sobre a dimensão tempo e o seu significado.
Não ter tempo significa renunciar a vir-a-ser; resulta em abrir mão da potência de anjo, porque não há volume sem superfície.
Daí ser fundamental analisarmos se as horas escasseiam de fato, ou se não estamos carentes de método ou de boa vontade em sua utilização diária.
Falta-nos método na administração das horas? Façamos uma resenha e anotemos o que, de fato, produzimos ao longo do dia, avaliando se não deixamos oportunidades escorrer por entre os dedos em razão de deleites estéreis ou ocupações vazias, tão frequentes nos dias de hoje, colocando-nos em resoluta posição propositiva, ao invés de recalcitrarmos na negação gratuita.
Carecemos de interesse, paciência ou tolerância para servir? Lembremo-nos da inesquecível frase de Emmanuel, segundo a qual “a disciplina antecede a espontaneidade” (6), obrigando-nos à ação fraterna até que a ação fraterna integre-se definitivamente em nossos procedimentos.
Nos dias vindouros em que comemoraremos o nascimento de Jesus e a renovação do calendário, nada mais oportuno do que firmarmos compromisso com o nosso vir-a-ser, o primeiro estágio a que todos nos submetemos no sentido da autoiluminação.
Assim agindo, contentaremos o Aniversariante que nos verá seguindo os Seus passos, alegraremos os que nos são próximos, pois se sentirão acolhidos e, sobretudo, exultaremos conosco mesmo por mais um passo dado rumo às “asas” em potência, que nos aguardam respeitando o nosso próprio tempo.
Que a paz de Jesus esteja em nossos lares nas festas natalinas e em todos os dias do ano de 2020.
Felizes oportunidades!
Próspero vir-a-ser!
Cleyton Franco
(1) Parnaso de Além Túmulo, Francisco Cândido Xavier/Espírito Amaral Ornellas, págs. 84/5, 11ª edição, 1982, FEB
(2) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 621.
(3) A Grande Síntese, Pietro Ubaldi, Caps. XXXIV a XXXVII, págs. 120 a 131, 2ª edição. Edt. Lake, 1951.
(4) Ibidem, Cap. XXXVII, pág. 129.
(5) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 1005.
(6) O Consolador – Francisco Cândido Xavier/ Espírito Emmanuel, questão 254.